Segunda Cruzada

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Mark Cartwright
por , traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto
publicado em 17 julho 2018
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
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The Second Crusaders Arrive in Constantinople (by Jean Fouquet, Public Domain)
Os Cruzados da Segunda Cruzada Chegam a Constantinopla
Jean Fouquet (Public Domain)

A Segunda Cruzada (1147-1149) foi uma campanha militar, organizada pelo Papa e nobres europeus, para retomar a cidade de Edessa na Mesopotâmia que havia caído em 1144 para os turcos muçulmanos seljúcidas. Apesar de um exército de 60.000 homens e a presença de dois reis ocidentais, a Cruzada não teve sucesso no Levante e conseguiu produzir tensões entre o Império Bizantino e o ocidente. A Segunda Cruzada também incluiu campanhas significativas na Península Ibérica e no Báltico contra mouros muçulmanos e pagãos europeus, respectivamente. Ambas as campanhas secundárias foram amplamente bem-sucedidas, porém o objetivo principal, libertar o Oriente Latino da ameaça de ocupação muçulmana, iria ficar sem se realizar e por isso, mais à frente nos próximos dois séculos, outras Cruzadas seriam convocadas e todas com sucessos marginais.

Objetivos

Edessa, localizada às margens do deserto da Síria, na Mesopotâmia Superior, era um importante centro comercial e cultural. A cidade já havia ficado em mãos cristãs desde a Primeira Cruzada (1095-1102), porém caiu para Imad ad-Din Zangi (rein. 1127-1146), governante muçulmano independente de Mosul (no Iraque) e Alepo (na Síria), em 24 de dezembro de 1144. Após sua queda, descrita pelos muçulmanos como “a vitória das vitórias” (Asbridge, 226), os cristãos ocidentais foram mortos ou vendido como escravos, enquanto os cristãos orientais tiveram permissão para ficar. Exigiu-se uma resposta. Os cristãos de Edessa apelaram por socorro e fazia-se necessária uma defesa geral do Oriente Latino, o nome coletivo para os Estados Cruzados no Oriente Médio.

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A falta de um preciso objetivo para a segunda cruzada iria ter, posteriormente, repercussões junto aos líderes ocidentais quanto à escolha dos alvos militares.

O Papa Eugênio III (pont. 1145-1153) formalmente fez a convocação para uma Cruzada (conhecida agora como Segunda Cruzada) em 1º de dezembro de 1145. Os objetivos da campanha foram colocados um tanto vagamente. Nem Edessa e nem Zangi foram especificamente mencionados, ao contrário, o apelo foi amplo e voltado para a proteção das conquistas da Primeira Cruzada, dos cristãos e das sagradas relíquias no Levante. Esta falta de um objetivo preciso levaria, posteriormente, a repercussões na escolha, pelos cruzados, dos objetivos militares. Para estimular o interesse dos cruzados, aos cristãos que aderissem à empreitada foi prometida uma remissão de seus pecados, mesmo se morressem durante a viagem para o Levante. Além disso, suas propriedades e famílias ficariam protegidas enquanto estivessem fora e assuntos triviais como pagamentos de juros seriam suspensos ou cancelados. O apelo, apoiado por viagens de recrutamento através da Europa – notavelmente por Bernardo, abade de Clairvaux – e a ampla leitura pública de uma carta do Papa (chamada Quantum praedecessores após suas duas primeiras palavras), obteve um grande sucesso e 60.000 ficaram prontos para partida imediata.

A Cruzada foi comandada pelo Rei germânico Conrado III (rein. 1138-1152) e Luiz VII, Rei da França (rein. 1137-1180). Era a primeira vez que reis lideraram pessoalmente uma força Cruzada. No início do verão de 1147, o exército marchou através da Europa até Constantinopla e, daí, para o Levante, onde italianos, norte-europeus e os cruzados franceses, que viajaram pelo mar ao invés de marcharem por terra, uniram-se às tropas franco-germânicas. Os cruzados foram lembrados da urgência de uma resposta militar quando Nur ad-Din (também chamado Nur-al-Din, rein. 1146-1174), sucessor de Zangi após sua morte em setembro de 1146, derrotou o líder latino Joscelin II em sua tentativa de retomar Edessa. Novamente a cidade foi saqueada para celebrar Nur ad-Din como o novo homem forte. Todos os cidadãos cristãos do sexo masculino da cidade foram mortos e as mulheres e crianças foram vendidos como escravos, do mesmo modo como seus companheiros ocidentais tinham sido vendidos dois anos antes.

