Mitologia

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Leonardo Montagnolli
publicado em 31 outubro 2018
Disponível noutras línguas: Inglês, Árabe, francês, alemão, grego, italiano, espanhol, Turco
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Bronze head of Hypnos (by Carole Raddato, CC BY-SA)
Cabeça de bronze de Hipnos
Carole Raddato (CC BY-SA)

Os mitos fazem parte de todas as culturas do mundo e são usados para explicar fenômenos naturais, a origem de um povo e como a sua civilização se desenvolveu, como também o motivo pelo qual as coisas acontecem da forma em que de fato acontecem. Em seu nível mais básico, os mitos confortam dando um sentido de ordem e significado ao que por vezes pode parecer um mundo caótico.

A mitologia (do grego mythos para "história-do-povo", e logos para "palavra" ou "discurso", ou seja, uma história contada de um povo) é o estudo e interpretação de contos e fábulas geralmente sagrados para uma cultura – conhecidos como mitos –, como também pode ser uma coleção de determinadas histórias que lidam com diversos aspectos da condição humana: o bem e o mal; o significado do sofrimento; as origens humanas; a origem dos nomes de lugares, animais, valores culturais e tradições; o significado da vida e da morte; da vida após a morte; e histórias celestiais de deuses ou de um deus. Os mitos expressam as crenças e os valores sobre estes assuntos mantidos por uma certa cultura.

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Os mitos contam histórias dos antepassados, a origem dos seres humanos e do mundo, sobre deuses, seres sobrenaturais (sátiros, ninfas, sereias) e heróis com superpoderes humanos, geralmente concedidos por algum deus (como no caso do mito grego de Hércules ou Perseu). Os mitos também descrevem origens ou nuances de costumes antigos ou explicam acontecimentos naturais como o nascer e o pôr-do-sol, o ciclo da lua e as estações, ou trovões e tempestades com raios. Os estudiosos Maria Leach e Jerome Fried definem a mitologia segundo estas linhas:

[um mito é] uma história, apresentada como tendo realmente ocorrido numa época anterior, explicando as tradições cosmológicas e sobrenaturais de um povo, seus deuses, heróis, traços culturais, crenças religiosas etc. O propósito do mito é explicar, assim como disse o Sr. G.L. Gomme, os mitos explicam as questões na "ciência de uma era pré-científica". Assim, os mitos dizem sobre a criação do homem, dos animais, dos marcos; dizem porque é que um determinado animal tem suas características (por exemplo, a razão do morcego ser cego ou voar apenas à noite), o porquê ou como que certos fenômenos naturais vieram a ser (por exemplo, o porquê de o arco-íris aparecer ou como que a constelação de Órion entrou no céu), como e o porquê de rituais e cerimônias começarem e o porquê de continuarem. (778)

segundo o psiquiatra carl jung, o mito é um aspecto necessário da psique humana em que é preciso encontrar sentido & ordem no mundo.

A mitologia tem desempenhado um papel integral em todas as civilizações ao redor do mundo. Pinturas rupestres pré-históricas, gravuras em pedra, túmulos e monumentos sugerem que, muito antes de os seres humanos terem posto seus mitos em palavras, já tinham desenvolvido uma estrutura de crenças correspondente à definição de "mito" dada por Leach e Fried. Segundo o psiquiatra Carl Jung do século XX, o mito é um aspecto necessário da psique humana em que é preciso encontrar sentido e ordem num mundo que muitas vezes se apresenta como caótico e sem sentido. Jung escreve:

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A psique, como reflexo do mundo e do homem, é algo de tamanha complexidade infinita que pode ser observada e estudada de muitas formas. Ela nos enfrenta com o mesmo problema que o mundo tem: pois o estudo sistemático do mundo está além das nossas capacidades, temos que nos contentar com meras regras de ouro e com aspectos que particularmente nos interessam. Cada um faz para si seu próprio segmento de mundo e constrói seu próprio sistema privado, muitas vezes com compartimentos herméticos, de modo que, após certo tempo, pareça-lhe ter compreendido o significado e a estrutura do todo. Porém, o finito jamais será capaz de compreender o infinito. (23-24)

As infinitas referências junguianas é a qualidade numinosa do misterioso, sagrado e poderoso que proporciona o fascínio subjacente aos contos e temas mitológicos, pois entrega um significado final à existência humana. O conceito de algo maior e mais poderoso do que o próprio sujeito, dá-lhe a esperança de direção e proteção num mundo incerto. De acordo com Leach e Fried, o misterioso, sagrado e poderoso é "um conceito da mente humana desde os tempos mais remotos: a reação psicológica básica ao universo e ao ambiente subjacente a toda religião" (777).

