Canaã

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Ana Carolina de Sousa
publicado em
Disponível : Inglês, francês, Persa, espanhol, Turco
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Gilded Canaanite Deity (by Metropolitan Museum of Art, Public Domain)
Divindade cananeia dourada
Metropolitan Museum of Art (Public Domain)

Canaã era o nome de um grande e próspero país antigo (às vezes independente, em outras tributário do Egito), localizado na região do Levante, atual Líbano, Síria, Jordânia e Israel. Era conhecido também como Fenícia. A origem do nome Canaã vem de vários textos antigos, e não há um consenso acadêmico sobre precisamente onde ele se originou ou que significado tinha.

De acordo com a Bíblia, a terra foi nomeada devido a um homem chamado Canaã, o neto de Noé (Gênesis 10). Outra teoria cita Canaã como tendo derivado da palavra da língua hurrita para 'roxo' e, como os gregos conheciam os cananeus como 'fenícios' ('roxo' em grego), e como os fenícios trabalhavam com tintura roxas, essa é a explicação mais provável. A teoria também tem avançado no sentido de que o nome vem da raiz do verbo hebreu kana, que denota ordem do caos, uma mistura, ou uma existência síncrona. Os estudiosos J. Maxwell Miller e John H. Hayes não atestam nenhum significado definitivo para o nome, citando antigas fontes que o usaram simplesmente como nome de um lugar:

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O nome Canaã aparece em vários textos antigos do Egito e da Mesopotâmia. Nos textos egípcios, Canaã parece ter sido usado para designar uma província do Egito na Ásia. Na Bíblia, Canaã poderia se referir a toda a Palestina ao oeste da Jordânia, a herança ideal dos hebreus; mas também podia se referir a áreas mais restristas, em especial a faixa costeira da Palestina. Correspondentemente, os escritores bíblicos se referem, de modo ocasional, à toda a população indígena da Palestina como cananeus (logo, intercambiavelmente com 'amorritas'). Em outras ocasiões, eles parecem distinguir os cananeus e amorritas de outros grupos entre os ocupantes da Palestina. (38)

A habitação mais antiga na região aconteceu ao redor da cidade de Jericó, durante o Paleolítico, e essa comunidade rural inicial então se desenvolveu até se tornar uma cidade, que é o centro urbano mais antigo na região (e, indiscutivelmente, do mundo). Outras cidades se desenvolveram durante a Idade do Bronze, mas foram abandonadas, provavelmente por causa de superpovoação, e as pessoas retornaram a um estilo de vida agrário por alguns anos. Cidades surgiram novamente durante a Idade do Bronze Médio, que viu o desenvolvimento do comércio com outras civilizações e, mais notadamente, o Egito. Canaã (também mencionada como Fenícia nessa época) continuou a prosperar até c. 1250 - c. 1150 a.C., durante o então chamado Colapso da Era do Bronze. Os livros bíblicos de Josué e Números atribuem a destruição de Canaã ao general hebreu Josué e sua conquista, mas essa alegação tem sido refutada por estudiosos modernos.

Phoenician Religious Sacrifice
Sacrifício religioso fenício
O.Mustafin (Public Domain)

Seguindo a agitação de c. 1250 - c. 1150 a.C., no entanto, os hebreus (israelitas), a quem diz-se que Josué deu a terra, povoaram a região e estabeleceram os reinos de Judá e Israel. Esses reinos duraram até a região ser conquistada, sucessivamente, pelos assírios, babilônios, persas, por Alexandre, o Grande, os selêucidas e o Império Romano.

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Cultura & religião

Os povos indígenas da terra de Canaã nunca foram um grupo étnico unificado nem adoravam os mesmos deuses da mesma maneira. O termo cananeus é usado para se referir aos povos que viviam na terra de Canaã, mas desconhece-se se eles compartilhavam uma língua em comum ou uma visão de mundo. Os fenícios, por exemplo, eram cananeus, mas nem todos os cananeus eram fenícios.

