Olímpia

Definição

Donald L. Wasson
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 01 junho 2013
Disponível noutras línguas: Inglês, francês
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Olympias (by Walters Art Museum, CC BY-SA)
Olímpia
Walters Art Museum (CC BY-SA)

Olímpia (c. 375-316 a.C.) foi a segunda esposa de Filipe II da Macedônia (r. 359-336 a.C.) e mãe de Alexandre, o Grande (r. 336-323 a.C.) Força motriz na ascensão do filho ao trono, ela chegou a ser acusada de participação no assassinato de Filipe por Pausânias de Orétis. Após a morte de Alexandre, lutou por seu neto, mas foi derrotada por Cassandro (r. 305-297 a.C.).

Vida Pregressa e Casamento com Filipe

Olímpia, que tinha o nome de Myrtale ao nascer, era filha de Neoptólemo, o falecido rei do Épiro, um reino a sudoeste da Macedônia. Seus ancestrais, os Molossos, afirmavam ser descendentes de Molosso, o filho de Andrômaca e Neoptólemo (este filho de Aquiles), que havia morto o Rei Príamo durante a Guerra de Troia.

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Olímpia há muito era uma devota do culto a Dioniso, algo que irritava muitos macedônios.

Os historiadores não estão de acordo sobre como Filipe e Olímpia se encontraram. A história mais amplamente aceita dá conta de que este encontro ocorreu na Samotrácia, uma ilha do Mar Egeu, entre a Macedônia e Troia. A ilha era conhecida como um centro religioso dos deuses gêmeos Cabiros. Enquanto Filipe pode ter participado de cerimônias religiosas, ele na realidade estava lá para promover uma aliança. Quando viu a jovem Olímpia, uma ruiva de beleza estonteante e temperamento selvagem, foi amor à primeira vista. Plutarco escreveu:

[...] após Filipe ter sido iniciado na Samotrácia junto com Olímpia, apaixonou-se perdidamente por ela, e embora fosse somente um jovem e ela uma órfã, ele não hesitou e se comprometeu a desposá-la [...] (Alexandre, 2.1).

Não era incomum para um rei se casar mais de uma vez, e, no caso de Filipe, muitos de seus matrimônios tinham somente o objetivo de fazer alianças políticas. Foi o que ocorreu com Olímpia, já que ela era sua segunda esposa. Em 357 a.C., eles se casaram; Olímpia tinha cerca de 18 anos e Filipe 28 anos na época. Os historiadores debateram os muitos presságios que cercaram a noite de núpcias do jovem casal. Na obra Vidas Gregas, Plutarco escreveu:

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Na noite anterior à que ficaram juntos na câmara nupcial, a noiva teve um sonho no qual, em seguida a um som de trovão, seu ventre foi atingido por um relâmpago, o que iniciou um fogo intenso cujas chamas se espalharam pelo aposento antes de se extinguir. (Alexandre, 2.2)

Já Filipe sonhou que "[…] ele pressionava um selo no ventre de sua esposa, e que o emblema do selo era a figura de um leão […]", antecipando o futuro de seu grande filho. (Alexandre, 2.2). Filipe e Olímpia tiveram duas crianças: Alexandre e uma filha, Cleópatra, mas após o rei ver sua esposa dormindo com serpentes, as visitas ao quarto de dormir da rainha cessaram. Olímpia há muito era uma devota do culto a Dioniso, algo que irritava muitos macedônios. Pode ser que tenha sido ela quem iniciou a prática de manusear serpentes no culto.

Philip II of Macedon (Artist's Impression)
Filipe II da Macedônia (Concepção Artística)
Mohawk Games (Copyright)

Nascimento de Alexandre

Em 20 de Julho de 356 a.C., a rainha provou seu valor a Filipe dando-lhe um herdeiro, o filho Alexandre. Sem um herdeiro, ela seria útil ao rei e à Macedônia somente pela aliança com o Épiro. Na verdade, havia outro possível herdeiro real, um jovem meio-irmão, Filipe Arrideu, filho de uma plebeia chamada Filina. Porém, de acordo com Plutarco, a sempre ciumenta Olímpia teria envenenado o príncipe com uma droga que prejudicou suas faculdades mentais, tornando-o incapaz de impedir Alexandre de se tornar rei.