Ra Travelling Through the Underworld
Rá Viajando Pelo Submundo
Unknown Artist (Public Domain)

O que se chama de "mitologia" nos tempos atuais era a religião da antiguidade, como deveria ser lembrado. As histórias que constituem o corpus da mitologia antiga, serviam o mesmo propósito às pessoas da época como as histórias das escrituras aceitas servem às pessoas de hoje: explicavam, confortavam e conduziam um público e, além disso, proporcionavam um senso de unificação, coesão e proteção para uma comunidade de crentes com as mesmas convicções.

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Tipos de Mito

O estudioso Joseph Campbell, famoso defensor do estudo dos mitos, nota como a mitologia é a forma subjacente de toda civilização e a base da consciência de cada indivíduo. Em sua obra seminal O Herói de Mil Faces, Campbell discute sobre o que ele mesmo chama de "monomito", as similaridades no tema, personagens, propósito e progressão narrativa de mitos provenientes de diferentes culturas, em diferentes épocas, ao redor do mundo e ao longo da história. Campbell escreve:

Qual é o segredo da visão atemporal? A que profundidade da mente ela deriva? Por que a mitologia é a mesma em todos os lugares sob suas variedades de trajes? E o que é que ela ensina? (4)

A resposta de Campbell, em última análise, é que os mitos ensinam o significado. A mitologia explica, habilita, estabiliza e eleva a vida de um crente fruto de uma existência mundana para uma imbuída de significado eterno. Em um nível mais básico, um mito explica um fenômeno, uma tradição, um nome de um local ou formação geológica, mas também pode elevar um evento ocorrido a um significado grandioso e até mesmo sobrenatural, sendo o mais importante ainda fornecer um modelo a ser seguido para a jornada de um indivíduo durante sua vida.

Existem vários tipos diferentes de mito, mas, essencialmente, podem ser colocados em três grupos:

  • Mitos Etiológicos
  • Mitos Históricos
  • Mitos Psicológicos

Os mitos etiológicos (do grego aetion que significa "razão") explicam por que uma determinada coisa é do jeito que é ou como veio a ser. Este tipo de mito normalmente é definido como uma história de origem. Por exemplo, na mitologia egípcia o sicômoro tem a aparência que tem porque é o lar da deusa Hator, a Senhora do Sicômoro. Na mitologia nórdica, o trovão é reconhecido como a carruagem de Thor correndo pelos céus. Os mitos etiológicos podem oferecer explicações sobre por que o mundo é do jeito que é – como na história da mitologia grega da Caixa de Pandora, que explica de que modo o mal e o sofrimento foram lançados no mundo – ou como uma certa instituição veio a ser – igualmente no mito chinês da deusa Nuwa, que continuou criando seres humanos repetidamente até que se cansou e instituiu a prática do casamento, a fim de deixá-los se reproduzir por conta própria. Os personagens dos mitos sempre servem a um propósito específico, seja explicando o casamento, uma missão grandiosa ou uma batalha decisiva.

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Pandora About to Open Her Box
Pandora Prestes a Abrir Sua Caixa
Lawrence Alma-Tadema (Public Domain)

Os mitos históricos recontam um acontecimento do passado, mas elevam-no com maior apreço do que o acontecimento real (se é que aconteceu). Um exemplo disto é a história da Batalha de Kurukshetra, tal como descrita na epopeia indiana Mahabharata, na qual os irmãos Pandava simbolizam valores diferentes e fornecem modelos a serem seguidos, mesmo que ocasionalmente apresentem falhas. Kurukshetra é então apresentado em microcosmo no Bhagavad Gita, onde um dos Pandavas, Arjuna, é visitado no campo de batalha pelo deus Krishna, avatar de Vishnu, a fim de explicar seu propósito na vida. Se a Batalha de Kurukshetra alguma vez ocorrera é irrelevante para o poder dessas duas histórias em grau mitológico. Pode-se afirmar o mesmo sobre os mitos religiosos das narrativas abraâmicas bíblicas ou do Cerco de Troia e sua queda, conforme descrito na Ilíada de Homero ou na jornada de Odisseu para casa em Odisseia, assim como nas aventuras de Eneias na obra de Virgílio.

