O cristianismo é a maior religião do mundo, com 2,8 bilhões de adeptos. É considerada uma das três religiões abraâmicas ou monoteístas de tradição ocidental, junto com o judaísmo e o islamismo. “Cristão” é derivado do grego christos para o hebreu messiah (ungido). Christianoi, “seguidores de Cristo”, tornou-se o nome de um grupo que seguia os ensinamentos de Jesus de Nazaré no século I em Israel e proclamado como o esperado messias dos profetas.
O cristianismo uniu as crenças do judaísmo antigo com elementos da cultura dominante do Império Romano. Os textos sagrados encontram-se reunidos na Bíblia cristã: as Escrituras judaicas (agora consideradas Antigo Testamento) e o Novo Testamento (os Evangelhos, as Cartas de Paulo e o Livro da Revelação). Este artigo pesquisa as origens dos movimentos que, basicamente, tornaram-se uma religião independente.
Contexto no Antigo Judaísmo
O antigo judaísmo compartilhou muitos elementos com outras culturas e suas concepções religiosas. Eles acreditavam que os céus continham gradientes dos poderes divinos que afetavam diretamente suas vidas diárias. O que distinguia os antigos judeus de seus vizinhos era a determinação de seu Deus de Israel para que fizessem sacrifícios (oferendas) somente a Ele e o culto, nesse sentido, significava sacrifícios. Os judeus possuíam marcadores distintos da sua identidade étnica: circuncisão, leis alimentares e a observação do Sabbath (suspensão de todo trabalho cada sétimo dia). Confiavam em que um antigo líder, Moisés, havia recebido um código de lei diretamente de Deus para organizar os judeus como uma nação sob a Lei Mosaica. Eles implantaram um reino em Canaan sob os auspícios do Reis David e de Salomão, que construiu o Templo de Jerusalém (1.000-920 a.C.).
Os judeus sofreram diversos desastres nacionais durante séculos. O Império Assírio conquistou e destruiu o Reino de Israel ao Norte em 722 a.C., que foi seguido pela destruição de Jerusalém e do Templo pelo Império Neobabilônico em 587 a.C. Os profetas de Israel (oráculos) racionalizaram os desastres dizendo que Deus havia punido os judeus por causa da integração deles com a idolatria no país. No entanto, ofereceram uma mensagem de esperança: no futuro, Deus interviria uma vez mais na história humana no final dos tempos. Naquele tempo, Deus enviaria um messias da linhagem de David e alguns gentios (não judeus) se converteriam e venerariam o Deus de Israel. Haveria uma batalha final contra as nações e Israel seria restaurado à sua glória anterior. Israel serviria como um modelo de nação virtuosa para o resto do mundo, elevando seu Deus acima de todos os outros.
Ocupações Gregas e Romanas
No século I a.C., os judeus eram governados pelo Império Selêucida. O Rei Antiochus Epiphanes (rein.175-164 a.C.) proibiu os costumes judaicos e determinou que os judeus prestassem sacrifícios aos deuses da religião grega. Os judeus, sob a liderança de uma família hasmoneana, ergueram-se na Revolta dos Macabeus e os expulsaram. Como registrado em 2 Macabeus, o sofrimento deles introduziu dois novos conceitos no judaísmo:
- O conceito de um mártir (testemunha) como alguém que morreu por suas crenças.
- Todos os mártires seriam recompensados com imediata ressurreição para o céu.
Roma conquistou a Judeia em 63 a.C. Várias seitas judaicas, como os Fariseus, Saduceus, Essênios e Zelotes, enfrentaram a ocupação de diferentes maneiras. Estes grupos compartilhavam as tradições básicas, porém diferiam na maneira a responder ao novo opressor e à cultura dominante do Império Romano.
Durante o primeiro século d.C., muitas pessoas messiânicas tentaram estimular uma rebelião entre as multidões nas épocas de festivais. A resposta típica de Roma era matar o líder e quantos seguidores pudesse encontrar. Advogar um reino que não era Roma equivalia a traição, cuja pena era a crucificação.
