Alexandre, o Grande

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 14 Novembro 2013
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Disponível noutras línguas: Inglês, Chinês, francês, alemão, grego, indonésio, espanhol, Turco
Alexander the Great & Bucephalus Mosaic (by Ruthven, Public Domain)
Mosaico de Alexandre, o Grande, e Bucéfalo
Ruthven (Public Domain)

Alexandre III da Macedônia, mais conhecido como Alexandre, o Grande (v. 21 de Julho de 356 - 10 ou 11 de Junho de 323 a.C., r. 336-323 a.C.) era filho do Rei Filipe II da Macedônia (r. 359-336 a.C.). Ele ascendeu ao trono com a morte do pai, em 336 a.C., e conquistou a maior parte do mundo conhecido na época.

É chamado de “o Grande” tanto por seu gênio militar quanto pelo talento diplomático em lidar com as várias populações das regiões que conquistou. Alexandre disseminou a cultura, linguagem e pensamento gregos pela Ásia Menor, Egito, Mesopotâmia e até a Índia, assim iniciando a era do Período Helenístico (323-21 a.C.). Este processo continuou com quatro de seus generais (seus sucessores, conhecidos como Diádocos) que, durante as guerras pela supremacia, continuaram sua política de integração da cultura grega (helenística) com a do Oriente Próximo. Ele morreu de causas desconhecidas em 323 a.C., sem ter nomeado claramente um sucessor (ou, de acordo com alguns relatos, sua escolha do comandante Pérdicas teria sido ignorada) e o império que construiu foi dividido entre os Diádocos.

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As campanhas de Alexandre tornaram-se lendárias, influenciando as táticas e carreiras de generais gregos e romanos posteriores, bem como inspirando numerosas biografias posteriores que lhe atribuíram um status semidivino. Os historiadores modernos adotam uma abordagem mais crítica em relação à sua vida e carreira, como demonstrado pela crítica à destruição de Persépolis e ao tratamento dispensado aos cidadãos de Tiro. Porém, o consenso geral referente ao seu legado, entre os estudiosos ocidentais, de qualquer forma, permanece em sua maior parte positivo e Alexandre continua sendo uma das personagens mais populares e reconhecíveis da história mundial.

Alexander the Great (Facial Reconstruction)
Alexandre, o Grande (Reconstituição Facial)
Arienne King (CC BY-NC-SA)

A Juventude de Alexandre

Quando Alexandre era jovem, foi ensinado a lutar e montar a cavalo por Leônidas do Épiro, um parente de sua mãe, Olímpia, assim como a suportar privações típicas de soldados, tais como marchas forçadas. Seu pai, Filipe, estava interessado em criar um futuro rei refinado e, assim, contratou Lisímaco de Acarnânia para ensinar ao garoto a ler, escrever e tocar a lira. Esta educação instilaria em Alexandre um amor duradouro pela leitura e música. Com a idade de 13 ou 14 anos, ele conheceu o filósofo grego Aristóteles (v. 384-322), que Filipe havia contratado como um tutor particular. Seus estudos com Aristóteles durariam até os 16 anos e acredita-se que mantiveram uma correspondência durante todas as campanhas posteriores de Alexandre, embora não haja evidências concretas a respeito.

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A influência de Aristóteles manteve-se no relacionamento com os povos que conquistou, pois Alexandre jamais impôs a cultura grega sobre os habitantes das várias regiões subjugadas, mas apenas a apresentava, da mesma forma que o filósofo usava para ensinar seus alunos. A influência de Leônidas pode ser verificada na duradoura resiliência e energia física de Alexandre, bem como em sua habilidade como cavaleiro. Conta-se que ele domou o “incontrolável” Bucéfalo quando tinha apenas 11 ou 12 anos.