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Olímpia contou a Alexandre que seu verdadeiro pai não era Filipe, mas Zeus.

Três eventos importantes ocorreram na vida de Filipe no dia em que o futuro rei nasceu. Nesta ocasião, ele estava longe, na batalha de Potideia. Neste dia ele recebeu a boa notícia de que um de seus comandantes, Parmênio, vencera um combate decisivo contra os ilíricos. Em segundo lugar, seu cavalo de corrida venceu nos Jogos Olímpicos (e aqui é onde Myrtale se torna Olímpia) e, finalmente, seu filho e herdeiro nasceu. Um adivinho alegaria mais tarde que o nascimento de Alexandre, coincidindo com os outros eventos, significava que o jovem cresceria para ser invencível.

Com a chegada de Alexandre, o objetivo principal da vida de sua mãe passou a ser fazê-lo rei. Olímpia mimava o jovem Alexandre, falando constantemente sobre a linhagem nobre e os laços com Aquiles. Esta história teve um efeito poderoso no rapaz, que passou a carregar uma cópia da Ilíada consigo. Quando cruzou o Helesponto em direção à Ásia Menor, um dos primeiros lugares que visitou foram as ruínas de Troia, para prestar homenagem ao seu ancestral Aquiles. Para dirigir sua educação inicial, Olímpia trouxe um parente, o rigoroso Leônidas do Épiro, para agir tanto como um tutor quanto um mentor do futuro rei. Posteriormente, Aristóteles seria convocado de Atenas para completar sua formação.

Divórcio

Surgiu então uma situação que poderia ameaçar Olímpia e sua missão de entronizar seu filho – o casamento de Filipe com a sobrinha de Átalo, Cleópatra-Eurídice. De acordo com aqueles em torno de Filipe, Alexandre era somente meio macedônio, e havia pressões para que o rei se casasse com alguém de sangue puro. Assim, Filipe divorciou-se de Olímpia, acusando-a de adultério e até negando a paternidade de Alexandre. O casamento do rei com Cleópatra-Eurídice, combinado com a gravidez desta, colocou Olímpia numa situação precária. Caso o bebê fosse um menino e, portanto, um herdeiro legítimo do trono, Alexandre não se tornaria rei. Uma complicação adicional sobreveio quando Alexandre, irmão de Olímpia (que Filipe havia posto no trono do Épiro), ficou noivo da filha da rainha - ou seja, da sua sobrinha. Com este casamento, ela não teria utilidade sequer como um laço diplomático ligando a Macedônia ao Épiro.

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No banquete de casamento de Filipe e Cleópatra-Eurídice, Átalo (um dos comandantes de Filipe) fez um comentário insultuoso sobre Alexandre, chamando-o de bastardo. Após este assalto verbal, Alexandre levantou-se, debochando da inabilidade de seu pai bêbado de atravessar a sala. Plutarco escreveu:

Filipe levantou-se para atacar Alexandre e sacou sua espada mas, felizmente para ambos, sua raiva e o vinho que bebera o fizeram tropeçar e cair [...] Após esta briga de bêbados, Alexandre levou Olímpia e a instalou no Épiro, enquanto ele permaneceu junto aos ilíricos. (Alexandre, 9.5)

Possivelmente, o propósito de Olímpia de retornar ao Épiro não era somente de escapar da ira do rei macedônio, mas também para persuadir o irmão a declarar guerra contra Filipe. Após uma reconciliação orquestrada por Demarato de Corinto, Alexandre e Olímpia tiveram permissão de retornar a Pela, capital da Macedônia.

Macedonia under Philip II
Macedônia sob Filipe II
Marsyas (GNU FDL)

A Morte de Filipe e a Ascensão de Alexandre

Em 336 a.C., em outro banquete de casamento, este do irmão de Olímpia, Alexandre, com a filha desta, Cleópatra, Filipe foi assassinado por Pausânias de Orétis, que estava descontente pela recusa de Filipe de permitir uma retaliação contra Átalo. A suspeita imediatamente recaiu sobre Olímpia, que alguns acreditavam ter encorajado Pausânias a buscar vingança e matar o rei. Plutarco escreveu:

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Quando Pausânias, que havia sido assaltado por instigação de Átalo e Cleópatra, assassinou Filipe, que havia falhado em recompensá-lo, a culpa recaiu sobre Olímpia, com a justificativa de que ela havia encorajado a ira do jovem e o incitado a cometer o crime [...] (Alexandre, 10.4).