Na religião, eles adoravam a muitos deuses, mas os principais, entre todos, estavam o deus El, a deusa Ashera (associada a Astarte) e seu consorte Baal, além de divindades sumérias como Utu-Shamash. Baal e Ashera são considerados, inicialmente, como divindades da vegetação/da fertilidade, que então ganharam atributos mais impressionantes dos deuses sumérios, como Enlil e Ninlil ou Enki e Ninhursag. Entre as outras divindades adoradas estavam um deus menor chamado Yahweh, que, segundo estudos recentes, pode ter sido um deus cananeu da metalurgia. Ritos religiosos incluíam sacrifícios humanos (especialmente de crianças), conforme o entendimento de que os deuses só davam o melhor às pessoas e assim elas deveriam retribuir oferecendo o seu melhor a eles.

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Não há registros de nenhum rei governando uma nação unificada, APENAS de homens governando suas próprias cidadeS-estado & a terra QUE CONSEGUIssem MANTER AO REDOR.

As mulheres podiam servir, e serviam, como sacerdotisas, podiam possuir terra, participar de contratos e se divorciar, tudo espelhando os valores culturais da Mesopotâmia. Cultos da fertilidade eram numerosos, e oferendas de pão e grãos eram feitas para Ashera e seus vários avatares regionais a fim de aumentar a fertilidade e ter crianças saudáveis. Sacrifícios humanos não parecem ter desempenhado um papel nos cultos de fertilidade e, além disso, desconhece-se sob quais circunstâncias uma comunidade sacrificaria um dos seus.

Não há registros de nenhum rei governando uma nação unificada, apenas de homens governando suas próprias cidades-estado e a terra ao redor que conseguissem manter. Dependendo da força de um governante de uma cidade, e os recursos dela, uma comunidade prosperaria ou falharia. Por volta do segundo milênio a.C., por exemplo, Biblos era uma grande exportadora de cedro do Monte Líbano e de papiro para o Egito, bem como outras nações, e conseguiu florescer devido a uma administração governamental eficiente e amplos recursos.

Biblos, de fato, é provavelmente a mais famosa das cidades cananeias, até mesmo sem nunca ter se ouvido falar dela. O nome da Bíblia vem do grego byblos, livro, uma referência à cidade que supria as vizinhas com papiro. Tiro era outro grande centro industrial que produzia roupas muito procuradas, coloridas com o corante roxo das conchas Murex, e a cidade de Sidon, também engajada em um comércio similar, era um grande centro de aprendizado. A rivalidade entre Tiro e Sidon garantiu produtos de alta qualidade para ambas até Tiro, eventualmente, monopolizar o negócio de têxteis.

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Phoenician Small Ship
Pequeno barco fenício
Marie-Lan Nguyen (Public Domain)

A região prosperou por meio do comércio devido a sua localização. Era o terminal em Gaza para as Rotas de Incenso que saíam do Reino de Saba, na Arábia, para então se dividir em vários cursos acima através da Mesopotâmia e abaixo pelo Egito. Era também um nexo de comércio entre a Mesopotâmia, o Egito e a Líbia. Os cananeus-fenícios eram construtores navais especialistas e marinheiros participavam diretamente do comércio, compartilhando seus valores culturais com outras nacionalidades e importando outros.

Os cananeus-fenícios desenvolveram o primeiro sistema de escrita alfabética, aprofundaram os princípios matemáticos da Mesopotâmia, eram reconhecidos no mundo antigo por sua habilidade na construção de navios e em navegar os mares, e também eram citados como a fonte ou a inspiração mais antiga para a mitologia dos deuses gregos. O alfabeto, no entanto, é considerado sua maior conquista, como observado pelo estudioso Marc van Mieroop:

O papel dos fenícios em espalhar o alfabeto é reconhecidamente sua maior conquista. Tendo preservado o uso da escrita na Era Sombria após 1200, os fenícios inspiraram todos os sistemas de escrita alfabética de seus vizinhos. No Oriente Próximo, as escritas dos hebreus e aramaicos derivaram dos fenícios. De importância maior para a Europa foi a adoção de um alfabeto fenício pelos gregos, seja diretamente deles ou por intermediários na Síria e Anatólia. As fontes clássicas foram claras quanto a isso: os gregos chamavam suas letras de fenícias. (222)

Os cananeus-fenícios navegaram pelos mares tão longe quanto a Espanha e tão ao norte quanto a atual Cornwall, na Inglaterra, e suas cidades cresceram, devido ao seu comércio próspero, tornando-se lugares de esplendor e riqueza. Tudo isso veio depois, todavia, seguindo seu envolvimento no comércio com outras nações. No começo, as pessoas eram nômades, muito provavelmente tendo migrado para a região vindo da Mesopotâmia.