Seus tutores certamente exerceram uma profunda influência sobre ele, mas Alexandre parecia destinado à grandeza desde o nascimento. Ele teve, em primeiro lugar, um pai cujas realizações proporcionaram uma base sólida para seus seus sucessos posteriores. O historiador Diodoro Sículo observa:

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Durante os vinte e quatro anos de seu reinado na Macedônia, que ele iniciou com recursos bastante escassos, Filipe transformou seu reino em um dos maiores poderes da Europa [...] Ele projetou a derrubada do Império Persa, desembarcou forças na Ásia e estava no processo de libertar as comunidades helenísticas quando foi interrompido pelo Destino - a despeito do qual, ele deixou de herança uma força militar de tal tamanho e qualidade que seu filho Alexandre foi capaz de derrotar o Império Persa sem requerer a assistência de aliados. Estas realizações não aconteceram pela ação da Fortuna, mas pela sua própria força de caráter, pelo que este rei se eleva sobre todos os outros pela sua perspicácia militar, coragem pessoal e brilhantismo intelectual. (Livro XVI.ch.1)

Ainda que claramente seu pai tenha tido um grande impacto sobre ele, o próprio Alexandre escolheu acreditar que seu sucesso devia-se a forças divinas. Chamava-se filho de Zeus e, assim, reivindicava o status de um semideus, ligando sua linhagem aos seus heróis favoritos da Antiguidade, Aquiles e Hércules, e modelando seu comportamento neles. Esta crença foi instilada nele por Olímpia, que chegou a afirmar ter sido engravidada pelo próprio Zeus, ou seja, Alexandre teria nascido de uma concepção virginal. Grandes sinais e presságios marcaram seu nascimento, tais como uma estrela brilhante resplandecendo sobre a Macedônia naquela noite e a destruição do Templo de Ártemis, em Éfeso. Plutarco escreve:

Alexandre nasceu no sexto dia de Hecatombaeon, o mês que os macedônios chamam Lous, o mesmo dia em que o templo de Diana, em Éfeso, foi incendiado; como testemunha Hegésias de Magnésia, que faz disso uma ocorrência tão fria que teria sido suficiente para extinguir o incêndio do templo. O templo, diz ele, pegou fogo e foi destruído enquanto sua senhora estava ausente, ajudando no nascimento de Alexandre. Todos os adivinhos orientais que estavam na ocasião em Éfeso, buscando nas ruínas do templo um sinal de alguma outra calamidade, correram pela cidade, golpeando os próprios rostos e gritando que este dia havia trazido alguma coisa que se mostraria fatal e destrutiva para toda a Ásia. (Plutarco, Vida de Alexandre, I)

No Oráculo de Siwa, ele foi proclamado filho do deus Zeus-Amon.

Embora seu nascimento esteja bem documento pelos historiadores, há pouca informação sobre sua juventude, além das fábulas sobre sua precocidade (ele teria interrogado dignatários que visitavam a Macedônia sobre as fronteiras e pontos fortes da Pérsia quando tinha sete anos), seus tutores e amigos de infância. Os amigos de Alexandre - Cassandro (v.c. 355-297 a.C.), Ptolemeu (v.c. 367-282 a.C.) e Heféstion (v.c. 356-324 a.C.) - tornariam-se companhias de toda a vida e generais em seu exército.

Calístenes (v.c. 360-327 a.C.), outro amigo, era sobrinho-neto de Aristóteles e veio para a corte macedônia com o filósofo. Mais tarde, atuaria como historiador da corte e acompanharia Alexandre em campanha. Heféstion permaneceu seu melhor e mais querido amigo através de toda a vida, além de segundo em comando no exército. Sobre a juventude de Alexandre, o historiador Worthington afirma que Alexandre “seria educado em casa, como era costume na Macedônia e cresceria acostumado a assistir (e então participar) nas competições etílicas, parte da vida na corte” mas que, à parte essas informações, “sabemos surpreendentemente pouco sobre a infância de Alexandre” (33).

