Cleópatra e Marco Antônio

Artigo

Brian Haughton
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 10 janeiro 2011
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
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Considerada pelos romanos como um fatale monstrum – um monstro fatal –, Cleópatra é uma das mais populares, ainda que elusivas, figuras do mundo antigo. A rainha egípcia foi imortalizada por vários escritores e cineastas, entre os quais Shakespeare, na peça Antônio e Cleópatra, e por Hollywood, no filme Cleópatra (1963), estrelado por Elizabeth Taylor e Richard Burton. Este último traz a imagem memorável de uma provocante jovem Cleópatra emergindo graciosamente de um tapete desenrolado na frente do general romano Júlio César. Mas ela merece ser considerada meramente como amante de Júlio César e Marco Antônio? Ou ela desempenhou um importante papel não apenas na história do Egito, mas também da poderosa República Romana?

Cleopatra VII (Artist's Impression)
Cleópatra VII (impressão artística)
Ubisoft (Copyright)

Cleópatra VII Filopator ("que ama o pai") nasceu em Janeiro de 69 a.C., na cidade de Alexandria, no Egito, filha de Ptolemeu XII Auletes (v. 117-51 a.C.) e possivelmente de Cleópatra V Trifena (c. 95 a.C. - c. 57 a.C.). Ela se tornaria a última monarca da Dinastia Ptolemaica (estabelecida em 323 a.C., após a morte de Alexandre, o Grande), governando o Egito de 51 a 30 a.C.. Em 48 a.C., a rainha passou a ser aliada e amante de Júlio César, assim permanecendo até a morte do ditador em Março de 44 a.C.. A morte de César criou um turbilhão em Roma, com várias facções competindo pelo controle. Dentre elas, destacavam-se os exércitos de Marco Antônio (v. 83 a.C. - 30 a.C.) e Otaviano (v. 63 a.C. - 14 d.C.), o primeiro um apoiador e amigo fiel de César e o segundo o filho adotivo do ditador.

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Cleópatra Encontra-se com Antônio

cada um via no outro algo de que necessitavam.

Em 41 a.C., Cleópatra foi convocada para Tarso (no sul da atual Turquia) por Marco Antônio. Conta-se que ela entrou na cidade navegando pelo Rio Cidno numa balsa decorada com velas púrpuras, vestida como a deusa grega Afrodite. Antônio, que costumava se comparar com Dioniso, o deus grego do vinho, foi conquistado instantaneamente. A exemplo do encontro entre a rainha e César, cada um via no outro algo de que necessitavam. Para Cleópatra, uma nova oportunidade de alcançar o poder, tanto no Egito quanto em Roma; para Antônio, o apoio do maior e mais rico estado cliente dos romanos em sua campanha contra os partos (a Pártia situava-se na região nordeste do atual Irã). Na reunião, Cleópatra supostamente exigiu que sua meia-irmã Arsínoe, que vivia sob a proteção do Templo de Ártemis, em Éfeso, fosse executada para prevenir quaisquer tentativas contra seu trono. Antônio e Cleópatra logo se tornaram aliados e amantes e viajaram para Alexandria em 40 a.C..

Em Alexandria, a dupla formou uma sociedade de “viventes inimitáveis”, o que alguns historiadores interpretam como uma desculpa para levar uma vida boêmia, ainda que seja mais provável que tenha sido um grupo dedicado ao culto místico de Dioniso. Naquele ano, Cleópatra deu à luz aos gêmeos de Antônio, Alexandre Hélios (o Sol) e Cleópatra Selene (a Lua).

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Otaviano e Roma

A situação política em Roma compeliu Antônio a retornar à Itália, onde, a contragosto, concluiu um acordo temporário com Otaviano, parte do qual incluiu o casamento com a irmã deste, Otávia. Transcorreriam três anos até que ele e Cleópatra se encontrassem novamente, na cidade de Antioquia (próximo da fronteira atual entre a Síria e a Turquia), sob a sombria perspectiva do crescente poder militar de Otaviano no Oeste. Como resultado desta reunião, Cleópatra engravidou do terceiro filho com Antônio (o futuro Ptolemeu Filadelfo); outro resultado foi a transferência de algumas possessões orientais romanas para o controle egípcio.

Celebrações em Alexandria

Em 34 a.C., a despeito do fato de que a campanha de Antônio na Pártia tinha sido um fracasso extravagante, o casal celebrou uma imitação de Triunfo Romano nas ruas de Alexandria. As multidões acorreram para o Gymnasium para vê-los sentados em tronos dourados, cercados por suas crianças, e Antônio fez a proclamação conhecida atualmente como "Doações de Alexandria". Nesta declaração, o general romano distribuiu terras de Roma e da Pártia entre Cleópatra e os filhos, além de proclamar Cesarion como filho legítimo de César. Como seria de se esperar, as "Doações de Alexandria" causaram indignação em Roma, onde começou a circular o boato de que Antônio pretendia transferir a capital do império para Alexandria. Em 32 a.C., Otaviano conseguiu que o Senado retirasse os poderes de Antônio e declarasse guerra contra Cleópatra, chamando-a de prostituta e bêbada oriental. Para evitar outra guerra civil, Antônio não foi mencionado nesta proclamação, mas isso de nada adiantou, pois ele decidiu aliar-se à rainha egípcia no conflito.