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Campanhas na Ibéria e no Báltico

A Segunda Cruzada, além de Edessa, tinha objetivos adicionais na Ibéria e no Báltico, ambas campanhas apoiadas pelo Papa. Os cruzados que iriam por via marítima para o oriente foram usados na Ibéria, provavelmente, porque tinham de atrasar a partida para que os exércitos que marchavam por terra faziam um progresso mais lento para o Levante. A via marítima era muito mais rápida e, então, era mais vantajoso colocá-los, nesse meio tempo, em bom uso. Uma frota de algo como 160-200 navios genoveses repletos de cruzados rumou para Lisboa para dar assistência ao Rei Alfonso Henrique de Portugal (rein. 1139-1185) para tomar aquela cidade da posse dos muçulmanos. À chegada, um sítio dentro dos padrões, teve início em 28 de junho de 1147 e foi bem-sucedido, a cidade caindo em 24 de outubro do mesmo ano. Alguns cruzados continuaram, com sucesso, a guerra contra os muçulmanos na Ibéria, a Reconquista, como foi chamada, notavelmente tomando Almeria no sul da Espanha (17 de outubro de 1147), conduzidos pelo Rei Alfonso VII de Leão e Castela (rein. 1126-1157) e Tortosa, no leste da Espanha, (30 de dezembro de 1148). Um ataque a Jaén, sul da Espanha, entretanto, foi um insucesso.

Siege of Lisbon, 1147 CE
Sítio de Lisboa, 1147
Roque Gameiro (Public Domain)

Outra arena para os cruzados foi o Báltico e áreas margeando o território germânico, as quais continuavam pagãs. A campanha das Cruzadas do Norte, conduzidas por saxões, lideradas por nobres alemães e dinamarqueses e dirigidas contra os Wends pagãos, forneceu uma nova faceta do movimento Cruzado: conversão ativa de não-cristãos em oposição à liberação de território mantido pelos infiéis. Entre junho e setembro de 1147, Dobin e Malchow (ambas no moderno nordeste alemão) foram atacadas com sucesso, porém a campanha como um todo conseguiu um pouco mais que as incursões anuais de grupos enviados à área. O Báltico iria continuar a ser uma arena para Cruzadas nos séculos seguintes, especialmente com a chegada dos Cavaleiros Teutônicos a partir do século XIII.

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O Império Bizantino

O Imperador Bizantino à época da Segunda Cruzada era Manuel I Komnenos (rein. 1143-1180). Ao contrário de seu predecessor era muito simpático ao ocidente. Favoreceu os latinos em Constantinopla, oferecendo prêmios aos civis e títulos aos militares controlados por ele. Desde a Primeira Cruzada, no entanto, havia uma profunda suspeita em ambos os lados, Bizâncio e Ocidente. A primeira preocupação de Manuel era de que os Cruzados somente permaneceriam no Levante após escolher partes do território do Império Bizantino, especialmente agora que Jerusalém se encontrava em mãos cristãs. Foi por esta razão que Manuel insistiu com os líderes da Cruzada, quando chegaram em setembro e outubro de 1147, para que jurassem fidelidade a ele. Ao mesmo tempo, as potências ocidentais consideraram que os bizantinos estivessem mais propriamente preocupados com seus próprios assuntos do que com a pouca ajuda oferecida por eles para as nobres oportunidades que eles achavam que uma cruzada oferecia. Os bizantinos haviam atacado Antioquia, que se encontrava em mãos dos cruzados, e as antigas divisões entre as Igrejas Ocidental e Oriental não haviam se dissipado. É significativo que Manuel, apesar da diplomacia, reforçou as defesas de Constantinopla.

Em termos mais práticos, a ralé de sempre e homens de origem duvidosa procurando absolvição, que as campanhas cruzadas pareciam atrair, logo estavam saqueando, roubando e estuprando durante sua passagem pelo território bizantino no caminho para o Levante. Isto apesar da insistência de Manuel com os líderes de que toda comida e suprimentos seriam pagos. Manuel forneceu uma escolta militar para acompanhar os cruzados e fazê-los caminhar o mais rápido possível e lutas entre os dois grupos armados não eram infrequentes. Adrianópolis, na Trácia, particularmente sofre muito.