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Phoenician Oblelisk from Cyprus
Obelisco fenício de Chipre
Osama Shukir Muhammed Amin (Copyright)

História inicial

A habitação humana foi estabelecida na região antes de 10.000 a.C., mas as pessoas levavam uma vida nômade, com assentamentos apenas sazonais (como o local da futura cidade de Jericó). Durante a Antiga Era do Bronze (c. 3000 - c. 2000 a.C.), no entanto, assentamentos permanentes foram fundados e a prática da criação animal, estabelecida antes, se desenvolveu mais ainda. As pessoas eram primariamente caçadores-coletores, já que a terra provou não ser boa para a agricultura. A Enciclopédia Larousse nota como os cananeus nunca foram favorecidos naturalmente para o cultivo de plantações:

A zona de altas colinas entre o Jordão e a planície costeira era seca e infértil. Muitas ondas de pessoas tiveram, todavia, sucesso em alguns pontos. As dificuldades e incertezas de cultivar plantações explicam porque o nomadismo sempre prevaleceu em Canaã [numa época inicial] (81).

Essas pessoas iniciais têm sido designadas como proto-cananeus por estudiosos modernos porque elas não tinham estabelecido ainda uma cultura identificável. Elas trabalhavam a pedra, mas não construíam estruturas e tinham um sistema religioso de crenças, mas desconhece-se do que ele consistia. Elas desenvolveram comércio com outras nações, contudo, antes de 2000 a.C., a região era considerada importante o suficiente para ser absorvida no Império Acadiano por Sargão, o Grande (r. 2334-2279 a.C.) por volta de 2300 a.C.

Durante esse período, centros urbanos surgiram, e o comércio ou aumentou ou foi iniciado com outras nações. A commodity básica parece ter sido cerâmicas e olaria sortida. Depois da queda do Império Acadiano para os gútios, elamitas e amorritas em c. 2083 a.C., esse comércio parou e as cidades foram abandonadas. As pessoas parecem ter retornado a um estilo de vida nômade, agrário, por razões não tão claras, mas possivelmente em virtude do uso excessivo dos recursos ao redor das cidades e à superpovoação.

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Era do Bronze Médio

Durante a Era do Bronze Médio (c. 2000 - 1550 a.C.), as pessoas tornaram a construir cidades. A urbanização e o comércio floresceram, e uma versão inicial do alfabeto fenício foi desenvolvido, o que teria um impacto significativo em outras nações da época e na história futura. Àquela altura, contudo, o cuneiforme ainda era a linguagem escrita do comércio no Oriente Próximo e tem sido dito que os cananeus desenvolveram contatos especialmente fortes com cidades da Mesopotâmia através de acordos comerciais. Miller e Hayes observam:

Em termos de padrões culturais básicos - língua, literatura, perspectivas mitológicas e teológicas etc. - parece ter havido uma relação mais próxima com a Mesopotâmia do que o Egito. A proximidade geográfica com o Egito, por outro lado, significava que a influência egípcia, tanto política quanto cultural, também era um fator constante.(33)

O comércio foi primeiramente estabelecido entre a cananeia cidade portuária de Biblos e o Egito em c. 4000 a.C., e, por volta de 2000 a.C., o Egito era o parceiro comercial mais importante na região. Rituais de sepultamento em Canaã durante a Idade do Bronze Médio espelhavam tanto sepultamentos egípcios quanto da tradição mesopotâmica. A elite das cidades-estado era enterrada com bens funerários elaborados, em cavernas ou tumbas, enquanto infantes e crianças pequenas eram enterradas em casa sob o chão (uma prática mesopotâmica). Evidências arqueológicas e literárias mostram que a cidade de Biblos tornou-se especialmente rica por meio do comércio com o Egito, mas todas as outras cidades-estado se beneficiaram do arranjo.