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Queroneia e Campanhas Iniciais

O talento militar de Alexandre começou a ser notado na Batalha de Queroneia, em 338 a.C.. Ainda que com apenas 18 anos, ele ajudou reverter o rumo da batalha nesta vitória decisiva dos macedônios, que derrotaram cidades-estado gregas aliadas. Quando Filipe II foi assassinado, em 336 a.C., Alexandre assumiu o trono e, com as cidades-estado gregas agora unidas sob o poder macedônio após Queroneia, iniciou a grande campanha que seu pai havia planejado: a conquista do poderoso Império Persa. Worthington declara:

Homero era a bíblia de Alexandre e ele levou a edição de Aristóteles com ele para a Ásia [...] Durante suas campanhas, Alexandre sempre procurava descobrir tudo o que podia sobre as regiões pelas quais passava. Levou com ele uma comitiva de estudiosos para registrar e analisar tais informações sobre botânica, biologia, zoologia, meteorologia e topografia. Seu desejo de aprender e ter os dados registrados tão cientificamente quanto possível, provavelmente resultaram dos ensinamentos e entusiasmo de Aristóteles. (34-35)

Com um exército macedônio de 32.000 homens na infantaria e 5.100 na cavalaria, Alexandre fez a travessia para a Ásia Menor em 334 a.C. e começou sua conquista do Império Persa Aquemênida, derrotando um exército liderado por sátrapas na Batalha de Grânico, em Maio. Ele então "libertou" (como classificava suas conquistas) as cidades de Sardis e Éfeso do domínio persa no mesmo ano, antes de se dirigir a outras da Ásia Menor. Em Éfeso, ofereceu-se para reconstruir o Templo de Ártemis, que havia sido destruído por um incêndio na noite de seu nascimento, mas a cidade rejeitou a proposta. Em 333 a.C., Alexandre e suas tropas derrotaram um exército maior, liderado pelo próprio Rei Dário III da Pérsia (r. 336-330 a.C.), na Batalha de Issos. Ele continuou e saqueou as cidades fenícias de Baalbek e Sídon (que tinha se rendido) em 332 a.C., e então sitiou a cidade insular de Tiro.

Tão determinado estava em conquistar a antiga cidade que construiu um caminho elevado da terra firme até a ilha, no qual montou suas máquinas de sítio. Este caminho aumentou progressivamente, graças ao acúmulo de lama e terra, e esta é a razão pela qual Tiro faz parte do continente, no atual Líbano. Como punição pela teimosa resistência, os habitantes da cidade foram massacrados e os sobreviventes vendidos como escravos. Esta decisão referente aos cidadãos de Tiro é citada por historiadores, tanto antigos como modernos, como um exemplo básico do caráter implacável de Alexandre quando desafiado.

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Em 331 a.C., conquistou o Egito e fundou a cidade de Alexandria. No Oráculo de Siwa, situado no oásis egípcio homônimo, foi Alexandre foi proclamado filho do deus Zeus-Amon.

Alexander the Great, Bronze Head
Busto de Bronze de Alexandre, o Grande
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Embora tenha conquistado o Egito, Alexandre não estava interessado em impor suas ideias sobre verdade, religião ou comportamento sobre o povo, desde que fossem mantidas abertas as linhas de suprimento para alimentar e equipar suas tropas (um importante aspecto da sua habilidade em governar vastas áreas, que acabou negligenciado pelos sucessores). Isso não significa, porém, que não suprimisse rebeliões de forma implacável ou que hesitasse antes de aniquilar aqueles que se opunham a ele. Após elaborar um plano urbanístico para a cidade de Alexandria, ele deixou o Egito em direção à Síria e à Mesopotâmia setentrional, com o objetivo de retomar as campanhas contra a Pérsia.

As Campanhas Persas

Em 331 a.C., Alexandre reencontrou o Rei Dário III no campo de batalha em Gaugamela (também chamada de Batalha de Arbela) onde, novamente em grande inferioridade numérica, derrotou decisivamente o soberano persa, que fugiu do combate. Babilônia e Susa renderam-se incondicionalmente, sem resistência. No inverno de 330 a.C., Alexandre marchou sobre Persépolis, encontrando oposição na Batalha dos Portões Persas, defendidos pelo herói Ariobarzanes (v. 386-330 a.C.) e sua irmã, Youtab Aryobarzan (d. 330 a.C.), no comando das tropas. O rei macedônio os derrotou e tomou Persépolis, que então foi destruída pelo fogo.

