Júlio César

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 28 Abril 2011
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Disponível noutras línguas: Inglês, francês, alemão, italiano, espanhol
Bust of Julius Caesar (by Tataryn77, CC BY-SA)
Busto de Júlio César
Tataryn77 (CC BY-SA)

Caio Júlio César nasceu em 12 de julho do ano 100 a. C. (embora alguns citem 102 como seu ano de nascimento). Seu pai, também chamado Caio Júlio César, era um Pretor que governou a província da Ásia e sua mãe, Aurélia Cota, também tinha sangue nobre. Ambos apoiavam a ideologia dos Populares (Populistas), que favorecia a democratização do governo e mais direitos para as classes mais baixas, em oposição à facção dos Optimates (Melhores Homens), que defendia a superioridade da nobreza e os valores tradicionais romanos e favorecia as classes mais altas. É preciso compreender que o Optimate ou o Populare não eram partidos políticos em conflito, mas sim ideologias políticas que muitos adotavam ou rejeitavam, independente da sua posição social. O conceito de apelar ao apoio do público, ao invés de buscar a aprovação do Senado Romano ou de outros Patrícios, iria funcionar bem para César mais tarde.

Juventude e Serviço Militar

César tornou-se o chefe da família aos dezesseis anos, quando seu pai faleceu. Convencido de que uma posição no clero iria trazer mais benefícios para a família, ele conseguiu ser nomeado como o novo Alto Sacerdote de Júpiter. Como o sacerdote teria de ser, além de patrício, casado com uma patrícia, César desfez seu compromisso com uma plebeia e casou-se com uma patrícia, Cornélia, filha de um destacado e influente membro dos Populistas, Lúcio Cina. Quando o líder romano Sula declarou-se ditador, iniciou um expurgo sistemático de seus inimigos, particularmente aqueles que apoiavam a ideologia dos Populistas. César tornou-se um dos alvos, mas sua sentença foi suspensa devido à intercessão da família materna. Contudo, ele perdeu sua condição de sacerdote e o dote de sua esposa foi confiscado. Sem condições de se sustentar ou a família, César alistou-se no exército.

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Mostrou-se um excelente soldado, condecorado com a coroa cívica por salvar uma vida em batalha, e posteriormente promovido a legado militar na Bitínia com o objetivo de obter uma frota. Também nesta missão César teve sucesso e, quando Sula morreu, decidiu retornar a Roma para tentar a sorte como orator (equivalente ao advogado dos dias atuais). Novamente bem-sucedido, ganhou renome como um orador eloquente.

Conta-se que, quando os piratas disseram que seu resgate seria de 20 talentos, César alegou que ele valia pelo menos 50.

Em 75 a.C., enquanto navegava para a Grécia, César foi sequestrado por piratas e mantido prisioneiro até o pagamento de um resgate. Numa demonstração da elevada opinião que tinha de si mesmo, conta-se que, quando os piratas disseram que seu resgate seria de 20 talentos, o cativo teria alegado que valia pelo menos 50. Ele foi bem tratado e manteve uma relação amigável com os piratas. Conta-se que o prisioneiro dizia-lhes repetidamente que, após ser libertado, voltaria para caçá-los e os crucificaria pela afronta feita à sua família e dignidade pessoal, o que os piratas encararam como uma piada. Após sua libertação, César cumpriu a promessa, mas os piratas tiveram a garganta cortada antes da crucificação, numa demonstração de indulgência devido ao tratamento amistoso conferido a ele no cativeiro. A determinação de fazer exatamente o que dizia iria tornar-se uma das características definidoras de sua existência.

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O Primeiro Triunvirato

De volta à Roma, César foi eleito tribuno militar e, após a morte de sua esposa Cornélia, casou-se com a Optimate Pompeia, neta do ditador Sula. Em ascensão, ele teve prestígio suficiente para apoiar Cneu Pompeu (mais tarde conhecido com Pompeu, o Grande) para o generalado. Neste período, também conquistou a amizade do homem mais rico de Roma, Marco Licínio Crasso, que teria contribuído financeiramente para a eleição de César ao cargo de Alto Sacerdote (Pontifex Maximus) em 63 a.C. Em 62 foi eleito pretor, divorciou-se de Pompeia após o escândalo de um suposto adultério e viajou para a Espanha como Propretor (governador) da província da Hispânia.

