As províncias da Nórica, da Récia e da Dácia serviam como um tampão que protegia o Império Romano contra qualquer possível ameaça externa. Contudo, a região impunha vários problemas internos para Roma: a Panônia e a sua aliada Dalmácia se rebelaram contra a ocupação romana, causando uma guerra de três anos, e a Mésia foi invadida pelos dácios durante os reinados tanto de Domiciano (r. 81-96 d.C.) quanto de Trajano (r. 98-117 d.C.).
Por fim, durante os séculos II e III d.C., a região foi repetidamente invadida pelos godos, pelos alamanos e pelos marcomanos. Embora a Nórica, a Récia e a Dácia atuassem como um tampão entre Roma e as tribos germânicas ao norte, ao cabo, elas sucumbiram aos invasores que elas deveriam manter distantes.
A Província da Nórica
Localizada nos Alpes orientais entre a Récia e a Panônia, a sua localização ideal ao sul do Danúbio e os seus ricos depósitos de minério de ferro e de ouro tornaram a Nórica um valioso ativo aos cofres do Império Romano. A descoberta de ouro no século II a.C. havia atraído colonizadores romanos para a região, os quais acabaram rapidamente expulsos pelos nativos tauriscos. Contudo, mercadores romanos continuaram a fazer negócios por meio de pequenos assentamentos comerciais. Sempre vista como uma aliada, a região foi finalmente conquistada em 16 a.C. durante o reinado do imperador romano Augusto (r. 27 a.C. - 14 d.C.). Porém, diferentemente de outras províncias, ela não havia recebido uma legião própria - a Legio Italica II - até o reinado de Marco Aurélio (r. 161-180 d.C.). A província foi depois dividida em duas - Nórica Ripense e Nórica Mediterrânea - por Diocleciano (r. 284-305 d.C.). Ela foi invadida por tribos germânicas do norte e abandonada no século V d.C.
Legio II Italica
A Legio II Italica (emblema: lobo; signo de nascimento: capricórnio) foi erigida por Marco Aurélio na Itália junto com a Legio III Italica para a sua campanha contra os marcomanos em 164 e 165 d.C., obtendo assim o nome Italica. Há uma certa confusão a respeito da sua primeira base. Enquanto alguns historiadores argumentam ter sido Ločica (Lotschitz) na Dalmácia, outros afirmam ter sido Aquileia, no nordeste da Itália. De qualquer forma, a principal função da legião era defender a rota desde a Panônia até Aquileia contra ameaças de invasores germânicos. Acredita-se que ambas as legiões tenham servido com Pertinax (r. 193 d.C.) em sua guerra contra os marcomanos. Estacionada por pouco tempo em Albing, na Áustria moderna, a Legio II Italica finalmente encontrou uma base permanente em Lauríaco (modernamente Enns, na Áustria), a casa do governador da Nórica.
A legião apoiou Septímio Severo (r. 193-211 d.C.) tanto na sua reivindicação ao trono romano quanto na sua guerra contra os postulantes Pescênio Níger e Clódio Albino. Embora as fontes sejam incertas, a Legio II Italica pode ter servido com o imperador Maximino Trácio (r. 235-238 d.C.) nas suas Guerras Dácias de 235 e 236 d.C. A legião depois apoiou Galieno (r. 253-268 d.C.) contra o postulante Póstumo, autoproclamado imperador do Império das Gálias, recebendo o título Pia V Fidelis ("Cinco Vezes Leal e Fiel"). Há alguma evidência de que uma unidade da legião estivesse com Constantino I (r. 306-337 d.C.) na Batalha da Ponte Mílvia em 312 d.C. De acordo com o historiador Stephen Dando-Collins, durante uma reorganização do exército romano, a legião tornou-se parte dos comitatenses sob o comando do Duque da Panônia e da Nórica Ripense. Assim como a sua província, ela mais tarde sucumbiria aos invasores godos.
