Ehecatl era o deus mesoamericano do ar e dos ventos, especialmente os que traziam chuvas. Considerado como uma manifestação do grande deus da serpente emplumada, Quetzalcoatl, costumava ser mencionado também como Quetzalcoatl-Ehecatl e, de acordo com a mitologia asteca, nesse aspecto ajudou a criar a humanidade, além de presenteá-la com a planta do agave. Estava associado aos pontos cardeais, cores e várias datas do calendário.
Nome e Associações
Ehecatl significa "vento" no idioma náuatle. Possivelmente originário dos huastecas, que construíram muitos templos circulares ou curvados em sua homenagem, o deus acabou sendo adotado pelos astecas, que o considerava como nascido do sílex no dia 9 Vento, que se tornou sua outra denominação. O segundo dia do calendário asteca recebeu o seu nome. Ehecatl adquiriu várias associações além do vento, entre elas as datas do calendário de 6 Ehecatl (o sol), 7 Ehecatl (o dia em que se criou a humanidade) e 9 Ehecatl (os ventos dos quatro cantos). Ele é o patrono da segunda trecena (trezena, um período de tempo do calendário asteca) 1 Jaguar.
Viso como uma manifestação do aspecto do vento divino da serpente emplumada Quetzalcoatl, uma das mais importantes divindades do panteão mesoamericano, ele é mencionado algumas vezes como Quetzalcoatl-Ehecatl. Assim, mais duas datas levam seu nome: 1 Ehecatl Iztac Tezcatlipoca (o Tezcatlipoca "branco", equivalente a Quetzalcoatl) e 4 Ehecatl Xolotl (Xolotl é o gêmeo de Quetzalcoatl). Quetzalcoatl-Ehecatl também integrava o grupo de quatro divindades que sustentavam o céu, especificamente na direção oeste. Patrono dos mercadores, estava igualmente associado aos macacos, talvez por causa da grande agilidade destes animais.
Mitologia da Criação
Ehecatl aparece na mitologia da criação asteca, inicialmente, como o segundo sol do universo Nahui Ehecatl e depois durante a criação do mundo atual, com o quinto e final sol. Conforme uma versão do mito, Quetzalcoatl se disfarçou como Ehecatl e desceu até o submundo, onde roubou os ossos dos habitantes dos mundos anteriores para criar os humanos do atual. Mictlantecuhtli, o deus do submundo, não ficava feliz em absoluto com pessoas passeando à vontade pelo seu reino e, assim, só deixaria Ehecatl sair se este conseguisse fazer música de uma concha comum. Espertamente, Ehecatl colocou minhocas para abrir buracos e abelhas para zumbir dentro da concha, produzindo um tremendo som e, assim, conseguindo sua liberdade.
Ele também ajudou no movimento do quinto sol e lua. Estes haviam sido criados quando os irmãos gêmeos Nanahuatzin e Tecuciztecatl se atiraram numa fogueira sacrificial. No entanto, restava o problema de que nenhum dos corpos celestes se movia até que Ehecatl, numa das versões do mito, pelo menos, foi chamado para soprá-los até suas respectivas órbitas.
Ehecatl e Mayahuel
Ehecatl recebe algumas vezes o crédito de dar à humanidade a importante planta do agave (Agave americana). Este tipo de cacto tornou-se útil pelos espinhos e pelo suco, fermentado para dar origem à bebida alcoólica pulque. A história começa com Ehecatl persuadindo Mayahuel, uma bela e jovem deusa, a descer dos céus e se tornar sua amante. Chegando à terra, o casal se abraçou como um par de árvores entrelaçadas, mas seu êxtase acabou sendo rudemente interrompido por Tzitzmitl, a "avó" da deusa e guardiã de Mayahuel. A idosa divindade dividiu a árvore em duas e deu os pedaços para suas seguidoras demoníacas, as Tzitzimime. Ehecatl, sendo um deus mais poderoso, escapou sem danos deste episódio e, assim, apanhou todos os pedaços de Mayahuel que pôde encontrar e os plantou num campo. Estes remanescentes então cresceram como a planta do agave. Além do pulque, dois outros presentes para a humanidade creditados com frequência a Ehecatl são a música e o milho.
Templos
Os templos mesoamericanos dedicados a Ehecatl e outros deuses do vento são distintos no sentido de serem circulares, em oposição à pirâmide quadrada usual, ou, então, incorporarem uma curva na parte de trás. O telhado de tais construções também costumava ser cônico. Este projeto pode refletir o desejo de torná-los aerodinamicamente receptivos aos ventos da divindade que honravam. As entradas formam geralmente as presas de uma serpente gigante. Isso pode ser uma imitação das cavernas que os povos mesoamericanos consideravam como acessos para o submundo, de onde se imaginava que os ventos se originavam.
Representação na Arte
Não existem representações conhecidas do deus anteriores ao século XII d.C., embora duas estelas da cidade maia de Seibal, datadas do século IX, representem uma divindade com um rosto ostentando um bico. Ehecatl é retratado com mais frequência nos códices e esculturas Pós-Clássicas, usando um chapéu cônico e uma máscara de bico de pato ou buccal (embora algumas vezes os cantos do bico tenham garras, uma característica comum dos deuses da chuva) que cobre a parte inferior de sua face. Quando colorido, seu corpo aparece pintado em preto e sua máscara facial em vermelho. Algumas vezes ele usa conchas, especialmente a concha comum (ehecacozcatl ou "joia do vento"), usada como um peitoral, com a qual ele produziu os sons que lhe permitiram escapar do submundo. As conchas podem ser outra pista para explicar as origens do deus entre os povos costeiros huastecas. Uma das mais famosas estátuas do deus vem de um templo dedicado a Quetzalcoatl-Ehecatl em Calixtlahuaca, no Vale de Toluca. Com altura de 1,76 m, Ehecatl parece pronto para soprar os ventos divinos através de sua máscara com bico de pato. A estátua encontra-se em exibição no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México.