Jesus de Nazaré
Um pregador itinerante de Nazaré, Jesus, tornou-se o foco de uma seita de judeus que se reuniam para ouvir seus sermões na região da Galileia. Alinhado com os profetas de Israel, ele afirmou que o reino estava iminente: Deus rapidamente interviria e daria justiça para todos. Ele selecionou doze discípulos (estudantes) como um símbolo das doze tribos de Israel. De acordo com os evangelhos (histórias de Jesus escritos entre os anos 70-100 d.C.), Ele se tornou famoso por seus milagres. Seus seguidores afirmavam que Ele era o messias prometido.
Os Evangelhos relatam que em uma ida para Jerusalém durante a Páscoa (c.30-33) Jesus foi levado a julgamento pelo Sinédrio (o conselho governante em Jerusalém) por, alegadamente, pregar contra as práticas do Templo. Condenado, foi levado à presença do procurador romano, Pôncio Pilatos, que o crucificou devido à afirmação de que era o Rei dos Judeus. O julgamento e a crucificação de Jesus de Nazaré vieram a se tornar parte da liturgia cristã (rituais da Igreja) relembrando estes eventos a cada ano, durante a Semana da Páscoa.
Esta seita dos judeus diferia das outras na afirmação messiânica de Jesus. Apesar de ter sido morto, ressurgiu dos mortos no domingo seguinte à sua morte. De acordo com Lucas, ele ascendeu ao Céu fisicamente. O que faz desta seita diferente de outras era o ensinamento de que os que seguiam Jesus também compartilhariam na ressurreição dos mortos.
Os escritores dos evangelhos também tiveram de enfrentar o problema de que quando Jesus estava na terra e o Reino ainda não havia se concretizado. Um dos primeiros seguidores concebeu a ideia conhecida como parousia (“segundo aparecimento”), ou seja, Jesus retornaria à terra em algum tempo no futuro e, então, todas as afirmações dos profetas seriam cumpridas. Cristãos modernos ainda antecipam o retorno de Cristo.
As Missões aos Gentios
De acordo com os Atos dos Apóstolos 2, na festa judaica de Pentecostes, o Espírito Santo veio sobre os discípulos e lhes deu o poder de assumir a mensagem de Jesus para outras cidades como missionários. O ritual de admissão era o Batismo, um ritual com água que simbolizava que alguém tinha se arrependido e se voltado para Deus. Isto se iniciou com um contemporâneo de Jesus, um homem conhecido como João, o Batista.
Quando os primeiros missionários cristãos levaram sua mensagem a outras cidades, para surpresa deles, mais gentios procuravam se unir ao movimento do que os judeus. Uma reunião foi realizada em Jerusalém (c.49) para decidir se os gentios deveriam se converter primeiro ao judaísmo. O Concílio Apostólico decidiu que os gentios não tinham de adotar os marcadores da identidade étnica dos judeus (circuncisão, leis dietéticas, Sabbath), mas que deveriam cessar comer carne de animais selvagens, alimento de sacrifício aos deuses e seguir os códigos judaicos a respeito de incesto.
Paulo, o Apóstolo
Como um fariseu, Paulo, inicialmente, opôs-se ao novo movimento. Foi então que recebeu uma visão de Jesus (agora chamado “Cristo”) que lhe disse que seria ele seu apóstolo (“enviado”) para os gentios. Paulo viajou para as cidades do Império Romano do Oriente, pregando quaisquer que fossem as tradições que conheciam a respeito de Cristo, porém adicionando a completa abolição da idolatria para seus membros. Por milhares de anos, antigas culturas afirmavam que as ideias religiosas estariam no sangue, vindo dos ancestrais que as haviam recebido dos deuses. Paulo derrubou este antigo sistema aos afirmar que a fé (pistis, lealdade) aos ensinamentos de Cristo era somente o necessário para a salvação (soter, ser salvado). As Cartas de Paulo, o Apóstolo, aos Gentios indicam que ele foi muitas vezes preso devido a esses ensinamentos.