The Byzantine Empire c. 1090 CE
O Império Bizantino c.1090
Spiridon MANOLIU (Public Domain)

Quando os contingentes francês e germânico chegaram à capital de Bizâncio, Constantinopla, em 1147, a situação piorou ainda mais. Sempre com suspeitas a respeito da Igreja Oriental e ultrajado, naquele momento, pela descoberta de que Manuel havia assinado uma trégua com os turcos (para ele como uma ameaça menor do que os cruzados no curto prazo), a seção francesa do exército desejava assaltar a própria Constantinopla. Os cruzados germânicos tinham seus próprios problemas, um grande número deles morreram arrastado por uma terrível tempestade. Os cruzados foram, finalmente, convencidos a se apressarem no caminho para o leste devido a notícias de que um grande exército de muçulmanos estava se preparando para bloquear a passagem dos ocidentais no caminho para a Ásia Menor. Ao ignorarem o aviso de Manuel para fincarem pé na segurança do litoral, seguiram para encontrar o desastre.

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Ásia Menor e o Desastre

o exército germânico, conduzido por conrado III, foi o primeiro a sofrer de uma falta de planejamento e por desprezar o aviso dos bizantinos.

O exército germânico conduzido por Conrado III foi o primeiro a sofrer da falta de planejamento e por não ter levado em consideração o aviso dos bizantinos. Despreparado para a inclemência da estepe semiárida, os cruzados enfrentaram a falta de suprimentos e alimentos e Conrado subestimou o tempo necessário para atingir seu objetivo. Em Dorilea a força muçulmana de turcos seljúcidas, primariamente constituída por arqueiros, produziu o caos nos lentos ocidentais em 25 de outubro de 1147. Forçado a se retirar para Nicea, o próprio Conrado foi ferido, porém conseguiram levá-lo para Constantinopla. Luiz VII ficou chocado ao ouvir do fracasso germânico, porém se apressou, avançou e manobrou para derrotar o exército dos seljúcidas em dezembro de 1147, utilizando sua cavalaria muito superior aos turcos. O sucesso teve vida curta, pois a partir de 7 de janeiro de 1148 os franceses foram derrotados em uma batalha quando atravessavam as Montanhas Cadmus. O exército cruzado ficou muito distendido, unidades perdendo contato umas com as outras e os seljúcidas assumindo completa vantagem. O que restou dos ocidentais estava comandado por um grupo de Cavaleiros Templários. Aconteceram algumas vitórias menores à medida que os cruzados se dirigiam para o sul da costa da Ásia Menor, porém foi uma desastrosa abertura para uma campanha que ainda não havia atingido seu objetivo no norte da Síria.

Siege of Damascus, 1148 CE
Cerco de Damasco, 1148
Unknown Artist (Public Domain)

O Sítio de Damasco

Luiz VII e seu arruinado exército finalmente chegaram a Antioquia em março de 1148. Dali, ignorou a proposta de Raymond de Antioquia para combater no norte da Síria e, daí, marchar para o Sul. A falta de cooperação entre os dois líderes, a se acreditar nos rumores, fora devido à descoberta, por Luiz, de que sua jovem esposa, Eleanor de Aquitânia, e Raymond (tio de Eleanor) estavam tendo um caso amoroso debaixo de seu próprio nariz. De qualquer modo, um Conselho dos líderes ocidentais reuniu-se no Acre e o alvo da Cruzada foi selecionado, não a já destruída Edessa, porém Damasco, posse muçulmana, a ameaça mais próxima para Jerusalém e um prêmio de prestígio.

Embora Damasco já estivera em aliança com o Reino de Jerusalém, comandado pelos cruzados, as volúveis lealdades entre os vários estados muçulmanos justificavam a falta de garantias para o futuro e, frente à necessidade para assumir pelo menos uma grande cidade ou voltar para casa como um completo fracassos, Damasco se apresentava como uma boa escolha para qualquer cruzado. A situação tornou-se mais urgente devido à perspectiva real de que os muçulmanos de Damasco poderiam se unir aos de Aleppo sob o comando do ambicioso conquistador de Edessa, Nur ad—Din.