De acordo com o antigo historiador Diodoro Sículo (e outras fontes da Antiguidade), o próprio Alexandre iniciou o fogo, que destruiu o palácio principal e a maior parte da cidade, como vingança pelo incêndio da Acrópole, em Atenas, durante a invasão do rei persa Xerxes, em 480 a.C.. Esta ação teria sido instigada por Taís, a amante ateniense do general Ptolemeu, durante uma festa de bêbados, com a afirmação de que seria uma vingança adequada se a cidade fosse queimada “pelas mãos de uma mulher”. Conta-se que ela teria atirado sua tocha logo após Alexandre ter jogado a primeira.

No verão de 330 a.C., Dário III foi assassinado por seu próprio general e primo, Besso, uma atitude que Alexandre teria reprovado. O cadáver de Dário III foi tratado com o maior respeito, assim como os membros sobreviventes da sua família. Alexandre proclamou-se Rei da Ásia e continuou com sua conquista, marchando para o interior do atual Afeganistão. Em 329 a.C., fundou a cidade de Alexandria-Escate no Rio Iaxartes, destruiu a cidade de Cirópolis e derrotou os citas nas fronteiras setentrionais do império. Entre o outono de 330 a.C. e a primavera de 327 a.C., lutou contra Báctria e Sogdiana, em duros combates que terminou vencendo, como havia ocorrido com cada batalha até o momento. Besso acabou capturado e executado pela traição contra o rei persa, numa mensagem clara de que deslealdades deste tipo não seriam toleradas.

Durante este período, Alexandre fundou muitas cidades que levavam seu nome para solidificar a imagem não somente de "libertador", mas como a de um deus, adotando também o título Shahanshah (Rei dos Reis), usado pelos governantes do Primeiro Império Persa. Em consequência deste status, ele introduziu o costume persa da proskynesis ao exército, segundo o qual aqueles que se dirigiam a ele deveriam em primeiro lugar ajoelhar-se e beijar sua mão.

As tropas macedônias ficaram cada vez mais desconfortáveis com a aparente deificação de Alexandre e a adoção de costumes persas. Conspirações de assassinato foram planejadas (principalmente em 327 a.C.), mas terminaram descobertas e os conspiradores executados, mesmo que fossem velhos amigos. Calístenes tornou-se um deles, ao ser implicado numa das conspirações. Cleito, o velho político que havia salvo a vida de Alexandre na Batalha de Grânico, acabaria condenado de forma semelhante. Em c. 327 a.C., Alexandre desfez-se tanto de Calístenes quanto de Cleito, em incidentes separados, por traição e por questionar sua autoridade, respectivamente.

O hábito de Alexandre de beber em excesso era bem conhecido e, no caso da morte de Cleito, certamente influenciou de forma significativa o assassinato. Tanto Cleito quanto Calístenes haviam se tornado críticos abertos da adoção dos costumes persas pelo rei. Embora capaz de grande diplomacia e habilidade em lidar com os povos conquistados e seus governantes, Alexandre não era conhecido por tolerar opiniões pessoais que conflitavam com as suas próprias, uma tendência só exacerbada quando bebia. A morte de Cleito foi rápida, através de uma lança que Alexandre atirou contra ele, enquanto Calístenes foi preso e morreu durante o confinamento.

Map of Alexander the Great's Conquests
Mapa das Conquistas de Alexandre, o Grande
US Military Academy (Public Domain)

Índia e Motim

Em 327 a.C., com o Império Persa firmemente sob seu controle e recém-casado com a nobre bactriana Roxana (v. c. 340-c. 310 a.C.), Alexandre voltou sua atenção para a Índia. Após tomar conhecimento das façanhas do grande general macedônio, o rei indiano Omphis de Taxila submeteu-se à sua autoridade sem luta, mas as tribos Aspasioi e Assakenoi resistiram ferozmente. Em batalhas realizadas de 327 a 326 a.C., Alexandre subjugou estas tribos, e finalmente defrontou-se com o Rei Poro de Paurava na Batalha do Rio Hidaspes, em 326 a.C.