Paulo dizia que o pecado de Adão trouxe a morte ao mundo como punição e a morte de Cristo trouxe a vida eterna. Cristo expiou pelo pecado de Adão, “recobrindo” e “reparando a violação do pecado”. Utilizando-se de analogias com os tribunais, Paulo ensinava que os discípulos absolvidos (“justificados”) não sofreriam o castigo pelo pecado, ou seja, a morte. Mais tarde, um Padre da Igreja, Agostinho de Hippo (*354 +430) dizia que o pecado original de Adão e Eva deixou uma mácula no primeiro humano devido à relação sexual, a qual foi passada a todos os humanos. Isto veio introduzir o conceito cristão de sexualidade humana como pecado e também levou à convicção de que ninguém pode ser salvo sem o batismo.
Paulo disse que quando do retorno de Cristo, os crentes serão transformados em corpos espirituais e se unirão a Cristo liderando o Reino de Deus na Terra. Como as décadas se passavam e Cristo não retornava, foi feito um ajuste para convicção que muito embora os crentes ainda morressem fisicamente, eles seriam capazes de desfrutar uma outra vida no Céu.
Cristo como Deus
Uma grande inovação em relação ao judaísmo foi a pregação de Paulo (Filipenses 2) de que Cristo estava presente na criação e havia descido dos céus como uma manifestação do próprio Deus com um corpo humano. Como tal, Cristo estava agora digno de culto, com o título de “Senhor” e equivalente a Deus. Para os gentios, esta ideia combinava bem com as histórias de seus próprios deuses viajando pela terra disfarçados, porém para muitos judeus, este ensinamento era ofensivo e blasfemo.
A Grande Revolta Judaica de 66 resultou na destruição de Jerusalém e do Templo pelo general e futuro Imperador romano Tito no ano de 70. Este evento transformou-se em um grito de guerra contra os judeus que não aceitaram Jesus como o Messias: Deus puniu-os utilizando-se de Roma para destruir o sistema de crença judaico.
Os ensinamentos inovadores do Cristianismo Primitivo foram talvez os maiores incentivos para a disseminação do movimento por todo o Império. Não mais presos à geografia ou aos ancestrais étnicos, os fiéis foram acolhidos de todas as províncias e todas as classes em um coletivo de conceitos religiosos compartilhados. Por volta do século II, os cristãos podiam ser encontrados desde a Bretanha, Europa Continental e África e alguma áreas da Ásia.
A Perseguição aos Cristãos (30-312 d.C.)
A Roma Antiga possuía os collegia, grupos de pessoas que compartilhavam os mesmos negócios e se reuniam sob os auspícios de uma deidade. No entanto, o grupo precisava de uma permissão do Senado Romano para se reunir. Júlio César (*100 a.C +44 a.C.) concedeu aos judeus o direito de se reunirem e isentou-os de participarem dos cultos do estado de Roma, porém os cristãos não possuíam o mesmo direito porque não eram judeus (não circuncidados).
Baseados no conceito grego de apotheosis (“divinizar”), Augusto (rein.27 a.C. – 14 d.C.) instituiu o culto imperial e, começando com Júlio César, os imperadores mortos foram considerados deuses. Isto evoluiu até tornar os imperadores vivos como responsáveis pelas determinações dos deuses, o que foi utilizado como propaganda por todo o Império Romano. Os cristãos se recusaram a participar e a resposta de Roma pela disseminação do cristianismo foi acusá-los pelo crime de ateísmo e “desrespeito aos deuses”. Irritar os deuses ameaçava a prosperidade do Império Romano, o que equivalia ao crime de traição. Esta era a razão da execução dos cristãos nas arenas, com a frase “cristãos para os leões”. Pelos próximos 300 anos, os líderes cristãos continuamente solicitaram aos imperadores que também ficassem isentos dos cultos de estado, como os judeus, mas foram recusados até 313 d.C.
Os cristãos adotaram o mesmo conceito que os Macabeus ao afirmar que quem morresse devido à sua fé, seria instantaneamente transferido parra a presença de Deus como um mártir. O martírio absolvia todos os pecados e, mais tarde a lendária literatura conhecida como Martirológio, descreveu os detalhes de seus suplícios. No entanto, a perseguição era esporádica e limitada a tempos de crises. Terremotos, pragas, inflação, fome, secas e invasões das fronteiras eram vistas como irritação dos deuses e os cristãos constituíam um conveniente bode expiatório por tais desastres. As mais severas perseguições tiveram lugar no reinado de Décio (251 d.C.) e Diocleciano (302/303 d.C.).