Os mitos psicológicos apresentam ao indivíduo uma jornada do conhecido ao desconhecido que, segundo Jung e Campbell, representa uma necessidade psicológica de equilibrar o mundo externo com a sua própria consciência interna. Seja como for, a história do mito em si geralmente envolve um herói ou heroína em uma jornada na qual descobrem sua verdadeira identidade ou destino e, descobrindo isto, resolvem uma crise ao mesmo tempo em que entregam ao público algum valor cultural importante.

Provavelmente o mito clássico mais conhecido deste tipo é o de Édipo, o príncipe que, tentando evitar o prenúncio de que cresceria para matar seu pai, deixa sua vida para trás com o intuito de viajar para uma outra região onde, sem saber, acaba matando o homem que era seu pai verdadeiro, descobrindo que fora abandonado por ele quando nasceu, na tentativa de se desviar daquele mesmo prenúncio.

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Oedipus & the Sphinx of Thebes
Édipo & A Esfinge de Tebas
Carole Raddato (CC BY-SA)

O conto de Édipo teria surpreendido um público grego antigo pela futilidade de tentar fugir ou mudar seu destino decretado pelos deuses, como também teria despertado medo e admiração desses deuses no povo, infundindo assim um valor cultural desejável. A nível pessoal, a história poderia também encorajar um ouvinte a aceitar quaisquer problemas que estivesse enfrentando no momento, uma vez que até um personagem de realeza como Édipo sofreu e, além disso, não importa com o que estivesse lidando, provavelmente não seria tão ruim como matar o próprio pai e casar-se inadvertidamente com a mãe.

Famosos Mitos Desses Tipos

para os antepassados, o mais importante era o significado da história, não a verdade literal contida em detalhes de uma tal narrativa.

Um dos mais conhecidos mitos etiológicos provêm da Grécia, sob a forma do conto de Deméter, a deusa dos grãos e das colheitas, e a sua filha Perséfone que se tornou a rainha dos mortos. Nesta história, Perséfone é raptada por Hades, deus do submundo, e levada para o seu reino sombrio. Deméter começa a procurar desesperadamente pela donzela por todo lado, mas não a encontra. Durante este período de tristeza de Deméter, a safra morre, a população passa fome e os deuses acabam não recebendo o que lhes é devido. Zeus, o rei de todos os deuses, ordena Hades a entregar Perséfone à sua mãe e Hades obedece, mas, por Perséfone ter comido uma certa quantia de sementes de romã enquanto esteve no submundo, ela tem de passar metade do ano no mundo abaixo podendo desfrutar da outra metade com a sua mãe no mundo acima.

Esta história explicava as mudanças de estações na Grécia. Quando estava calor e os campos fartos de colheitas, Perséfone estava com sua mãe e Deméter estava feliz, o que fazia o mundo florescer; na estação fria e chuvosa, quando Perséfone estava no mundo abaixo como rainha de Hades, Deméter se lamentava e a terra ficava árida. Uma vez que, ao longo do conto, Deméter ensina ao povo de Elêusis os segredos da agricultura, o mito também serviria para explicar como as pessoas aprenderam a cultivar a terra pela primeira vez e, ainda, como Deméter ensina o jeito certo de reconhecê-la e adorá-la, ou seja, a veneração adequada aos deuses.

O mito histórico mais famoso do Ocidente é a Ilíada de Homero – epopeia do século VIII a.C. –, que conta a história do cerco e da queda da cidade de Troia. Helena, a esposa do rei aqueu Menelau, foge com o príncipe troiano Páris e, Menelau, jurando trazê-la de volta para casa, recorre à ajuda do seu irmão Agamémnon que, em seguida, pede ajuda aos reis e príncipes das diversas cidades-estado e eles decidem atacar Troia. O grande herói aqueu Aquiles, invencível em batalhas, sente-se insultado por Agamémnon e se recusa a lutar, resultando na morte de seu querido companheiro Pátroclo e de muitos outros anfitriões aqueus. Embora existam muitas histórias diferentes contadas na Ilíada, este tema central dos perigos inerentes ao orgulho é enfatizado como valor cultural. Orgulhar-se de alguém era considerado uma virtude, mas demasiadamente trazia o desastre.