Posthumous bust of Caesar
Busto póstumo de Júlio César
Carole Raddato (CC BY-SA)

Na Espanha, César derrotou as belicosas tribos rivais, trouxe estabilidade para a região e conquistou a lealdade das tropas pela sua perícia no campo de batalha. Foi premiado com o consulado pelo senado. Retornando a Roma com elevadas honras, César entrou num acordo político e financeiro com Pompeu e Crasso em 60 a.C., denominado o Primeiro Triunvirato por estudiosos e historiadores modernos (ainda que ninguém na Roma antiga tenha usado este termo). Casou-se com Calpúrnia, filha de um rico e poderoso senador dos Populistas, e acertou o casamento de sua filha Júlia com Pompeu para cimentar a aliança entre os dois. Os três homens efetivamente governaram Roma e César, como cônsul, promoveu no senado medidas apoiadas por Pompeu e Crasso. A legislação propunha a reforma da administração pública, em oposição aos Optimates, e a redistribuição de terra para os pobres, metas defendidas há tempos pelos Populistas. O dinheiro de Crasso e os soldados de Pompeu facilitaram a aprovação das medidas, alinhando solidamente os triúnviros com a facção Populista. Enquanto César fosse um político eleito estaria livre de acusações de seus inimigos Optimates por questões legais durante seu mandato mas, uma vez que seu consulado terminasse, ele estava certo de que seria indiciado. Além disso, encontrava-se profundamente endividado com Crasso, tanto financeira quanto politicamente, e precisava levantar tanto dinheiro quanto seu prestígio.

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A Conquista da Gália por César

Percebendo que a riqueza viria através da guerra, César deixou Roma com suas legiões e foi para a Gália em 58 a.C. Derrotou as tribos locais, assim como havia feito na Espanha, e manteve seguras as fronteiras provinciais. Quando as tribos germânicas ameaçaram invadir, ele construiu uma ponte sobre o Rio Reno, marchou até a margem oposta numa demonstração de força, e então retornou, destruindo a ponte. Os germânicos compreenderam a mensagem e desistiram da invasão. Também derrotou as tribos do norte e, por duas vezes, invadiu a Britânia (a primeira incursão romana nas ilhas britânicas). Na batalha de Alésia, em 52 a.C., César venceu o líder Vercingetórico e completou a conquista da Gália. Agora, como soberano efetivo da província, tinha toda a riqueza da região à sua disposição.

Em Roma, no entanto, o Primeiro Triunvirato tinha se desintegrado. Crasso havia sido morto no campo de batalha pelos Partos em 54 a.C. e, no mesmo ano, Júlia morreu no parto. Com a ausência tanto da filha e quanto do apoiador político e financeiro de César, Pompeu alinhou-se com a fação Optimate, a qual já favorecera anteriormente. Como único poder militar e político em Roma, Pompeu obteve do Senado o fim do mandato de César como governador da Gália e, além disso, ordenou que ele retornasse à cidade como um cidadão privado. Isso significava que ele poderia ser processado por suas ações enquanto cônsul.

Caesar's Campaign against the Belgae
Campanha de César contra os Belgas
US Military Academy (Public Domain)

Atravessando o Rubicão & Cleópatra

Ao invés de retornar a Roma conforme ordenado, César atravessou o Rubicão com suas legiões e marchou em direção a Roma em 49 a.C. Como se tratava da fronteira entre a província da Gália e Roma, a travessia foi considerada uma declaração de guerra. Ao invés de enfrentar as legiões de César em batalha, Pompeu foi para a Espanha e posteriormente para a Grécia, onde acabou derrotado por uma força muito menor do adversário na Batalha de Farsália, em 48 a.C. Escapando com vida da batalha, Pompeu dirigiu-se ao Egito, onde esperava encontrar apoio. As notícias da grande vitória de César, entretanto, o precederam e os egípcios, acreditando que os deuses favoreciam o vencedor, assassinaram o antigo aliado assim que desembarcou.

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César, ao tomar conhecimento da morte de Pompeu ao chegar ao Egito, ficou indignado, proclamou lei marcial e tomou posse do palácio real. De acordo com o historiador Will Durant, a seguir mandou buscar secretamente Cleópatra VII, corregente com Ptolomeu XIII, atualmente deposta e exilada. Ela teria sido contrabandeada através das linhas inimigas enrolada num tapete (conforme outras fontes, Cleópatra tomou a iniciativa do encontro, reconhecendo em César sua única esperança de recuperar o trono). Ptolemeu XIII foi deposto e César aliou-se a Cleópatra, o que foi o estopim para a guerra entre as legiões e o exército egípcio. Sitiados no palácio pelo general egípcio Áquila, eles resistiram durante seis meses, até que reforços chegaram em março de 47 a.C. e o exército foi derrotado.

