Pulque

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 05 Março 2016
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Disponível noutras línguas: Inglês, espanhol
Maguey (by Amefuentes, CC BY-SA)
Agave
Amefuentes (CC BY-SA)

O Pulque é uma bebida alcoólica consumida pelos maias, astecas, huastecas e outras culturas da antiga Mesoamérica. Semelhante à cerveja, é feita do suco ou seiva fermentada do agave (Agave americana). Na linguagem Náuatle chamava-se octli e, para os maias, chih. Devido ao baixo teor alcoólico, aumentava-se a potência do pulque com a adição de certas raízes e ervas.

A bebida tinha sua própria deusa personificada e aparece em episódios da mitologia mesoamericana. Consumida moderadamente no cotidiano em toda a região, era servida em quantidades mais copiosas em festivais religiosos importantes e celebrações, tais como casamentos, ritos de fertilidade (especialmente aqueles envolvendo o deus asteca do Verão, Xochipilli) e cerimônias agrícolas. A substância não servia apenas como bebida, já que os huastecas a utilizavam como um enema, junto com ossos finos e ocos; tratava-se de uma prática relativamente comum na administração de alucinógenos em antigas civilizações das Américas.

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O Pulque na Mitologia - Mayahuel

O agave, importante não somente para a produção do pulque, mas também como fonte de fibras para tecelagem, tinha sua divindade personificada própria - uma deusa denominada como 11 Serpente pelos mistecas do período Pós-Clássico. No México central, a deusa chamava-se Mayahuel, geralmente retratada como uma bela jovem. Associada com a fertilidade, costumava ser mencionada como a "mulher dos 400 seios", sem dúvida como uma referência à seiva leitosa da planta. Outra divina personificação do pulque chamava-se 2 Flor. Além delas, o deus 3 Jacaré tinha estreita associação à bebida.

Para alegrar suas vidas, Quetzalcoatl decidiu dar à humanidade uma bebida que elevaria seus espíritos.

O consumo de pulque, então, recuava até os tempos mitológicos e havia, naturalmente, um mito para explicar sua invenção. O grande deus Quetzalcoatl estava observando a humanidade um dia e notou que, ao final de um dia de trabalho, as pessoas não cantavam e dançavam mas, em vez disso, pareciam bem infelizes. Para alegrar suas vidas, Quetzalcoatl decidiu dar-lhes uma bebida que elevaria seus espíritos. Apaixonado pela bela deusa Mayahuel, Quetzalcoatl a trouxe para a Mesoamérica e lá, abraçados, eles se transformaram numa árvore com dois galhos. Ora, a avó de Mayahuel não ficou satisfeita com estes acontecimentos e, acompanhada de uma tropa de companheiros demoníacos (tzitzimime), ela investiu contra a árvore, cortando-a ao meio. Mayahuel foi então estraçalhada e devorada pelos terríveis demônios. Com o coração partido, Quetzalcoatl apanhou os restos de sua amada e carinhosamente os enterrou. Eventualmente, estes restos deram origem à primeira planta de agave e os humanos passaram a usá-la para fazer pulque. No fim, o desejo de Quetzalcoatl de que a humanidade se beneficiasse de uma bebida que aumentasse sua felicidade tornou-se realidade.

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Em outro mito famoso, Quetzalcoatl, sob a influência da bebida, dorme com sua irmã, Quetzalpetlatl. A percepção e embaraço do deus em descobrir seu ato vergonhoso na manhã seguinte explicaria por que abandonou Tula, sua capital. Este episódio costumava ser usado como um alerta para os mesoamericanos de que o abuso do pulque poderia acarretar sérias consequências. Por esta razão, os astecas eram bastante específicos sobre quem podia beber pulque, se comparados com outras culturas da região. Eles reservavam seu consumo em público como um privilégio especial para os nobres e guerreiros e impunham penalidades que variavam do corte dos cabelos dos infratores, destruição de propriedade e mesmo a pena de morte para casos repetidos de embriaguez.

Os 400 Deuses do Pulque

Havia outro grupo conhecido de deuses do pulque que eram quase sempre masculinos. Eram particularmente importantes para os astecas, que os chamavam de Centzon Totochtin (400 Coelhos), pois se acreditava que um coelho tinha sido o primeiro a descobrir o suco do agave ao mordiscar suas folhas. A mãe dos deuses do pulque era Mayahuel e o pai Patecatl. Devido às muitas formas, é difícil determinar o que significavam exatamente. Muitos eram associados com povoados, dias e períodos de tempo específicos. Também simbolizavam a embriaguez e desejo sexual e por isso usavam um anel de nariz em forma de meia-lua, símbolo de Tlazolteotl, a deusa da luxúria e sujeira.

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Mesoamerican God 2 Rabbit
Deus Mesoamericano 2 Coelho
Travis (CC BY-NC-SA)

Como um grupo, as divindades do pulque são representados ou pelo deus Ome Tochtli ou 2 Coelho. Vários deuses do pulque foram identificados em sepulturas cerimoniais sob o Templo Mayor em Tenochtitlán, a capital asteca. A historiadora Mary Miller sugere que era uma homenagem às 400 vítimas mortas pelo deus Huitzilopochtli na mitologia asteca.

Representações na Arte

As mais antigas representações do pulque na arte mesoamericana são provenientes da grande cidade de Teotihuacan, que teve seu auge entre 300 e 550. São relevos entalhados em pedra que mostram figuras mascaradas (uma das máscaras tem um fundo de folhas de agave) com gotas leitosas caindo de suas bocas.

Monumentos construídos pela civilização zapoteca (500-900) trazem cenas de casamentos nas quais os convidados bebem pulque. Do período Pós-Clássico (900-1200) há uma pintura na rocha em Ixtapantongo que é a mais antiga representação de Mayahuel. Ela é mostrada dentro de uma planta de agave e segurando um copo em cada mão, provavelmente contendo pulque.

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Como a bebida tinha uma aparência leitosa, era associada ao leite materno, o que é evidenciado por artefatos como o Vaso de Pulque Asteca de Bilimek, no qual há uma cena mostrando a bebida vertendo do seio de uma deusa da terra. Mayahuel e os deuses do pulque também aparecem em ilustrações de vários códices da era colonial, notavelmente o Códice Vindobonense (lâmina número 25), dos mixtecas, e em várias lâminas do Códice Magliabechiano (século XVI), dos astecas.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Ricardo é um jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é autor, pesquisador, historiador e editor em tempo integral. Seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações compartilham. Ele possui mestrado em Filosofia Política e é diretor editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2016, Março 05). Pulque [Pulque]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-14422/pulque/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Pulque." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação Março 05, 2016. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-14422/pulque/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Pulque." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 05 Mar 2016. Web. 25 Abr 2024.