A Criação da Igreja e da Hierarquia Institucional
Por volta da metade do século II, décadas haviam se passado e o Reino de Deus não chegara. Os cristãos ainda acreditavam no retorno de Cristo, porém isto agora foi postergado para o futuro. Neste ínterim, assembleias cristãs tornaram-se institucionalizadas com a eleição de líderes e organizadas com a ideia de que os fiéis deveriam viver como se o reino já estivesse aqui; o reino poderia ser encontrado na Igreja. (O grego ecclesia, “assembleia”, ao final foi traduzido como “igreja”). Pouquíssimos judeu-cristãos permaneceram nas comunidades. Os líderes cristãos foram convertidos educados a partir da cultura dominante.
Considerados, retrospectivamente, como Padres da Igreja, os escritos e opiniões deste homens transformaram-se em dogmas cristãos, um conjunto de crenças aceitas para o grupo:
- A eleição do clero – Tomando emprestado um nível administrativo do governo romano provincial, bispos (supervisor em uma diocese) foram eleitos pelas comunidades. Diáconos também foram eleitos para auxiliarem os bispos na distribuição de caridade. Os diáconos, ao final, transformaram-se em sacerdotes, e juntos, os dois níveis constituíram o clero cristão.
- O Espírito de Deus – O Espírito de Deus havia infundido Cristo com a capacidade de perdoar os pecados na Terra. Entendeu-se que fora concedido primeiramente a seu primeiro discípulo, Pedro, em seguida a outros. Estes passaram o Espírito de Deus aos presbíteros que indicavam e ao clero cristão foi concedido o poder único para perdoar os pecados.
- Filosofia Cristã – Os filósofos compartilham uma crença comum na existência de um deus muito alto, um ser primeiro etéreo que emanou os vários poderes no universo. Deus, então, emanou um conceito conhecido como logos (muitas vezes traduzido como “palavra”) para organizar a matéria no Universo. Os escritores cristãos afirmavam que o deus mais alto era o Deus de Israel, que emanou Cristo na forma do logos.
- Celibato para o clero – Utilizando analogias com disciplina atlética, ascesis, ascetismo (não satisfazendo o corpo) tornou-se um importante ideal cristão. O clero cristão era encorajado ao celibato (sem casamento) e casto (sem sexo), o que os colocava acima da comunidade como mártires vivos que se sacrificavam uma vida normal pelo amor à Igreja.
- Ortodoxia/Heresia – Outra grande inovação surgiu a partir dos conceitos de ortodoxia (“crença correta”) e heresia (do grego haeresis, uma escola de filosofia). Na metade do século II, surgiram comunidades cristãs classificadas sob o termo gnósticos. Estes pretendiam possuir conhecimento secreto a respeito da natureza de Deus, o Universo e Cristo. As ideias deles desafiavam os ensinamentos cristãos convencionais a respeito da salvação encontrada na crucificação e ressurreição do corpo. A reação contra os gnósticos foi a produção de um enorme corpo literário traçando as crenças corretas (ortodoxia) em oposição às crenças incorretas destes grupos (heresia). Estes ensinamentos vieram a se tornar, mais tarde, a base para o Credo Cristão. Declarando hereges os evangelhos gnósticos, observou-se o início da canonização de somente quatro evangelhos no Novo Testamento: Marcos, Mateus, Lucas e João.
- A Separação do Cristianismo do Judaísmo – Em 135 d.C., os judeus se revoltaram contra Roma e quando a Revolta Bar-Kokhba falhou, os líderes cristãos ficaram ansiosos em convencer Roma de que os cristãos eram cidadãos patriotas que obedeciam a lei romana. Em seus apelos para que cessassem a perseguição dos cristãos, os líderes pediam aos imperadores para reconhecerem a antiguidade dos cristãos, como verus Israel, os verdadeiros Judeus da aliança com Deus. Para provar a antiguidade dos cristãos, o recurso filosófico-literário da alegoria foi aplicado às Escrituras Judaicas. O testamento dos judeus e profetas de Israel todos apontavam para Cristo. Toda vez que Deus aparecia nas Escrituras era como um Cristo pré-existente.