César e Cleópatra parecem ter se tornado amantes logo após seu primeiro encontro, talvez na mesma noite, e ele permaneceu no país com ela por nove meses. O historiador Suetônio escreve que ele "frequentemente banqueteava-se com Cleópatra até o dia raiar e teria viajado com ela na barcaça real até quase a Etiópia, se as tropas não tivessem ameaçado se amotinar". Ainda em 47 a.C. a rainha deu à luz um filho, Ptolomeu César (conhecido como Cesarion) e o proclamou seu herdeiro e sucessor no trono.

Quando Farnaces, filho de Mitridates, fomentou uma rebelião no leste, César mobilizou-se para esmagá-la. Deixando Cleópatra como dirigente do Egito, conduziu as legiões através da Ásia Menor, derrotando as tribos e subjugando as populações, para então dirigir sua atenção aos seus inimigos em Roma. Na batalha de Tapso (próximo da moderna Tunísia), as forças dos Optimates foram derrotadas em 46 a.C. e, em julho do mesmo ano, César fez seu retorno triunfal a Roma.

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Julius Caesar
Júlio César
Georges Jansoone (CC BY-NC-SA)

O Egito e as Reformas em Roma

Cleópatra esperava que César fosse reconhecer e legitimar Cesarion como seu filho e herdeiro. Porém, ele nomeou seu sobrinho-neto, Caio Otávio Turino (Otaviano) como herdeiro. Mas trouxe a rainha, seu filho e sua comitiva para Roma e instalou-os confortavelmente numa residência que visitava com frequência, a despeito do fato de estar casado com Calpúrnia. Ainda que o senado parecesse exasperado por esta imprudência (já que as leis sobre bigamia eram rígidas em Roma), César recebeu o título de Ditador Perpétuo em 44 a.C.. Contrariamente à crença popular, ele nunca teve o título de "imperador".

Foram iniciadas então muitas reformas, incluindo novas redistribuições de terra entre os mais pobres e para os veteranos, que dispensavam a necessidade de remover outros cidadãos, bem como reformas políticas impopulares entre os senadores. César governava sem consideração ao senado, em geral simplesmente comunicando quais leis queria que fossem aprovadas com rapidez, num esforço para consolidar e elevar seu poder pessoal. Reformou o calendário, criou uma força policial, ordenou a reconstrução de Cartago e aboliu o sistema fiscal, entre muitos outros projetos que representavam metas há muito defendidas pelos Populistas. Seu período como ditador é reconhecido, em geral, como próspero para Roma, mas os senadores, e especialmente os pertencentes à facção dos Optimates, temiam que ele estivesse se tornando poderoso demais e pudesse em breve abolir o senado para governar de forma absolutista, como um rei.

A morte de César e suas consequências

Em 15 de Março de 44 a.C., César foi assassinado por senadores no pórtico da basílica de Pompeu, o Grande. Entre os assassinos estavam Marco Júnio Bruto, a segunda opção do ditador como herdeiro, e Caio Cássio Longino, junto com muitos outros (algumas fontes antigas mencionam até 60 assassinos). César foi esfaqueado 23 vezes e morreu aos pés da estátua de Pompeu. Os assassinos, entretanto, cometeram o erro de não planejar o que fariam em seguida à morte do ditador, inclusive permitindo que Marco Antônio, sobrinho e braço direito de César, continuasse vivo. Marco Antônio virou a maré da opinião pública de Roma contra os conspiradores e, aliado a Otaviano, derrotou as forças de Bruto e Cássio em 42 a.C., na batalha de Filipos.

Após a vitória, Antônio aliou-se a Cleópatra VII do Egito e, na visão de Otaviano, passou a representar uma ameaça substancial a Roma. Não demorou para que os antigos aliados se encontrassem numa batalha final. As forças de Cleópatra e Antônio foram derrotadas por Otaviano na Batalha de Áccio, em 31 a.C., e se suicidaram um ano depois. Após a morte de ambos, Otaviano ordenou que o filho de Cleópatra, Cesarion, fosse assassinado. Após consolidar seu poder como o primeiro imperador de Roma, Otaviano fez com que César fosse deificado e, como seu herdeiro adotado, proclamou-se filho de um deus e adotou o nome de Augusto César, Imperador. Com isso, ele iniciou o fim da República Romana e o início do Império Romano.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Ricardo é um jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Escritor freelance e ex-professor de filosofia em tempo parcial no Marist College, em Nova York, Joshua J. Mark viveu na Grécia e na Alemanha e viajou pelo Egito. Ele ensinou história, redação, literatura e filosofia em nível universitário.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2011, Abril 28). Júlio César [Julius Caesar]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-95/julio-cesar/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Júlio César." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação Abril 28, 2011. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-95/julio-cesar/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Júlio César." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 28 Abr 2011. Web. 25 Abr 2024.