Na China, este tema foi explorado de outra forma através do conto de Fuxi (fu-shi), o deus do fogo. Como deus, Fuxi tinha muitas responsabilidades, mas quando sua amiga, a deusa Nuwa, pediu a sua ajuda, ele não recusou. Nuwa havia criado seres-humanos, contudo, descobriu que eles não sabiam fazer nada e a deusa não tinha paciência para ensiná-los. Fuxi trouxe aos humanos o fogo, ensinou-os a controlá-lo e usá-lo para cozer comida e se aquecerem. Ele então os ensinou a tecer redes de pesca e obter alimento do mar e, posteriormente, deu-lhes as artes divinatórias, música e escrita. Acredita-se que Fuxi seja baseado em um rei histórico real que viveu c. 2953-2736 a.C., e possivelmente forneceu a ordem necessária para a ascensão da dinastia Xia (c. 2070-1600 a.C.), a primeira dinastia histórica na China. Nesta história, Fuxi põe de lado o seu orgulho como deus e se humilha a serviço de seu amigo Nuwa e da humanidade.

O mito mais antigo do mundo é, sem surpresa, um mito psicológico relacionado à inevitabilidade da morte e a tentativa do indivíduo de encontrar sentido na vida. A Epopeia de Gilgamesh (escrito c. 2150-1400 a.C.) se desenvolveu na Mesopotâmia a partir de poemas sumérios relacionados ao histórico Gilgamesh, rei de Uruque, que mais tarde teve seu status elevado para semideus. Na história, Gilgamesh é um rei orgulhoso que é tão soberbo a ponto de os deuses acharem que ele precisa de uma lição de humildade. Eles preparam o homem selvagem Enkidu como adversário digno para o rei e os dois lutam, entretanto, quando ninguém consegue levar a melhor sobre o outro, eles se tornam melhores amigos. Enkidu é posteriormente morto pelos deuses por afrontá-los e Gilgamesh, aflito, embarca em busca pelo sentido da vida incorporado no conceito de imortalidade. Embora ele não consiga ganhar a vida eterna, sua jornada o enriquece e ele retorna ao seu reino muito melhor e mais sábio como homem e rei.

Flood Tablet of the Epic of Gilgamesh
Tábua do Dilúvio da Epopeia de Gilgamesh
Osama Shukir Muhammed Amin (Copyright)

Joseph Campbell chamou o tipo de mito psicológico mais conhecido de “a Jornada do Herói”, no qual a história começa com um herói ou heroína, geralmente nascido membro da realeza, separado de sua verdadeira identidade e vivendo num mundo ou em reino caótico. O herói passa por diversas fases na história, que geralmente assumem a forma de uma jornada, até ele descobrir quem realmente é e conseguir corrigir algum grande erro, de modo que restabeleça ordem. Esta progressão narrativa é mais conhecida nos dias modernos, como na trama de Star Wars, e o sucesso esmagador desta franquia de filmes atesta o poder duradouro de temas e símbolos mitológicos.

Conclusão

Todas as culturas do mundo tiveram, e ainda têm, algum tipo de mitologia. A mitologia clássica dos antigos gregos e romanos é a mais familiar para as pessoas do ocidente, mas os motivos encontrados nessas histórias são baseados em outras ao redor do mundo. O conto grego de Prometeu, o portador do fogo e professor da humanidade, é baseado no conto chinês de Fuxi. A história de Nuwa e sua criação dos seres-humanos está em sintonia com outra do outro lado do planeta: a história de criação maia em Popol-Vuh, na qual os seres-humanos são criados podendo fazer nada e se revelam inúteis. Por conseguinte, os humanos são destruídos e os deuses, então, tentam novamente. O mesmo aparece na mitologia da Mesopotâmia, em que os deuses têm dificuldade em criar os seres-humanos, os quais continuam se saindo mal.

O propósito de um mito era fornecer ao ouvinte uma verdade que pudesse ser interpretada pelo próprio público, dentro de seu sistema de valores culturais.