O cristianismo era agora um sistema religioso, não mais etnicamente judeu e não mais alinhado com a cultura dominante, porém um sistema único com elementos de ambas.
A Cristianização do Império Romano
Inesperadamente a vida mudou para todos os cristãos em 312 d.C. Em seu objetivo de se tornar o único governante do Império Romano, Constantino I (rein. 306-337 d.C.) entrou em choque com outro candidato no Império do Ocidente, Maxentius. Na noite de véspera da Batalha da Ponte Milviana em Roma, Constantino recebeu uma visão com tanto o signo da cruz como as duas primeiras letra do nome de Cristo, chi-ro, com as palavras en toutoi nika (com este signo vencerás) escrito embaixo. Derrotando Maxentius, Constantino creditou a vitória ao Deus Cristão.
O Édito de Milão (313 d.C.) finalmente concedeu aos cristãos permissão para se reunirem. A conversão de Constantino ao cristianismo não fez o Império cristão da noite para o dia, mas agora o cristianismo encontrava-se legalizado. Constantino favoreceu os cristãos isentando o clero de impostos, indicando cristãos como magistrados e fornecendo fundos para a construção de igrejas.
Durante a perseguição de Diocleciano, alguns bispos cristãos haviam cometido apostasia ao fazer sacrifícios aos deuses. O debate que se seguiu versava a respeito de se os erros de bispos fossem perdoados poderiam dividir as igrejas, teve a decisão encaminhada a Constantino como um mediador. Para promover a unidade do Império, ele determinou uma política de “esquecer e perdoar” e tornou-se o chefe da Igreja como supremo Patrono do Cristianismo. Ele adotou a visão dos Padres da Igreja e utilizou o mesmo conceito da época que Roma perseguia os cristãos: qualquer um que discordar de seu cristianismo será considerado um herege e culpado de traição.
O Concílio de Nicéa
Quando os seguidores de Jesus começaram a cultuá-lo como um deus, os cristãos se viram frente a um problema relacionado à pretensão de que haviam herdado o monoteísmo judaico. Desde o início, os cristãos adoraram Jesus como um deus e batizavam “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Didache 7:5). No princípio do século IV d.C., um presbítero na igreja em Alexandria de nome Arius propôs que se você acredita que Deus criou tudo no universo, então em algum momento, como criador, e certamente criou Cristo. Isto rebaixava Cristo como um subordinado, uma criatura de Deus. Tumultos surgiram a respeito disto em Alexandria e outras cidades. Em 325 d.C., Constantino convocou para uma grande conferência para acertar este ponto e chamou 217 bispos para a cidade de Nicéa.
Após dias de debates, a conferência votou que Deus e Cristo são idênticos em relação à essência (compartilham a mesma substância etérea) e que existiram desde o início dos tempos. Quando Deus emanou o logos (como Cristo), ele se tornou manifesto no Jesus terreno. Com Cristo idêntico a Deus, a herança cristã manteve o monoteísmo tradicional judaico, definido a partir de então como crença em um único Deus. Até o retorno de Cristo, o Imperador cristão o substituiria na Terra. Como substituto de Cristo, representações de Constantino e seus sucessores passaram a ter halos sobre suas cabeças.
Enquanto tinha todos os bispos em conferência, Constantino criou o que viria a ser chamado de Credo Niceno, outra inovação cristã. (É chamado credo a partir da primeira palavra, em latim, Credo ou “Eu creio”). No mundo antigo, o conceito de um “creio” não existia porque não havia autoridade central para ditar regras. Como chefe de Estado e da Igreja, Constantino determinava o que cada cristão deveria crer para não cair no pecado da heresia.
