Uma Breve História da Rosa

Artigo

Sheena Harvey
por , traduzido por Filipa Oliveira
publicado em 16 agosto 2023
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, italiano, espanhol
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Nos dias de hoje, a rosa que cresce nas mais variadas formas nos jardins de todo o mundo é a evolução de um tipo floral similar à rosa que proliferou no hemisfério norte entre 33 a 23 milhões de anos. É possível encontrar fósseis de rosas durante a época Oligocénico na Europa, Ásia e no lado ocidental da América do Norte.

The Roses of Heliogabalus
As Rosas de Heliogábalo
Lawrence Alma-Tadema (Public Domain)

Durante esta época o clima era temperado e repleto de insectos, condições, ainda hoje, essenciais para a proliferação da rosa. As flores de cinco pétalas, com a típica folha oval rendilhada e cinorródios coloridos – característica que as rosas selvagens ainda têm – distingue-as dos outros tipos de plantas observadas nos fósseis.

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Origem Mitológica e Simbolismo

a associação ao sigilo originou a que a rosa seja considerada como um símbolo de discrição.

De acordo com a mitologia grega, a deusa das flores, Clóris, criou um novo tipo de flor ao inflar vida a uma ninfa da floresta morta. Dionísio, o deus do vinho e das plantas concedeu-lhe odor e Afrodite, a deusa da beleza e prazer, nomeou-a de “rose” (rosa) ao brincar com a palavra Eros, seu filho e deus do amor e do prazer. Posteriormente, Eros presenteou-a a Harpócrates, o deus do silêncio, como suborno para garantir que as indiscrições dos deuses se mantivessem em segredo. Desta forma, a rosa tornou-se simbolicamente a representação do sigilo, silêncio e amor. Na mitologia romana manteve-se a história, mudando os nomes dos deuses: Flora, Vénus, Cúpido e Bacus, embora o nome Harpócrates seja comum em ambas as mitológias.

A associação ao sigilo fez da rosa o símbolo vísual da necessidade de discrição. As rosas eram talhadas nos tectos e paredes dos salões públicos, tribunais e nos confessionários católicos como que a recordar que todas as conversas deveriam ser mantidas em segredo. A partir da Idade Média, pendurava-se uma rosa nos tectos dos salões de conselhos governamentais para garantir sigilo nos procedimentos. Desta forma, sub rosa (sob a rosa) tornou-se um termo quasi-legal ainda em uso para referir algo que deve ser mantido em segredo.

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A Descoberta da Primeira Rosa

As primeiras espécies de rosas descritas em termos científicos provêm do Florissant Fossil Beds (Formação Florissant), no Condado de Teller, Colorado, EUA. Em 1883 o paleobotánico Charles Leo Lesquereux escreveu o artigo cientifíco Contribution to the Fossil Flora of the Western Territories (Contribuições para os Fósseis de Flora nos Territórios Ocidentais) no qual descreve e nomea a Rosa hilliae, um espécime simples de tipo-rosa inserido no meio de outras amostras reunidas em 1877 por Hayden's US Geological Survey (Pesquisa Geológica Américana de Hayden) e de Princeton Scientific Expedition (Expedição Científica de Princeton).

Leo Lesquereux
Leo Lesquereux
Unknown Artist (Public Domain)

Esta denomição foi uma homenagem à paleontologa amadora Charlotte Hill, a primeira a fazer descobertas científicas no Florissant Fossil Beds (Formação Florissant), que vivia no Rancho Petrified Stump (propriedade da sua família), a cerca de 3 quilometros (2 mi) a sul da cidade de Florissant. Charlotte começou a coleccionau fósseis de plantas e insectos que descobria ao cavar a terra em redor da propriedade; fascinada pelos fósseis iniciou um pequeno museu, onde recebeu variadíssimos geólogos e paleontólogos prestigiados a quem ofertou parte da sua colecção.

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Evolução da Rosa

Actualmente, o género Rosa englobe cerca de 150 espécies sob a forma de arbusto, trepadeira e rasteria perene, e milhares de variedades. Derivam de um pequeno número de rosas vindas da Ásia que foram cruzadas ao longo dos séculos com espécies selvagens nativas da Europa e da América.

As Rosas classificam-se em três tipos:

  1. Espécies – da família 'rosa selvagem';
  2. Rosas Antigas (Rosas do Velho Mundo) introduzidas antes de 1867;
  3. Rosas Modernas.