A Província da Récia
A província da Récia foi anexada ao Império Romano em 15 a.C. pelo comandante e futuro imperador romano Tibério (r. 14-37 d.C.). Assim como a sua vizinha Nórica, ela não havia recebido uma legião permanente e propriamente sua - a Legio III Italica - até o reinado de Marco Aurélio. Em 233 d.C., a província foi invadida e devastada pelos alamanos, oriundos do sudoeste da Germânia. Mais tarde, durante a Crise do Terceiro Século, os francos e os alamanos invadiram a Gália Romana, a Récia e o norte da Itália em 259 d.C. O resultado foi a formação do Império da Gálias sob liderança de Póstumo.
Legio III Italica
A Legio III Italica (emblema: cegonha; signo de nascimento: capricórnio) foi erigida por Marco Aurélio na Itália para a sua guerra contra os marcomanos. A sua primeira base é desconhecida, possivelmente Aquileia, mas ela serviu como parte de uma reserva móvel comandada por Quinto Advento durante a campanha de Marco Aurélio. Temporariamente aquartelada em Abusina (atual Eining) na Nórica, por volta de 172 d.C., a legião foi transferida para Castra Regina (modernamente Regensburg) na Récia, em 179 d.C., onde permaneceu até o século V d.C. Assim como a sua legião irmã, ela esteve com Pertinax nas Guerras Marcomânicas. Após a morte de Pertinax, a legião apoiou Septímio Severo em sua reivindicação ao trono. Mais tarde, a legião esteve com Caracala (r. 198-217 d.C.) na sua campanha contra os partos. Há alguma evidência de que a Legio III Italica estivesse com Gordiano III (r. 238-244 d.C.) contra o Império Sassânida, em 244 d.C. Assim como a Legio II Italica, ela foi depois reduzida à condição de comitatenses.
A Província da Dácia
Até 85 d.C., o território da Dácia nunca havia imposto uma séria ameaça aos seus vizinhos. Isso mudou quando Decébalo assumiu o trono. Nesse ano, ele e o seu exército atravessaram o Danúbio e entraram sem serem provocados na província romana da Mésia. As legiões das Guerras Dácias só anexaram a região ao Império Romano em 106 d.C., de modo que o ouro dácio pagasse pelo Fórum de Trajano. Duas legiões foram permanentemente estacionadas na Dácia: a Legio V Macedonica e a Legio XIII Gemina. A fronteira da Dácia era tão difícil de defender contra invasores germânicos, que o imperador Aureliano (r. 270-275 d.C.) remanejou os cidadãos romanos e redesenhou as suas fronteiras. Pegando terras da Mésia e da Nórica, ele criou a Dácia Ripense e a Dácia Mediterrânea.
Legio V Macedonica
A origem da Legio V Macedonica (emblema: touro; signo de nascimento: desconhecido) é incerta. Segundo relatos, ela serviu com Otaviano na Batalha de Mutina, em 43 a.C. De 30 a.C. a 6 d.C., ela estava aquartelada na Macedônia, daí o nome Macedonica. Em 6 d.C., ela foi transferida para Esco, na Mésia (na Bulgária moderna). Ela pode ter participado da anexação da Trácia pelo imperador Cláudio (r. 41-54 d.C.). Em 62 d.C., a legião foi transferida para o exército de Cesênio Peto na Capadócia, para a sua guerra na Armênia, mas foi deixada na região do Ponto, já que o demasiadamente confiante Peto havia levado apenas duas legiões consigo. Mais tarde, a Legio V Macedonica seguiria Domício Córbulo na sua bem-sucedida campanha armênia. Nos seus Anais, o historiador Tácito escreveu sobre a guerra armênia:
... e, então, as legiões foram divididas: a quarta e a décima segunda legiões (IV Scythica e XII Fulminata), junto com a quinta, que fora há pouco tempo erigida na Mésia, e as tropas auxiliares do Ponto, da Galácia e da Capadócia, estavam sob comando de Peto... (Anais 15, 6).