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Os fracassos da segunda cruzada colocavam agora os já lendários sucessos da primeira cruzada em uma outra visão.

O exército cruzado chegou a Damasco em 24 de julho de 1148 e imediatamente começou um sítio. Após somente quatro dias, entretanto, as dificuldades apresentadas pelas defesas e a séria falta de água para os atacantes significava que o sítio devia ser abandonado. Novamente, mau planejamento e logística pobre iriam demonstrar o esfacelamento dos cruzados. O combate em volta da cidade foi feroz com pesadas baixas em ambos os lados, mas sem se ter feito nenhum avanço real. Os fracassos da Segunda Cruzada estavam agora colocando o já lendário sucesso da Primeira Cruzada em uma outra visão.

O colapso do sítio após tão pouco tempo levou alguns, notavelmente Conrado III, a suspeitar que os defensores haviam subornado os cristãos ali residentes para ficarem inativos. Outros suspeitaram de interferência bizantina. Subestimado, talvez, é o cuidado dos defensores em manter sua valorizada posse, uma cidade com muitas ligações com as tradições islâmicas e a chegada, 150 km distante, de um grande exército muçulmano de auxílio enviado por Nur ad-Din. Com números limitados de soldados e suprimentos e enfrentando um curto tempo limite para capturar a cidade antes que o exército de auxílio chegasse e ameaçasse suas próprias defesas inadequadas, os líderes cruzados preferiram a opção de se retirarem e combaterem em outro dia. Não iria haver outro combate, entretanto, pois Conrado III retornou à Europa em setembro de 1148 e Luiz, após uma visita à Terra Santa, fez o mesmo seis meses mais tarde. A Segunda Cruzada, apesar de muita promessa em seu início, foi desapontadoramente extinta como fogos de artifício na água.

Consequências

A Segunda Cruzada foi um sério golpe nas alianças cuidadosamente construídas por Bizâncio, especialmente com Conrado III contra os normandos. A Cruzada e a ausência de Conrado da Europa forneceram uma desatenção aproveitada pelo rei normando Roger II da Sicília (rein.1130-1154) para ficar em liberdade de atacar e saquear Kerkyra (Corfu), Euboea, Corinto e Tebas em 1147. Manuel tentou convencer Luiz VII inutilmente para unir-se a ele contra Roger. Em 1149 o constrangimento de uma insurreição sérvia e um ataque na área em torno de Constantinopla pela frota de George de Antioquia foram compensados pela retomada de Kerkyra pelos bizantinos. Novamente, um cruzado causou danos nas relações bizantino-ocidentais.

Nur ad-Din, sem dúvida temido pelos cruzados, continuou a consolidar seu império, tomando Antioquia em 29 de junho de 1149, após a Batalha de Inab, decapitando seu governante Raymond de Antioquia. Raymond, o Conde de Edessa, foi capturado e aprisionado, e o Estado Latino de Edessa eliminado em 1150. Em seguida, Nur ad-Din tomou Damasco em 1154, unindo a Síria muçulmana. Manuel retaliaria com campanhas de sucesso ali, de 1158 a 1176, mas eram ameaçadores os sinais de que os muçulmanos poderiam criar uma ameaça permanente aos bizantinos e ao Oriente Latino. Quando Shirkuh, general de Nur ad-Din, conquistou o Egito em 1168, foi pavimentado o caminho para uma nova e maior ameaça à cristandade, o grande líder muçulmano Saladin (sult. 1169-1193), Sultão do Egito, cuja vitória na Batalha de Hattin em 1187, seria o estopim para a Terceira Cruzada (1189-1192).

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Sobre o tradutor

Jose Monteiro Queiroz-Neto
Monteiro é um pediatra aposentado interessado na história do Império Romano e da Idade Média. Tem como objetivo ampliar o conhecimento dos artigos da WH para o público de língua portuguesa. Atualmente reside em Santos, Brasil.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2018, julho 17). Segunda Cruzada [Second Crusade]. (J. M. Queiroz-Neto, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-16759/segunda-cruzada/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Segunda Cruzada." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. Última modificação julho 17, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-16759/segunda-cruzada/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Segunda Cruzada." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 17 jul 2018. Web. 13 dez 2024.