Poro atacou as forças de Alexandre com elefantes e lutou tão bravamente com suas tropas que, após derrotá-lo, Alexandre o nomeou governante de uma região maior do que a que havia reinado anteriormente. Seu cavalo predileto, Bucéfalo, foi morto nesta batalha e Alexandre chamou uma das duas cidades que fundou após o combate como "Bucéfala" em homenagem ao animal.

Alexandre pretendia marchar e cruzar o Rio Ganges em direção a futuras conquistas, mas suas tropas, esgotadas após o duro combate contra Poro (no qual, de acordo com Arriano, teriam sido perdidos 1.000 homens), amotinaram-se em 326 a.C. e se recusaram a ir adiante. O rei tentou persuadir seus homens a prosseguir mas, falhando em convencê-los, finalmente concordou com seus desejos. Ele dividiu o exército em dois, enviando metade de volta a Susa pelo mar, através do Golfo Pérsico, sob o comando do Almirante Nearco, e marchou com a outra metade através do Deserto Gedrosiano em 325 a.C., quase um ano depois do motim das tropas.

As justificativas por trás desta decisão, tanto em adiar a retirada após o motim e a forma como finalmente ocorreu, não estão claras e ainda são debatidas pelos historiadores. Mesmo que tivesse abandonado sua conquista da Índia, Alexandre ainda interrompia sua marcha para subjugar as tribos hostis que encontrava pelo caminho. O áspero terreno do deserto e os combates cobraram seu preço e, quando alcançou Susa, em 324 a.C., Alexandre tinha sofrido baixas consideráveis em suas tropas.

Após seu retorno, descobriu que muitos sátrapas a quem havia confiado o governo tinham abusado do seu poder e, assim, os executou, assim como aqueles que haviam vandalizado a tumba de Ciro, o Grande (r. c. 550-530 a.C.), na velha capital de Pasárgada. Ele ordenou que a antiga capital e a tumba fossem restauradas e tomou outras medidas para integrar seu exército com os povos da região, mesclando as culturas persa e macedônia.

O rei presidiu uma cerimônia de casamento coletivo em Susa, em 324 a.C., na qual uniram-se membros mais proeminentes do seu staff com princesas e nobres persas, enquanto ele mesmo se casou com uma filha de Dário III para consolidar sua identidade com a realeza persa. Muitos em suas tropas objetavam a esta fusão cultural e criticavam cada vez mais a adoção de vestimentas persas e os maneirismos que vinha adotando desde 329 a.C.. Também resistiam à promoção de persas no lugar de macedônios no exércitos e à ordem do rei de fundir unidades macedônias e persas. Alexandre respondeu nomeando persas para posições proeminentes no exército e concedendo títulos e honrarias tradicionais macedônias às unidades persas.

Suas tropas recuaram e se submeteram aos desejos de Alexandre e, num gesto de boa vontade, ele devolveu os títulos aos macedônios e ordenou uma grande festa comunal, na qual jantou e bebeu com o exército. Alexandre já havia abandonado a obrigatoriedade do costume da proskynesis, em deferência a seus homens, mas continuou a se comportar como um rei persa, em vez de macedônio.

Por volta desta época, em 324 a.C., Heféstion, amigo de toda a vida, possivelmente amante, e também segundo em comando de Alexandre, morreu de uma febre, embora alguns relatos sugiram que ele pode ter sido envenenado. A alegação de que Alexandre era homossexual ou bissexual aparece em biografias escritas após sua morte e Heféstion é rotineiramente indicado como seu amante, bem como melhor amigo. Os relatos dos historiadores sobre a reação de Alexandre a este evento concordam que seu pesar foi insuportável.

Plutarco afirma que Alexandre massacrou os cosseanos de uma tribo vizinha em sacrifício a seu amigo e Arriano relata que ele mandou executar o médico de Heféstion por falhar em curá-lo. As crinas e caudas dos cavalos foram cortadas em sinal de luto e Alexandre se recusou a promover outra pessoa para a posição de Heféstion como comandante da cavalaria. Ele começou um jejum e declarou um período de luto através de todo o império, além de ritos funerários geralmente reservados a um rei.