Houve mesmo evidências de que ela deixou cavalos esperando para o assassino utilizar em sua fuga. Com a morte de Filipe e a ascensão de Alexandre ao trono, Cleópatra-Eurídice e sua jovem filha (pode ter havido também um filho) foram mortos por ordem de Olímpia – alguns afirmam que foram queimados vivos, enquanto outros dizem que Cleópatra foi obrigada a se enforcar. Com isso concluído, o futuro de Olímpia estava seguro – ela era a mãe do rei.

Alexander the Great [Profile View]
Alexandre, o Grande [Visão de Perfil]
Egisto Sani (CC BY-NC-SA)

Quando Alexandre se preparou para cruzar o Helesponto em direção à Ásia Menor, sua mãe puxou-o de lado e contou-lhe que seu verdadeiro pai não era Filipe, mas Zeus; desta forma, ele devia agir com coragem, de maneira adequada à sua origem divina. Alexandre jamais veria sua terra natal ou sua mãe novamente. Durante suas viagens através da Ásia, havia uma correspondência frequente entre os dois – ela dava conselhos e ele os ignorava. Antípatro governava a Macedônia e Grécia na ausência do rei. Cartas entre Alexandre e Antípatro, bem como entre mãe e filho, estavam repletas de reclamações e acusações; o regente chamava-a, entre outras coisas, de megera, enquanto ela afirmava que ele agia mais como um rei do que um preposto. Com o objetivo de resolver a disputa, Alexandre ordenou que Antípatro viesse encontrá-lo em Babilônia (dizem que o verdadeiro objetivo seria afastá-lo de Olímpia), mas o regente enviou o filho Cassandro em seu lugar, o que irritou o rei.

Após a Morte de Alexandre

Com a morte de Alexandre, em 323 a.C., e o início das Guerras dos Diádocos, Olímpias chamou Roxana, a esposa de Alexandre, para vir a Pela, onde ela e seu filho, o futuro Alexandre IV, estariam a salvo. Após a morte de Antípatro, em 319 a.C., um dos comandantes de Alexandre, Poliperconte, foi nomeado o novo regente; porém, ele foi expulso por Cassandro, fugindo para o Épiro com Roxana e o jovem Alexandre.

Family Tree of the Royal Dynasty of Macedon in the 4th Century BCE
Árvore Genealógica da Dinastia Real Macedônica no Século IV a.C.
David Grant (Copyright)

Ainda que tenha tentado se manter neutra, Olímpia percebeu que seu neto jamais seria rei enquanto Cassandro fosse o regente e, assim, uniu forças ao seu primo Eácides (Rei do Épiro) e o restante do exército de Poliperconte e invadiu a Macedônia. Por ordem de Olímpia, o meio-irmão de Alexandre, Filipe (que na verdade era o rei, ainda que somente em nome), sua esposa Eurídice e centenas de macedônios leais a Cassandro foram executados em 317 a.C.. Porém, a invasão falhou; Cassandro a capturou em Pidna e, ainda que tenha inicialmente prometido salvar a vida de Olímpia, acabou mandando matá-la em 316 a.C. Lamentavelmente, o sonho de Olímpia de ver seu neto herdando o trono de Alexandre jamais seria realizado, pois Roxana e o jovem Alexandre IV teriam o mesmo destino dela em 310 a.C..

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Donald L. Wasson
Donald ensina História Antiga, Medieval e dos Estados Unidos no Lincoln College (Normal, Illinois) e sempre foi e sempre será um estudante de História, dedicando-se, desde então, a se aprofundar no conhecimento sobre Alexandre, o Grande. É uma pessoa ávida a transmitir conhecimentos aos seus estudantes.

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Estilo APA

Wasson, D. L. (2013, junho 01). Olímpia [Olympias]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12013/olimpia/

Estilo Chicago

Wasson, Donald L.. "Olímpia." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação junho 01, 2013. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12013/olimpia/.

Estilo MLA

Wasson, Donald L.. "Olímpia." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 01 jun 2013. Web. 08 dez 2024.