Phoenician Trade Network
Rede de comércio fenício
Akigka (CC BY-SA)

O comércio entre a nação do Egito e as cidades-estado de Canaã foi interrompido pela chegada de povos semíticos conhecidos como hicsos em c. 1725 a.C. A identidade dos hicsos ainda é debatida, mas eles estabaleceram colônias comerciais de Canaã no Baixo Egito e, por último, controlaram a região até serem expulsos pelo príncipe egípcio Ahmós I, de Tebas, em 1570 a.C.

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A IDADE DO BRONZE MÉDIO É ROTINEIRAMENTE RECONHECIDA PELOS ESTUDIOSOS COMO A "ERA DE OURO" PARA CANAÃ DEVIDO A SUA PROSPERIDADE.

Ahmós I empurrou os hicsos para fora do Egito e os perseguiu de Canaã até a Síria, deixando um rastro de destruição em seu caminho. Parece, baseado em evidências arqueológicas e referências literárias, que os hicsos podem ter tido várias posições em várias cidades-estado cananeias durante sua fuga, e Ahmós I foi obrigado a reduzi-las a força. Antes de sua perseguição, cidades-estado cananeias foram muradas e fortalecidas, mas evidências sugerem uma destruição generalizada por volta dessa época, assim como uma reconstrução posterior.

Idade do Bronze Tardio

Ahmós I, em um esforço de garantir que nenhum povo estrangeiro jamais mantivesse fortalezas no Egito, como os hicsos fizeram, criou uma zona de proteção ao redor de seu país, o que iniciou a era do Império Egípcio (c. 1570 - c. 1069 a.C.). Canaã foi absorvida no império seguindo o retorno de Ahmós I após perseguir os hicsos na Síria. Embora a Idade do Bronze Médio seja reconhecida pelos estudiosos como a "era de ouro" de Canaã, devido a sua prosperidade, a região também prosperou sob o Império Egípcio nos primeiros estágios da Idade do Bronze Tardio (c. 1150-c.1200 a.C.).

Grandes monarcas egípcios, como Hatshepsut (c.1479-1458 a.C.), Tutmósis III (1458-1425 a.C.), Amenhotep III (1386-1353 a.C.) e Ramsés, o Grande (1279-1213 a.C.), para dizer alguns, todos enriqueceram as cidades-estado de Canaã através do comércio e/ou engajaram-se em construir projetos na região. Ainda assim, durante o reinado de Tutmósis III, a paz na região foi ameaçada por diversos grupos de povos referidos como habiru (também abiru), que parecem ter sido uma coalizão solta de foras da lei sem terra e nômades. Embora alguns estudiosos no passado tenham tentado ligar a identidade dos habiru aos hebreus, essa alegação tem sido rejeitada, e é, agora, em geral, aceito que os hebreus vieram para a região mais tarde.

Começando em c. 1300 a.C., toda a região do Oriente Próximo estava em tumulto conforme os governantes assírios, hititas e egípcios procuravam controlar rotas comerciais e conquistar - ou manter - territórios. Por volta de 1250 a.C., alguns eventos catastróficos abalaram Canaã, arrasando cidades e deslocando a população, o que a Bíblia atribui à invasão liderada pelo general Josué (Livro de Josué e Livro dos Números). Embora haja evidências de agitação, as evidências arqueológicas não correspondem exatamente à narrativa bíblica, e os historiadores são geralmente cautelosos em aceitar a conquista como um fato histórico. Ainda assim, elementos das narrativas dos livros bíblicos são considerados plausíveis no sentido de que um grande evento ocorreu na região em c. 1250-1150 a.C., cujos aspectos são interpretados como consistentes com uma invasão militar.