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Silver Tetradrachm Portraying Antony and Cleopatra
Tetradracma de Prata Retratando Antônio e Cleópatra
Sailko (CC BY)

A Batalha de Ácio e a Invasão do Egito

A culminação da guerra ocorreu na Batalha naval de Ácio (Actium), que transcorreu próximo à cidade de Preveza, no nordeste da Grécia, em 2 de Setembro de 31 a.C.. As forças combinadas de Marco Antônio e Cleópatra, totalizando 230 embarcações e 50.000 marinheiros, foram derrotadas pela marinha de Otaviano, comandada por Marco Agripa. Em 30 a.C., Otaviano invadiu o Egito e sitiou Alexandria. Desesperadamente superadas em números, as forças de Antônio se renderam e, dentro da honorável tradição romana, ele cometeu suicídio, caindo sobre sua espada.

A Morte de Cleópatra

Após a morte de Antônio, Cleópatra foi informada por Otaviano de que seria levada a Roma e desfilaria nas ruas como parte de seu Triunfo. Talvez incapaz de suportar o pensamento desta humilhação, em 12 de Agosto de 30 a.C., a rainha vestiu-se com seus roupões reais e estendeu-se sobre um divã com um diadema na fronte. De acordo com a tradição (descrita pelo antigo historiador Plutarco, por exemplo), uma áspide (víbora egípcia) foi trazida num cesto de figos e Cleópatra morreu envenenada. Duas de suas servas também morreram com ela. A áspide era um símbolo da realeza divina para os egípcios e, ao permitir ser mordida, Cleópatra se tornaria imortal. Outros historiadores (incluindo Joyce Tyldesley) acreditam que a rainha usou um unguento venenoso ou um frasco de veneno para cometer suicídio.

Cleópatra viveu trinta e nova anos, dos quais vinte e dois como rainha e quatorze como parceira de Antônio na porção oriental do império romano. Após sua morte, Cesarion foi declarado faraó, mas Otaviano logo ordenou sua execução. As demais crianças, levadas para Roma, ficaram sob a responsabilidade da esposa de Antônio, Otávia. Cleópatra representou a última ameaça significativa à autoridade romana e sua morte também marca o fim da Dinastia Ptolemaica. Os vastos tesouros do Egito foram saqueados por Otaviano e o país tornou-se mais uma província romana. Em poucos anos, o Senado Romano renomeou Otaviano como Augusto e ele se tornou o primeiro Imperador, consolidando as porções oriental e ocidental da República no Império.

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Cleopatra's Death
Morte de Cleópatra
Reginald Arthur (Public Domain)

Mais tarde, Otaviano publicou sua biografia, na qual negava a Cleópatra qualquer habilidade política, retratando-a como uma estrangeira imoral, sedutora de virtuosos homens romanos. Vários historiadores romanos e escritores (os poetas Horácio e Lucano, por exemplo) reforçaram a imagem de Cleópatra como uma prostituta incestuosa e adúltera que usava o sexo para tentar emascular o Império Romano. Infelizmente, esta propaganda teve uma profunda influência na imagem da rainha egípcia dentro da cultura ocidental. Porém, a Cleópatra real era altamente habilidosa em termos políticos (ainda que implacável com seus inimigos), popular entre seus súditos, falava sete línguas e conta-se que foi a única entre os Ptolemeus a ler e falar a língua egípcia. Num momento de sobriedade, pode-se imaginar também como seria diferente a história da civilização ocidental caso a rainha tivesse sucesso na criação de um império oriental que rivalizasse o crescente poderio romano, o que ela esteve muito perto de alcançar.

Descobertas arqueológicas recentes lançam uma interessante, embora controversa, luz sobre a possível localização da tumba de Cleópatra. O historiador greco-romano Plutarco afirmou que Antônio e Cleópatra foram sepultados juntos e, em 2008, arqueólogos do Conselho Superior de Antiguidades do Egito e da República Dominicana, trabalhando no Templo de Taposiris Magna, a 45 quilômetros a oeste de Alexandria, relataram que uma das câmaras do edifício provavelmente continha os corpos do casal. A equipe descobriu 22 moedas de bronze gravadas com o nome e imagem de Cleópatra, um busto da rainha e uma máscara de alabastro que se acredita representar Marco Antônio. O trabalho no sítio continua e só o tempo vai revelar se os arqueólogos estão corretos em sua teoria de que o grande casal foi sepultado a tão grande distância de Alexandria.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Brian Haughton
Pesquisador e autor de obras sobre antigas civilizações, monumentos, lugares sagrados e folclore sobrenatural. É um arqueólogo com especialização pelas Universidades de Nottingham e Birmingham.

Citar este trabalho

Estilo APA

Haughton, B. (2011, janeiro 10). Cleópatra e Marco Antônio [Cleopatra & Antony]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-197/cleopatra-e-marco-antonio/

Estilo Chicago

Haughton, Brian. "Cleópatra e Marco Antônio." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação janeiro 10, 2011. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-197/cleopatra-e-marco-antonio/.

Estilo MLA

Haughton, Brian. "Cleópatra e Marco Antônio." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 10 jan 2011. Web. 04 out 2024.