Tigranes, o Grande

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Lucas de Carvalho Silva
publicado em 20 Fevereiro 2018
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Disponível noutras línguas: Inglês
Tigranes the Great (by Beko, Public Domain)
Tigranes, o Grande
Beko (Public Domain)

Tigranes II ou Tigranes, o Grande governou como rei da Armênia de 95 até 54 AEC. Expandindo em todas as direções, no seu auge, o império armênio de Tigranes se estendia desde o Mar Negro até o Mediterrâneo. Nem antes nem depois os armênios controlariam uma área tão grande da Ásia. Tigranes só seria monitorado uma vez que seu reinado se envolvesse nas ambições de dois superpoderes regionais, Pártia e Roma, quando sua aliança com Mitrídates VI, rei de Ponto, provou sua ruína.

A Dinastia Artaxíada

A dinastia Artaxíada substituiu a dinastia Orôntida e governou a antiga Armênia de 200 AEC até a primeira década do primeiro século EC. Fundada por Artaxias I (200 - 160 AEC), a dinastia asseguraria à Armênia um longo período de prosperidade e importância regional, e nenhum governante contribuiria mais para isso do que seu maior rei Tigranes II, amplamente considerado o mais importante e bem-sucedido soberano em toda a história da Armênia.

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Sucessão

Após um período bastante sombrio para o registro histórico da Armênia, uma luz brilhante repentinamente chegou com diversos registros que tratam sobre o reino de Tigranes II. Há a ressalva de que a maioria das fontes, e todas as fontes contemporâneas, são dos Romanos, e por isso tendem a ser mais parciais, uma vez que tratam sobre um dos mais sérios inimigos do Leste. Registros póstumos ajudam a restabelecer o equilíbrio, mas essas fontes também podem ter seus problemas em suas óbvias seleções e omissões de eventos por motivos patrióticos.

A partir de 85 AEC Tigranes começou a se chamar "Rei dos Reis".

Tigranes foi colocado no trono da Armênia pelos Partas após seu tio, o rei armênio Artavasdes I, ter sido forçado a enviar Tigranes como um refém para os Partas após sua derrota militar para esse Império. Quando seu pai Tigranes I morreu em 95 a.C, Tigranes foi mandado de volta à Armênia para tomar seu lugar ao trono. O novo rei teve que ceder os "Setenta Vales" para os Partas (um território provavelmente localizado no atual Azerbaijão), mas ele logo provou que não era um complacente governador dos Partas.

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Expandindo o Império

Tigranes foi capaz de se aproveitar do desmoronamento do Império Selêucida, assim como da distração que estava tendo os Partas após as caóticas consequências da morte de Mithridates II em 91 AEC e as invasões nas bordas orientais da Partia. O monarca armênio pôde então começar a expandir o seu reinado ainda mais. Primeiro, ele anexou a outra parte da Armênio tradicional, o reinado de Sofena, em 94 AEC. Com estratégias formidáveis de cerco e unidades fortemente armadas de cavalaria, ele então retomou os "Setenta Vales" e seguiu com uma prolongada série de conquistas que vai de 88 até 85 AEC. Ele conquistou Capadócia, Adiabena, Corduena, Média Atropatene, Fenícia e partes da Sicília e da Síria, incluindo Antioquia. Essa última o convidou para ser o rei deles, e subsequentemente cunharam moedas tetradracmas de prata com imagens de Tigranes vestindo sua tiara oriental e, no verso, uma mulher com uma coroa com torres segurando o louro da vitória. O rei armênio ainda saquerou Ecbatana, a residência real de verão da Partia em 87 AEC enquanto os Partas estavam lutando para lidar com os invasores nômades do norte.

Empire of Tigranes the Great
Império de Tigranes, o Grande
www.armenica.org (CC BY-SA)

Outra política de Tigranes, além da conquista, era melhorar as relações comerciais com certos estados, notavelmente a Babilônia. Contatos comerciais foram estabelecidos com os árabes skenitas, cujas riquezas terrioriais poderiam ser trocadas com a Babilônia. Esta foi também a razão pela qual Tigranes não assumiu riscos e instalou seu irmão como governante de Nísibis, que controlava o comércio da Mesopotâmia para o oeste.