As primeiras espécies de rosas tinham cinco pétalas singelas como as da flor Rosa hilliae. Estas são as espécies que possuem a informação genética das rosas actuais: incluem a Rosa canina, (Rosa Canina, rosa brava ou Silva-macha), geralmente encontrada em silvados, a Rosa pimpinellifolia, (Rosa-avermelhada), arbusto resistente que sobrevive ao ar livre ou nas regiões costeiras, a Rosa gallica, das regiões quentes do sul da Europa, a Rosa carolina, (Rosa carolina) encontrada no este dos EUA e a Rosa blanda, (Rosa do prado ou rosa selvagem) que vinga nas pradarias americanas.

Rosa Blanda
Rosa Blanda
New York Public Library (Public Domain)

O processo de domesticar a rosa selvagem numa planta de jardim de infinitas variedades iniciou-se há muitos séculos. Pensa-se ter sido em 3.000 a.C., na China, que as primeiras rosas foram deliberadamente domesticadas e cultivadas; país onde se usava água de rosas e óleos perfumados de rosa para fins medicinais e como confetti para as celebrações. O filosofo Confúsio relata que as rosas cresciam nos jardins do Palácio Imperial no ano de 500 a.C. e que a biblioteca do Imperador Chinês possuia numerosos livros sobre o assunto. A China era o único produtor de rosa amarela e de todas as suas descendentes, dao que na Europa não existiam rosas selvagens dessa cor.

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Os antigo egípcios banhavam-se com água de rosas e espalhavam pétalas de rosa para odorificar as salas com um aroma doce. Os Romanos cultivavam-nas nos grandes jardins públicos e a Rosa alba (rosa branca) podia ser encontrada nos jardins dos nobres e monges da Europa Medieval, possivelmente trazida no tempo dos Romanos. Todos os mosteiros medievias tinham um monge botánico que cultivada rosas junto com outras plantas e ervas para serem usadas nas ceremonias religiosas.

Igualmente cultivada na época medieval era a Rosa damascena, ou rosa de Damasco, com as suas luxuriantes pétalas duplas e profusamente perfumadas. Como o nome indica “de Damasco”, pensa-se ter sido trazida para a Europa da Síria pelos mercadores do século XII ou pelos Cruzados no século XIII, juntamente com a Rosa officinalis, conhecida por “rosa do apoticário”.

A sua transformação em planta de jardim deve-se à contínua intervenção de botánicos e criadores de plantas, em que as rosas criadas por semente não possuem as características dos seus “pais”. A plantação por estaca assegura a continuidade da variedade, desta forma uma rosa velha dos dias de hoje possui um elo vivo com a rosa que cresceu num jardim medieval. As rosas velhas não florescem tanto quanto as suas descendentes e as suas cores são mais desmaiadas e em tons pastel. Contudo, são mais resistentes e não necessitam de tantos cuidados e atenções como as híbridas modernas, e são tão odoríficas quanto os seus ancetrais selvagens.

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A Rosa Política

A ROSA GANHOU GRADUALMENTE MAIS SIGNIFICADOS SIMBÓLICOS COM O APARECIMENTO DOS BRASÕES NOBILÍSTICOS.

Do puramente decorativo, as rosas gradualmente ganharam mais um significado simbólico quando começaram a aparecer nos brasões nobilísticos. No Século XIII a Rosa alba branca era o emblema de Leonor de Provença, mulher do Rei Henrique III de Inglaterra. O seu filho Edmundo, Conde de Lancaster, adpotou a Rosa Gallica encarnada da sua mulher Branca de Artésia quando casaram, establecendo, desta forma, o símbolo da Casa de Lancaster com a rosa encarnada.

Mais de duzentos anos depois, Ricardo, Duque de York, escolheu a rosa branca como símbolo da sua casa. Quando Casa de Lancaster e a Casa de York disputaram o direito à coroa inglesa (1455-1487), o conflito ficou conhecido como a Guerra das Rosas. A resolução da guerra civil resultou na vitória de Henrique Tudor, da Casa de Lancaster, coroado como Rei Henrique VII de Inglaterra, que casou com Elizabeth de York, unindo simbolicamente ambas as rosas sob o nome Rosa Tudor. Esta rosa dupla pode ser vista nos entalhes dos edifícios, mobiliário e nas pinturas de retaratos da era Tudor: um símbolo para todo o sempe de unificação do país.