Constantino determinou que 50 cópias dos Evangelhos para serem distribuídas, ao mesmo tempo determinando o reconhecimento oficial do que viria a se tornar os Quatro Evangelhos Canônicos. Algumas comunidades cristãs vinham seguindo o calendário lunar judeu para celebrar a Páscoa, enquanto variava em outras. Constantino estabeleceu a data oficial como faziam em Roma: devia ser comemorada no primeiro domingo após a primeira lua cheia após o equinócio da primavera. Posteriormente, ele selecionou 25 de dezembro como a data do nascimento de Cristo (Natal), incorporando muitas das tradições encontradas nas celebrações da Saturnália em dezembro.
Nem todos os bispos ficaram satisfeitos com o Credo Niceno. Nos próximos séculos, diversos Concílios reuniram-se para debater detalhes e isto iria continuar através da Idade Média e posteriormente. Theodósio (rein.347-395 d.C.) é lembrado como um grande defensor da ortodoxia. Ele publicou um édito em 381 d.C., que determinava o fim dos cultos nativos no mundo antigo. Baniu, também, os Jogos Olímpicos (dedicados aos deuses) em 396 d.C., somente ressurgindo em 1896. Todos os templos e santuários nativos foram destruídos ou transformados em igrejas. Foi daí que os cristãos inventaram o termo pagianoi (“pagãos”, equivalente a ignorantes), um insulto contra aqueles que ainda não se haviam convertido.
Monasticismo e o Culto aos Santos
O monasticismo originou-se no Egito na metade do século III d.C. e acabou por constituir-se em uma grande instituição nas comunidades católicas do ocidente e oriente. Antônio do Egito (*251 d.C. + 356 d.C.) foi o primeiro a renunciar às tradicionais convenções de vida neste mundo, para um isolamento e completa devoção a Deus. Retirou-se para uma caverna no deserto para passar sua vida em oração. Logo outros homens e mulheres seguiram seu exemplo para viverem como eremitas no deserto. Os reclusos, chamados “Pais e Mães do Deserto” tornaram-se modelos de devoção e, finalmente, deram origem às Ordens Monásticas da Idade Média.
Os cristãos tomaram emprestado antigas ideias de cultos aos heróis e o conceito de relação patrono/cliente dos gregos. O culto aos heróis foi criado pelas cidades que proclamavam possuir tumbas de heróis. As pessoas realizavam peregrinações a estes locais, pedindo que os heróis (depois aos deuses) lhes concedessem benefícios. Iniciando-se no século IV d.C., antigos túmulos de mártires, como uma sagrada interseção entre o Céu e a Terra, passaram a ser objeto de peregrinações e os cristãos faziam pedidos aos mártires por meios de preces e hinos. Os mártires e monges mortos passaram a ser santos padroeiros e as cidades com túmulos de mártires ficaram como locais famosos de peregrinação.
Para remover a mácula de idolatria nos edifícios públicos que se transformaram em igrejas, os cristãos começaram a exumar os ossos dos mártires e levaram-nos para dentro das paredes dos edifícios. Acreditava-se que estas relíquias continham um poder especial para fazer do edifício um espaço sagrado. O comércio de relíquias (ossos e itens que os mártires haviam tocado) virou um fenômeno por todo o Império e permaneceram importantes na Igreja Católica.
A Ascensão da Instituição do Papado
Após o saque de Roma, em 410 d.C., por Alarico I, Rei dos visigodos, teve início a queda do Império Romano do Ocidente. Em 450 d.C., Átila, o Huno, invadiu a Itália, saqueou diversas cidades e dirigiu-se para Roma. O bispo Leão I (*400 d.c. +461), também conhecido como Leão, o Grande, é considerado como tendo negociado com Átila para poupar a cidade. Como bispo de Roma, ele assumiu responsabilidades seculares, o que deu origem à instituição do Papado. Leão recebeu o título de “Patriarca do Ocidente”, o que incluiu o primeiro uso do título de “Papa” para Leão. A palavra papa deriva-se da palavra grega para pai. A validação para o poder do Papa veio do primado de Pedro, retroativamente pretendendo ser São Pedro o primeiro papa de Roma.