A Legio V Macedonica entraria em ação com o filho de Vespasiano, Tito (r. 79-81 d.C.), na Primeira Guerra Judaica que se seguiu após a Grande Revolta Judaica de 66 d.C. e no cerco de Jerusalém em 70 d.C. Retornando à Mésia, a legião esteve tanto com Domiciano quanto com Trajano nas Guerras Dácias. O futuro imperador Adriano (r. 117-138 d.C.) serviu como oficial tanto na Legio V Macedonica quanto na Legio II Adiutrix. Depois, estacionada em Troesmis na Mésia Inferior (na Romênia moderna), a legião defendeu a costa noroeste do Mar Negro e as cidades gregas na Crimeia.
Em 135 d.C., a legião estava na Palestina, onde ajudou a suprimir a Revolta de Barcoquebas e auxiliou o cerco de Betar. Após a campanha de Lúcio Vero (r. 161-169 d.C.) contra a Pártia, a legião participou da guerra de Marco Aurélio contra os marcomanos. Depois, a Legio V Macedonica foi estacionada em Potaissa, na Dácia. Ela apoiou Septímio Severo enviando uma coorte da legião para acompanhá-lo na sua marcha a Roma. Em 274 d.C., quando a Dácia estava cercada por invasores bárbaros, a legião se retirou para Esco.
Legio XIII Gemina
A Legio XIII Gemina (emblema: leão; signo de nascimento: capricórnio) foi formada por Júlio César (100-44 a.C.) para a sua campanha contra os belgas em 57 a.C., seguindo-o no restante das Guerras Gálicas e cruzando o Rubicão com ele, em 49 a.C. No prefácio do seu livro Rubicon, Tom Holland escreve sobre a 13.ª legião:
Alinhados numa formação de plena marcha, soldados da 13.ª legião permaneceram reunidos na escuridão. ... Por oito anos, eles vinham seguindo o governador da Gália numa campanha sangrenta atrás da outra, passando pela neve, pelo calor do verão, até as margens do mundo. (XIII).
A legião foi desmantelada e só veio a ser reconstituída por Otaviano em 41 a.C., lutando ao lado dele contra Sexto Pompeu, na Sicília. Não se sabe se a Legio XIII Gemina esteve ou não com o futuro imperador na Batalha de Ácio, em 31 a.C.; no entanto, ela depois se fundiu com legiões desgastadas em 30 a.C., obtendo o nome Gemina ("gêmea"). Isso ocorreu com Druso, na sua campanha germânica de 20 a 15 a.C. Depois de servir com Tibério na sua campanha récia de 15 a.C., ela foi transferida para Emona (atual Liubliana) na Panônia até 6 d.C., quando esteve com Tibério na repressão da Revolta Panônia.
Após a Batalha da Floresta de Teutoburgo, em que Públio Quintílio Varo perdeu três legiões em 9 d.C., a Legio XIII Gemina foi transferida para Moguncíaco (modernamente Mainz, na Alemanha), antes de se dirigir a Vindobona (modernamente Viena, na Áustria) para servir com Germânico. Durante o Ano dos Quatro Imperadores, em 69 d.C., a legião apoiou Oto e serviu com ele na Primeira Batalha de Bedríaco contra Vitélio, na qual foi derrotada pela Legio V Alaudae e depois acusada de covardia. Mais tarde, a legião esteve com o exército de Vespasiano na Segunda Batalha de Bedríaco e Cremona. Após a derrota de Vitélio, a legião foi estacionada de novo em Vindobona, onde serviu com Domiciano nas suas Guerras Dácias e na vitória romana na Batalha de Tapas. A legião esteve com Trajano na sua campanha dácia e seguiu Adriano contra os sármatas. Estacionada brevemente em Apulum (na Romênia moderna), a Legio XIII Gemina esteve na Palestina durante a repressão da Segunda Revolta Judaica de 132 a 135 d.C.
A legião participou das Guerras Marcomânicas sob comando de Marco Aurélio e lutou contra os dácios sob comando de Cômodo (r. 180-192 d.C.). Ela apoiou Septímio Severo em 193 d.C. e juntou-se a ele contra o postulante Pescênio Níger. Pouco se sabe sobre o paradeiro da legião, exceto que ela esteve na Dácia até que a província fosse abandonada pelos romanos.