The Tudor Rose
A Rosa Tudor
Smabs Sputzer (CC BY)

Em 1986, a rosa foi escolhida como a flor nacional e oficial dos EUA por votação popular, e numa cerimónia especial o Presidente Ronald Regan assinou a lei da resolução conjunta emitida pelo Senado e pela Casa dos Representantes ao proferir:

Mais do que qualquer outra flor, consideramos a rosa como um simbolo de vida, e amor, e devoção, de beleza e eternidade... Temos prova disto em todos os lugares. O estudo de fósseis revelam que a rosa já existia na América era após era. Sempre plantamos rosas nos nossos jardins. O primeiro presidente da América, George Washington, cultivava rosas e uma variedade à qual deu o nome da sua mãe é ainda hoje plantada. A Casa Branca possui um belissímo Roseiral. Plantamos rosas em todos os cinquenta Estados americanos. Encontramos rosas na nossa arte, música e literatura. Usamos rosas para decorar quando celebramos e fazemos desfiles. Acima de tudo, ofertamos rosas a quem amamos, e adornamos profusamente os nossos alteres religiosos e civis, e nos cemitérios quando honramos os mortos. (…). (Proclamação n.º 5574).

Uma coleção nacional

Durante os séculos XV e XVI os cultivadores de rosas começaram a criar e a alterar variedades como a R. Damascena com a sua ‘prima’ do Médio Oriente a Rosa centifolia (Rosa-de-cem-pétalas/Rosa-de-maio). Os holandeses foram os pioneiros e as pesquisas modernas mostram que pelo menos quatro espécies de rosas selvagens podem ser encontradas na criação da R. centifolia. Os resultados das rosas criadas na Holanda nos séculos XVI e XVII podem ser vistos nas pinturas dos Mestres Holandeses: grandes flores dobradas com a distinta forma de “rosa de repolho” da R. centifolia. As flores de pétalas simples parecem ter as suas pétalas cortadas por uma faca.

Rosa Centifolia
Rosa Centifolia
Llez (CC BY-SA)

A era dourada das rosas é certamente a primeira metade do século XIX: protagonizada por Joséfina de Beauharnis, mulher de Napoleão de Bonaparte, quando comprou o Castelo de Malmaison nos arrebaldes de Paris, encheu os jardins de rosas de todas as espécies conhecidas à época e provenientes de distribuidores de toda a Europa. Tal aconteceu durante as Guerras Napoleónicas e do Bloqueio Continental, mas diz-se que foram feitos acordos especiais para embarcar rosas de Inglaterra que furaram o cerco ao Canal da Mancha.

A colecção cresceu e Josefina de Beauharnis encomendou ao pintor Pierre-Joseph Redouté pintar as rosas, tendo publicado a obra Les Roses (As Rosas) (1817-24), sendo, hoje em dia, o ponto de partida para as pesquisas científicas modernas aos jardins de rosas. A colecção ajudou a impulsionar o entusiamos francês nas flores e houve um incremento de cultivo de rosas, com efeito, quase todas as rosas velhas que se cultivam hoje advêm do cultivo francês

Jacques-Louis Descemet foi um dos quarto grandes cultivadores de rosas perto de Paris na época de Joséfina, que ajudou a popularizar a variedade importada da Holanda e que ficou conhecida como Rosa gallica (Rosa francesa) aquando da sua exportação para Inglaterra. As origens da R. gallica não são claras, mas já era conhecida dos persas no século XII e que os holandese a cultivaram durante 400 anos, apesar de preferirem a R. centifolia.

Uma Miríade de Híbridos

Quando por volta de 1790, chegaram à Europa as rosas chinesas de sucessiva floração, deram aos criadores uma nova característica com que trabalhar: a possibilidade de florir mais de uma vez ao longo da época de crescimento. O próximo grande passo no desenvolvimento da rosa foi quando os criadores de híbridas cruzaram a rosa antiga chinesa Rosa chinesis com a europeia Rosa gigantea. O resultado foi uma rosa com uma exalação que diziam ser uma reminiscência de uma chávena de chá, razão pela qual é conhecica por “Rosa Chá”.