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Rei dos Reis

A partir de 85 AEC, tendo conquistado um império de tamanho decente, Tigranes começou a se chamar "Rei dos Reis" (em persa: Shahanshah), embora o título seja mais uma prova de que ele deixou monarcas conquistados para governar como vassalos. De fato, o escritor grego Plutarco (45 - 125 EC) notadamente observou que Tigranes era sempre seguido por uma comitiva de quatro reis que atuavam como seus servos. Este comentário pode muito bem ter sido baseado em um mal-entendido e os quatro homens em questão poderiam muito bem ter sido conselheiros próximos que também eram reis de suas respectivas regiões, mas serviam o rei armênio como vice-reis. Dentro do império, os estados conquistados poderiam ter mantido seu aparato político, mas eles ainda eram obrigados a pagar tributo e contribuir para o exército de Tigranes. Além disso, as populações foram realocadas para reduzir a dissensão e aumentar a lealdade sempre que necessário. O título de Rei dos Reis de Tigranes era então bem justificado e ele se certificou que olhasse a parte como o historiador V. M. Kurkjian resume aqui:

"As aparições públicas de Tigranes foram espetaculares. Ele exibiu toda a pompa e magnificência tornando-se um sucessor de Dario ou Xerxes. Teoricamente um igual dos deuses, ele vestiu-se em uma túnica listrada em branco e roxo, e um manto inteiramente roxo. Ele sempre usava em todos os lugares (mesmo quando estava caçando) uma tiara de pedras preciosas. Quatro dos seus reis vassalos estavam juntos ao seu trono, e quando ele cavalgava, corriam a pé diante e ao lado dele.

Tigranes havia também amenidades como um teatro grego, parques de caça e jardins de prazer.

Tigranes foi notado como um admirador da cultura grega e da capital que ele fundou em 83 AEC, Tigranocerta (aka Tigranakert, que significa "Fundação de Tigranes", mas de localização incerta), era notadamente helenista em sua arquitetura. A cidade tinha fortificações impressionantes com os muros atingindo uma altura de 22 metros e incorporando estábulos, tal era a sua espessura. Havia também amenidades como um teatro grego, parques de caça e jardins de prazer. Tigranes teria se mudado à força (uma figura tradicional de) 300.000 pessoas para a nova cidade, a maioria delas da Capadócia. Refletindo a natureza cosmopolita da cidade, e do império em geral, a língua grega foi provavelmente usada, juntamente com o persa e o aramaico, como a língua da nobreza e da administração, enquanto os plebeus falavam armênio. Elementos persas continuaram a ser uma parte importante da mistura cultural armênia, também, especialmente na área da religião e as formalidades da corte, como títulos e roupas.

Mitrídates VI & Roma

Tigranes, em seguida, fez seu maior erro político e aliou-se com Mitrídates VI, o rei de Ponto (120-63 AEC), que era um grande inimigo de Roma, com quem ele estava guerreando por mais de duas décadas. Fato notório, Tigranes tinha sido casado com a filha de Mitrídates, Cleópatra, desde 92 AEC e, realmente, parecia que qualquer lado que a Armênia escolhesse - Roma ou Pártia - o pequeno reino capturado entre esses grandes impérios seria sempre o segundo melhor.

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Mithridates VI
Mitrídates VI
Unknown Artist (CC BY-SA)

A República Romana viu o perigo de tal aliança entre as duas potências regionais, uma suspeita que foi confirmada por uma campanha conjunta Tigranes-Mitrídates contra o estado cliente romano da Capadócia. Os romanos responderam atacando Ponto e quando Mitrídates fugiu para a corte de Tigranes em 70 AEC, pediram que Mitrídates fosse entregue. Quando Tigranes se recusou, os romanos invadiram a Armênia. Tigranes foi derrotado por um exército romano comandado pelo general Licínio Lúculo, Tigranocerta foi sitiada e, após a traição da guarnição grega, capturada em 69 AEC. O rei armênio foi, consequentemente, forçado a abandonar suas conquistas. Os romanos conquistadores ficaram maravilhados com a riqueza de Tigranocerta, e que depois de Tigranes já havia conseguido espoliar seu tesouro real.

Lúculo então se moveu para atacar a importante cidade de Artaxata (Artasat), mas com o inverno chegando e sua linha de suprimentos perigosamente fina e exposta, com até mesmo um motim entre suas próprias tropas, o general romano foi forçado a se retirar. O exército de Tigranes atormentou os romanos em retirada usando táticas de guerrilha e, embora Lúculo tenha capturado Nísibis, foi chamado de volta a Roma em 67 AEC. A trégua não duraria muito tempo, pois o Senado Romano estava determinado a carimbar sua autoridade na região de uma vez por todas.