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A narrativa bíblica

Segundo a narrativa bíblica no Livro do Êxodo, o patriarca Moisés liderou seu povo, os israelitas, para fora das algemas da escravidão no Egito e em direção à 'terra prometida' de Canaã, onde seu deus tinha prometido que eles viveriam em paz em uma terra "que mana leite e mel". O Livro de Josué, seguindo a narrativa do Êxodo, conta sobre as campanhas do general israelita Josué na terra de Canaã, subjugando a população com a ajuda, e pelo comando de, seu deus, mais famosamente destruindo a cidade de Jericó. Em seguida à conquista, a terra foi dividida entre o povo de Josué e, com o tempo, os reinos de Israel e Judá foram estabelecidos.

Moses & the Parting of the Red Sea
Moisés e a Separação do Mar Vermelho
Providence Lithograph Company (Public Domain)

Moisés tinha sido direcionado a liderar seu povo a Canaã porque, novamente segundo a Bíblia, essa tinha sido sua terra natal antes de se mudar para o Egito. Abraão, o Patriarca, tinha levado sua tribo para lá, segundo o Livro de Gênesis, vindo da região de Ur, na Mesopotâmia, e, através de seu filho Isaque e seu neto Jacó (também conhecido como Israel), estabeleceu seu povo e desenvolveu uma cultura distinta da dos cananeus.

O filho mais novo de Jacó, por uma série de eventos dramáticos, foi aprisionado no Egito, mas libertado graças à sua habilidade de interpretar os sonhos do faraó e veio a manter uma posição de poder. Ele salvou o Egito e as regiões ao redor da fome por meio da plantação e estoque estratégico de grãos durante os anos de fartura, e Jacó e sua tribo vieram para o Egito em busca de comida. Posteriormente, eles ficaram até, de acordo com o Livro do Êxodo, se tornarem "demais" e, temendo sua força, os egípcios os escravizarem.

Quando o deus dos israelitas os libertou através das Dez Pragas do Egito orquestradas por Moisés, eles retornaram à sua terra natal. A Bíblia então narra a conquista e o despovoamento da região conforme Josué, devidamente seguindo as ordens de seu deus Yahweh, surge vitorioso e estabelece, outra vez, os israelitas na terra.

Israel & Judá

Como observado, estudiosos datam a invasão dos israelitas em por volta de 1250 a.C., e escavações arqueológicas na região têm confirmado algum tipo de distúrbio entre c. 1250 e c. 1150 a.C., o que resultou na destruição de cidades cananeias. Essas ruínas, todavia, nem sempre correspondem às descrições dadas no Livro de Josué e, além disso, os cananeus são regularmente retratados como um povo unificado na narrativa, quando, na verdade, não o eram.

Apesar disso, a destruição das cidades e a ausência de outros desenvolvimentos culturais indicam que algum evento catastrófico, ou uma série deles, impactou significativamente as pessoas de Canaã. O período em que o general Josué supostamente conquistou a terra de Canaã coincide com o período de agitação no mundo antigo da destruição de Troia pelos aqueanos para a queda do Império Hitita, a ruína da grande cidade de Ugarit e o assalto a cidades costeiras pelos misteriosos Povos do Mar. Seja qual for a causa, por volta de c. 1080 a.C., o Reino de Israel tinha sido estabelecido com Saul (c. 1080-1010 a.C.) como rei.

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Map of the Levant circa 830 BCE
Mapa do Levante por volta de 830 a.C.
Richardprins (GNU FDL)

Saul foi sucedido pelo rei Davi (c. 1035-970 a.C.) e seu filho Salomão (c. 965-931 a.C.) e, seguidamente à morte deste, o reino se dividiu em dois, com Israel como o estado do norte e Judá no sul. Em um esforço de consolidar o poder na região e unificar o povo, esses reis (segundo a Bíblia) enfatizaram a crença em uma única divindade, Yahweh, criador dos céus e da terra, e então iniciaram uma crença monoteísta em Canaã. Estudiosos continuam a debater se o monoteísmo foi resultado dos judeus da Monarquia Unida de Israel ou se foi iniciado pelo então chamado "rei herege", Aquenaton do Egito (1353-1336 a.C.). Sigmund Freud famosamente avançou na teoria de que Moisés era um sacerdote de Aquenaton que trouxe o monoteísmo egípcio para Canaã após o êxodo.