A Morte de Alexandre

Ainda pesaroso pela morte de Heféstion, Alexandre retornou à Babilônia em 323 a.C., com planos de expandir seu império, mas jamais iria realizá-los porque morreu em 10 ou 11 de Junho de 323 a.C., aos 32 anos de idade, após sofrer com dez dias de febre alta. As teorias referentes à causa da morte variam entre envenenamento, malária, meningite e até infecção bacterial ao beber água contaminada (entre outras).

Plutarco diz que, 14 dias antes da morte, Alexandre divertiu-se com seu almirante Nearcos e seu amigo Médio de Larissa numa longa sessão de bebedeira, após a qual caiu doente com uma febre da qual não se recuperou. Quando foi perguntado sobre quem deveria sucedê-lo, Alexandre disse: “o mais forte”, resposta que levou seu império a ser dividido entre quatro de seus generais: Cassandro, Ptolemeu, Antígono e Seleuco, conhecidos como Diadochi (Diádocos) ou “sucessores”.

Alexander Sarcophagus (detail)
Sarcófago de Alexandre (detalhe)
Carole Raddato (CC BY-SA)

Plutarco e Arriano, porém, alegam que ele passou seu reino para Pérdicas, o amigo de Heféstion com o qual Alexandre havia carregado seu corpo para a pira funerária na Babilônia. Pérdicas era também amigo de Alexandre, bem como seu guarda-costas e companheiro de cavalgadas. Considerando o hábito do rei de recompensar os mais próximos com favores, faz sentido que indicasse Pérdicas em detrimento aos demais. Seja como for, após a morte de Alexandre, seus generais ignoraram seus desejos e Pérdicas acabou assassinado em 321 a.C..

Os Diádocos

Seu camarada de longa data, Cassandro, ordenaria as execuções de Roxana e do filho desta com Alexandre, além de Olímpia, para consolidar o poder como o novo rei da Macedônia. Afirma-se que Ptolemeu I roubou o cadáver de Alexandre quando estava sendo transportado para a Macedônia e o levou furtivamente para o Egito, na esperança de tornar realidade uma profecia segundo a qual o lugar onde ele jazesse seria próspero e inconquistável. Ele fundaria a Dinastia Ptolemaica no Egito, que duraria até 30 a.C., terminando com a morte de sua descendente, Cleópatra VII (v. 69-30 a.C.).

Seleuco fundou o Império Selêucida (312-63 a.C.), compreendendo a Mesopotâmia, Anatólia e parte da Índia e seria o último remanescente dos Diádocos após 40 anos de incessantes guerras entre eles e seus herdeiros. Veio a ser conhecido como Seleuco I Nicator (Invencível, r. 305-281 a.C.). Nenhum dos generais de Alexandre possuía sua inteligência natural, compreensão ou gênio militar mas, ainda assim, eles fundaram dinastias que, com exceções, governariam suas respectivas regiões até a ascensão de Roma.

Sua influência sobre estas áreas criaria o que os historiadores chamam de Período Helenístico, no qual haveria a introdução e fusão do pensamento e cultura dos gregos com os costumes destas populações. De acordo com Diodoro Sículo, uma das cláusulas do testamento de Alexandre previa a criação de um império unificado entre os antigos inimigos. Pessoas do Oriente Próximo deveriam ser encorajadas a se casar com europeus e vice-versa; assim, uma nova cultura helenística seria adotada por todos. Ainda que os Diádocos tenham falhado no atendimento pacífico aos desejos de Alexandre, a helenização de seus impérios contribuiu para o sonho de unidade cultural, mesmo que ela jamais se concretizasse completamente.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Ricardo é um jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Escritor freelance e ex-professor de filosofia em tempo parcial no Marist College, em Nova York, Joshua J. Mark viveu na Grécia e na Alemanha e viajou pelo Egito. Ele ensinou história, redação, literatura e filosofia em nível universitário.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2013, Novembro 14). Alexandre, o Grande [Alexander the Great]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-265/alexandre-o-grande/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Alexandre, o Grande." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação Novembro 14, 2013. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-265/alexandre-o-grande/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Alexandre, o Grande." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 14 Nov 2013. Web. 25 Abr 2024.