Anos mais tarde, deu-se a hibridização da rosa damascena com outras espécies de rosas que floriam livermente durante anos, e apelidadas de híbridas prepétuas. O capítulo final desta história sobre rosas foi escrito nos meados do século XIX quando as rosas chá foram cruzadas com a híbrida prepétua e deu a origem à rosa chá prepétua: flores grandes e vigorosas com floração de longa duração tornaram-na muito popular em todo o mundo.

As rosas Bourbon são o hibridismo natural da R. chinensis e da rosa damascena na Ilha de Borboun, mais conhecida por Ilha da Reunião, perto das Maurícias: um importante porto de reabastecimento da frota marítima francesa antes da abertura do Canal do Suez. Uma muda da espécie híbrida foi levada para Paris no início do século XIX e depois cruzada com a R. gallica, criando foi uma rosa de longa floração, com um forte perfume e ainda hoje muito cultivada.

Noisette Rose
Rosa Noisette
New York Public Library (Public Domain)

A primeira híbrida americana foram as “Rosas Noisette” – as primeiras a cresceram na Carolina do Sul em 1800. Um enfermeiro francês, Louis Noistte, enviou uma rosa chinesa da variedade “Old Bush” ao seu irmão Philippe que vivia nos EUA. Philippe Noisette deu a rosa ao seu vizinho John Champneys que a cruzou com a rosa mosqueta trepadeira, Rosa moschata, resultando na “Champney’s Pink Climber”. Enviaram sementes desta rosa para França, tendo sido alterada para uma nova trepadeira e designada de “Noisette Carnée”. O cruzamento posterior desta Noisette com rosa chá gerou novos tipos de híbridos.

No Século XX

As rosas modernas começaram pela junção de rosa chá híbirda com floribundas e grandifloras. As primeiras eram cultivadas no século XIX pela companhia holandesa Poulsen, existente ainda hoje, cujos cultivadores cruzaram a rosa anã da China com a pequena híbrida chá de forma a produzir arbustos com múltiplos grupos de pequenas flores dobradas.

Na década de 1950, com o cruzamento de híbirda chá e floribundas nasceu a rosa grandiflora: arbusto alto e robusto com flores desabrochadas, tão bem conhecidas nos jardins de hoje, mas que não possuem o mesmo grau odorífico das rosas antigas. Possuem uma forma padrão, mais vistosas e com cores mais variadas, o que as torna tão populares em termos visuais nos jardins.

Roses in a Champagne Glass
Rosas num Copo de Champanhe
Burrell Collection (Public Domain)

Uma vez que a procura pela rosa perfeita continua, aparecem anualmente novos híbirdos de vários cultivadores mundiais. Entretanto, as espécies de rosas mantêm o fundo genético vivo, e as rosas velhas o seu séquito de seguidores devido ao seu crescimento natural e intenso aroma. A história está a ser constantemente reescrita no mundo do cultivo da rosa.

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Perguntas e respostas

Donde provêm a rosa?

Plantas semelhantes cresceram no hemisfério norte desde 33 a 23 milhões de anos. As 150 espécies de rosas atuais advêm de um pequeno número de rosas originárias da Ásia que foram cruzadas ao longo dos séculos com espécies selvagens nativas da Europa e da América

Qual é o simbolismo da rosa?

A rosa simboliza discrição, silêncio e amor.

Sobre o tradutor

Filipa Oliveira
Tradutora e autora, o gosto pelas letras é infindável – da sua concepção ao jogo de palavras, da sonoridade às inumeráveis possibilidades de expressão.

Sobre o autor

Sheena Harvey
Sheena Harvey escritora freelance, editora de seis revistas inglesas, incluindo a Discover Britain, a LandScape e a BBC Wildlife; e colaboradora de revistas como a English Heritage e a Countryfile.

Citar este trabalho

Estilo APA

Harvey, S. (2023, agosto 16). Uma Breve História da Rosa [A Brief History of the Rose]. (F. Oliveira, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-2264/uma-breve-historia-da-rosa/

Estilo Chicago

Harvey, Sheena. "Uma Breve História da Rosa." Traduzido por Filipa Oliveira. World History Encyclopedia. Última modificação agosto 16, 2023. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-2264/uma-breve-historia-da-rosa/.

Estilo MLA

Harvey, Sheena. "Uma Breve História da Rosa." Traduzido por Filipa Oliveira. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 16 ago 2023. Web. 06 dez 2024.