Os mesmos tipos de histórias, e muitas vezes a mesma história, podem ser encontrados em mitos de toda parte do mundo. Mitos africanos, nativos da América, chineses ou europeus, todos detêm a mesma função de explicar, confortar e dar sentido. A história bíblica da criação conforme relatada no Livro de Gênesis, por exemplo, em que um grande deus fala da criação da existência é bastante similar às histórias de criação da antiga Suméria, Egito, Fenícia e China.

A história do Grande Dilúvio pode ser encontrada na mitologia de praticamente todas as culturas da Terra, mas toma sua forma bíblica do mito de Atrahasis da Mesopotâmia. A figura de um deus que morre e ressuscita (uma divindade que morre pelo bem ou para redimir o povo de seus pecados, desce à terra e ressuscita novamente) pode ser encontrada tanto na antiga Suméria nos contos de Gilgamesh, no poema A Descida de Inana e em outras obras quanto no mito egípcio de Osíris, nas histórias gregas de Dioniso, Adônis e de Perséfone, no fenício Ciclo de Baal, no hindu Krishna (entre muitos outros) e até no mais famoso dessas figuras, Jesus Cristo. No livro bíblico de Eclesiastes em 1:9 é afirmado que “não há nada de novo sob o sol”, e isto é tão verdadeiro acerca de sistemas religioso-mitológicos, seus símbolos e personagens do que de qualquer outra coisa. Joseph Campbell observa:

Por todo o mundo habitado, em todos os tempos e sob todas as circunstâncias, os mitos dos homens floresceram; e têm sido a inspiração viva de qualquer outra coisa que possa ter surgido das atividades do corpo e da mente humana. Não seria exagero dizer que o mito é a abertura secreta através da qual as inexauríveis energias do cosmos penetram nas manifestações culturais humanas. As religiões, filosofias, artes, formas sociais do homem primitivo e histórico, descobertas fundamentais das ciências e da tecnologia e os próprios sonhos que nos povoam o sono surgem do círculo básico e mágico do mito. (3)

A mitologia tenta responder as questões mais difíceis e mais básicas da existência humana: Quem sou eu? De onde vim? Por que estou aqui? Para onde irei? Para os antepassados, o mais importante era o significado da história, não a verdade literal contida em detalhes de uma tal narrativa. Por exemplo, há diversas variações sobre o nascimento e a vida da deusa Hathor do Egito, e nenhum egípcio antigo teria rejeitado uma delas por ser "falsa" e escolhido outra como "verdadeira". A mensagem do mito que continha a verdade, não os detalhes específicos da história, o que é evidente no gênero conhecido como "literatura naru" da Mesopotâmia, na qual figuras históricas são apresentadas fora de seu contexto histórico.

No mundo antigo, entendia-se que o propósito de um mito era fornecer ao ouvinte uma verdade que pudesse ser interpretada pelo próprio público, dentro de seu sistema de valores culturais. A apreensão da realidade foi deixada para que o indivíduo pudesse interpretar e encontrar os valores expressos nos mitos, ao invés de ter essa realidade interpretada por alguma figura de autoridade.

Esta continua sendo a diferença essencial entre um sermão e uma experiência individual com a mitologia religiosa; dentro do sistema de crenças culturais de alguém, um sermão pode apenas fomentar ou reforçar a crença comum, enquanto um mito, embora possa fazer o mesmo, tem o potencial de elevar e transformar a compreensão individual através da grandeza de paisagens simbólicas, personagens, imagens e temas. Os mitos antigos ainda estão em sintonia com o público moderno, precisamente pelo fato de os escritores antigos elaborarem-nos para uma interpretação individual, deixando cada ouvinte reconhecer sozinho o significado dos contos, para então responder-lhes em conformidade.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Leonardo Montagnolli
Tradutor e revisor profissional de inglês para português. Com amplo conhecimento cultural nos dois idiomas e tendo a escrita como minha maior habilidade, sou apto para trabalhar manualmente com tradução técnica de diversos campos, incluindo história.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é cofundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou história, filosofia, literatura e redação. Ele viajou bastante e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2018, outubro 31). Mitologia [Mythology]. (L. Montagnolli, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-427/mitologia/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Mitologia." Traduzido por Leonardo Montagnolli. World History Encyclopedia. Última modificação outubro 31, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-427/mitologia/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Mitologia." Traduzido por Leonardo Montagnolli. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 31 out 2018. Web. 30 out 2024.