Em 66 AEC, outro exército romano se dirigiu para o leste, desta vez liderado por Pompeu, o Grande, que já havia recebido grande aclamação. Ele também havia celebrado dois triunfos romanos; Ponto, Pártia e Armênia pareciam um lugar tão bom quanto qualquer outro para agarrar seu terceiro e uma bela carga de espólio para ir com ele. Primeiro, ele atacou Pontus e enviou Mithridates fugindo para o Mar Negro. Em seguida foi a vez da Armênia e aqui ele foi auxiliado pelo terceiro filho traidor de Tigranes, Tigranes, o Jovem.

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Roman Republic at the Beginning of Caesar's Civil War
República Romana no início da Guerra Civil de César
Stone Chen (CC BY-NC-SA)

Artaxata (agora capital após a derrocada de Tigranocerta) foi atacada e, embora tenha resistido a um cerco parta no ano anterior, rapidamente se rendeu. Talvez Tigranes não quisesse ver uma repetição da destruição em Tigranocerta e, portanto, pode não ter havido muita luta, verdadeiramente. Tigranes estava agora na velhice e ele parece ter comprado Pompeu com a vasta riqueza que ele havia acumulado ao longo de uma vida. Escritores romanos registram que o rei armênio deu (ou foi feito para dar) 6.000 talentos de prata para Pompeu, 10.000 dracmas para cada tribuno militar, 1000 dracmas para cada centurião e 50 para cada legionário. Nestas circunstâncias agradáveis, Tigranes foi autorizado a manter o coração do seu reino aparado dos territórios que ele tinha adquirido através da conquista e com Sofena sendo dado a seu filho traidor - que incidentalmente recebeu o seu castigo quando mais tarde insultou Pompeu e por isso foi levado para Roma para exibição no terceiro triunfo do general lá.

A Arménia foi, assim, transformada num protetorado romano, mas é discutível se o império de Tigranes, constituído por populações tão díspares e forçadamente deslocadas e que foi tão vagamente unido através de tributos e coerção sem grande aparato político, teria sobrevivido muito tempo mesmo sem interferência romana. Doravante, o Estado armênio, embora oficialmente um amigo e aliado dos romanos, permaneceu estrategicamente importante na região e por isso ainda era um ponto de discórdia entre Roma e Pártia (e seu sucessor, a Pérsia Sassânida). Tigranes continuou a governar a maior parte da Armênia silenciosamente o suficiente como um estado vassalo do Império Romano, atuando como um tampão útil para os partas até sua morte em 56 AEC, com a idade em torno de 85.

A queda da dinastia Artaxíada

Tigranes foi sucedido por seu filho, Artavasdes II (56 - 34 AEC), mas as rodas já estavam saindo do trem de sucesso da dinastia Artaxíada. O general romano Marco Licínio Crasso obrigou Artavasdes a apoiar sua desastrosa campanha contra os partas em 53 AEC e então, em 36 AEC, a região foi novamente desestabilizada quando outro general romano, desta vez Marco Antônio, passou, e os armênios foram, mais uma vez, convidados a fornecer tropas. Os romanos foram novamente derrotados por seu inimigo, os partas. Em 34 AEC Antônio voltou sua atenção para a Armênia, moveu-se contra os artaxíadas e levou Artavasdes cativo para Alexandria, onde mais tarde seria executado pela rainha Cleópatra. Seguiu-se diversas na soberia armênia ao longo das décadas subsequentes, primeiro com um governante apoiado por Roma, em seguida, pela Pártia, até que dinastia Artaxíada caiu, substituída pela dinastia Arsácida (Arshakuni) e seu fundador, Vonon (Vonones), que assumiu o trono em 12 EC.

This article was made possible with generous support from the National Association for Armenian Studies and Research and the Knights of Vartan Fund for Armenian Studies.

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Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é autor, pesquisador, historiador e editor em tempo integral. Seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações compartilham. Ele possui mestrado em Filosofia Política e é diretor editorial da WHE.

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Estilo APA

Cartwright, M. (2018, Fevereiro 20). Tigranes, o Grande [Tigranes the Great]. (L. d. C. Silva, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-833/tigranes-o-grande/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Tigranes, o Grande." Traduzido por Lucas de Carvalho Silva. World History Encyclopedia. Última modificação Fevereiro 20, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-833/tigranes-o-grande/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Tigranes, o Grande." Traduzido por Lucas de Carvalho Silva. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 20 Fev 2018. Web. 18 Abr 2024.