Israel foi destruída com a invasão assíria de 722 a.C., depois da qual, mantendo a política assíria, a população foi realocada para cidades na Mesopotâmia e outras pessoas foram trazidas para substituir aquelas na região. O Império Assírio caiu por uma coalizão liderada pelos babilônios e os medas em 612 a.C. Depois disso, Judá foi atacada pelos babilônios, que saquearam a cidade-capital de Jerusalém e destruíram o templo. Outras incursões militares dos babilônios entre 589-582 a.C. destruíram o resto do reino do sul.

Conclusão

Os babilônios, por sua vez, foram conquistados pelos persas sob Ciro, o Grande (d. 530 a.C.), que permitiram aos judeus retornarem à sua terra natal em 538 a.C. Lá, durante a era conhecida como o Período do Segundo Templo (c. 515 a.C. - 70 d.C.), o clérigo revisaria suas crenças religiosas e canonizaria sua escritura para estabelecer o judaísmo como é conhecido atualmente.

O império criado por Ciro foi abalado pelos exércitos de Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), que introduziu a cultura e as crenças helenísticas em Canaã. Seguindo Alexandre, os selêucidas mantiveram a região até a Revolta dos Macabeus, de c. 168 a.C., liderada por Judas Macabeu, que libertou a região da ocupação e estabeleceu a Dinastia dos Hasmoneus. Embora a Revolta dos Macabeus seja tradicionalmente caracterizada como uma luta pela liberdade e a autonomia religiosa, é possível que tenha sido uma guerra civil entre facções de judeus que abraçaram o helenismo do Império Selêucida e aqueles que o rejeitaram, com o rei selêucida Antíoco IV Epiphanes se envolvendo apenas como um aliado dos judeus helenos.

A Dinastia dos Hasmoneus se envolveu em comércio e conflitos ocasionais com o rico Reino dos Nabateus (na atual Jordânia), o que atraiu a atenção de Roma. Em 63 a.C., a região foi tomada por Pompeu, o Grande, durante a República Tardia. Depois, quando Augusto César veio ao poder em 31 a.C., ela se tornou parte do Império Romano e era conhecida como Judeia Romana. As guerras romano-judaicas de 66-136 d.C. despovoaram a região, e o imperador Adriano, com receio de lidar com os judeus, baniu todos eles da região após 136 d.C. e a renomeou Síria-Palestina. A diáspora que se seguiu às guerras e ao édito de Adriano após séculos de conflito similar finalmente obscureceram a identidade dos habitantes originais da terra.

Seja lá quem tenham sido os antigos cananeus, sua identidade foi perdida nas sucessivas invasões por povos estrangeiros interessados em controlar um importante centro de comércio. Seja o que mais Canaã tenha sido, uma terra natal para alguns e uma 'terra prometida' para outros, ela estava estrategicamente localizada para facilitar o comércio. O controle da região e a riqueza que ela poderia gerar eram, portanto, procurados por inúmeros poderes estrangeiros. Na época em que a região fazia parte do Império Romano Oriental, ou Império Bizantino, no século IV d.C., a terra conhecida como Canaã não era mais do que um território estreito na ponta do mar Mediterrâneo, aproximando-se do atual Líbano.

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Sobre o tradutor

Ana Carolina de Sousa
Ana Carolina é tradutora e revisora e graduanda de Tradução pela Universidade Federal de Uberlândia. Ela é apaixonada por línguas e literatura. Em seu tempo livre, gosta de ler e assistir séries históricas.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é cofundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou história, filosofia, literatura e redação. Ele viajou extensivamente e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2018, outubro 23). Canaã [Canaan]. (A. C. d. Sousa, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-162/canaa/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Canaã." Traduzido por Ana Carolina de Sousa. World History Encyclopedia. Última modificação outubro 23, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-162/canaa/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Canaã." Traduzido por Ana Carolina de Sousa. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 23 out 2018, https://www.worldhistory.org/canaan/. Web. 09 jul 2025.