Cavaleiros Teutônicos

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto
publicado em 11 julho 2018
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, italiano, Polaco
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Teutonic Knight (by Unknown Artist, Public Domain)
Cavaleiro Teutônico
Unknown Artist (Public Domain)

Um Cavaleiro Teutônico era um membro da católico-militar Deutscher Orden ou Ordem dos Cavaleiros Teutônicos, oficialmente fundada em março de 1198. A primeira missão deles foi auxiliar na retomada de Jerusalém dos árabes na Terceira Cruzada (1187-1192) e durante esta fracassada tentativa, fundaram um hospital fora de Acre durante o sítio daquela cidade. Ao hospital foi concedido o status de uma ordem militar independente pelo Papa e os cavaleiros nunca voltaram atrás. O Oriente Médio provou ser muito difícil para ser mantido, porém a ambiciosa ordem simplesmente desviou seu foco para a conversão de cristãos e se apossar de terras no centro e norte da Europa. Com sua famosa cruz negra sobre uma túnica branca, os austeros Cavaleiros Teutônicos tornaram-se mestres comerciantes e diplomatas, demarcando amplas faixas de território a partir de sua base na Prússia e construindo castelos pela Europa, da Sicília até a Lituânia.

Fundação: A Terceira Cruzada

A Terceira Cruzada foi proclamada pelo Papa Gregório VIII após a tomada de Jerusalém, em 1187, por Saladin, o Sultão do Egito e Síria (sult. 1174-1193). Embora liderada pela nata da nobreza europeia, o projeto encontrava-se cercado de problemas, nenhum maior que a morte acidental de Frederick I Barbarossa (Rei da Alemanha e Sacro Imperador Romano, rein. 1152-1190). Devido ao inoportuno afogamento, a maior parte de se exército penosamente retornou para casa em tristeza, mas alguns cavaleiros germânicos, após pressões, foram auxiliar no sítio de Acre que veio a se encerrar em julho de 1191. Apesar de alguns outros sucessos, os cruzados somente conseguiram avistar Jerusalém e não se fez nenhuma tentativa para atacar a Cidade Santa. Ao contrário, negociou-se o domínio de uma pequena faixa de terra em volta de Acre, bem como o tratamento seguro dos peregrinos cristãos na Terra Santa, para o futuro.

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Como outras ordens militares do período medieval, a Ordem Teutônica foi uma combinação de dois modos de vida: cavalaria e monastério.

Em Acre, c. 1190, um corpo de cavaleiros alemães havia fundado um hospital de campanha (como seus companheiros já haviam feito em Jerusalém no século XII) dedicado à Santa Maria. Em março de 1198, o Papa Inocêncio III (pont. 1198-1216) concedeu a seus membros o status de uma ordem militar independente sob o nome Fratres Domus Hospitalis Sanctae Mariae Teutonicorum (Irmãos Germânicos do Hospital de Santa Maria ou Irmãos da Casa Hospital de Santa Maria dos Teutônicos). Assim nasceu a organização que mais tarde se tornaria mais conhecida como Ordem Teutônica e seus membros como Cavaleiros Teutônicos. Como as outras ordens militares do período medieval (p.ex. Cavaleiros Templários e Cavaleiros Hospitalários), constituía uma combinação dos dois modos de vida: cavalaria e monastério.

A Ordem adquiriu terras em regiões controladas pelos cruzados no Oriente Médio e construiu um punhado de castelos, especialmente em torno de Acre. Essencialmente, a Ordem pretendia defender as aquisições dos cruzados. Além disso, possuía terras na Cilícia, graças às suas íntimas relações com os armênios, os quais os viam como um contrapeso aos Cavaleiros Templários. O quartel-general da Ordem ficou sediado na fortaleza de Montfort (Qal’at Qurain) nas montanhas da Galileia, a nordeste de Acre, renomeado pelos Teutônicos para Castelo Starkenberg. A Ordem possuía duas importantes fortalezas na Cilícia oriental e adquiriria solidamente mais terras, incluindo territórios na Grécia, Itália e Europa Central.

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Organização e Recrutamento

A Ordem tinha como líder um Grão-mestre (Hochmeister), escolhido por um colégio eleitoral e do qual se previa que devesse consultar seus oficiais e comandantes sêniores. No século XV, havia um segundo mestre na Livônia, que veio a se tornar cada vez mais independente da Ordem com seu quartel-general na Prússia. Algumas vezes acontecia do mestre ser removido por seus oficiais e, de fato, houve um caso de assassinato de um mestre particularmente impopular. A Ordem controlava muitas regiões por toda a Europa e Oriente Médio, divididas em províncias administrativas ou ballein, cada uma governada por um landmeister.

Extent of the Teutonic Order c. 1300 CE
Extensão da Ordem Teutônica c.1300
Marco Zanoli (CC BY-SA)

A maior parte dos recrutas para os vários castelos-conventos espalhados pelos territórios Teutônicos eram alemães, vindos da Francônia e Turíngia, do Reno e outras regiões. Os cavaleiros (ritter) ou irmãos, eram tipicamente aristocratas, muito embora maioria membros de seus baixos escalões, espalhados em muitos jurisdições de comando contendo entre 10 a 80 membros. Como em outras ordens militares, os recrutas assumiam votos monásticos de pobreza, castidade e obediência. As motivações para entrada na Ordem incluíam prêmios na outra vida, prometida aos cruzados em nome de Deus, a oportunidade de aventura, promoção pessoal e mesmo simplesmente por uma alimentação regular e um lugar para dormir.

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Os colonos germânicos podiam entrar para Ordem, mas em geral somente como sacerdotes ou servindo como meio-irmão (halb-brüder). Cada castelo-convento possuía um contingente de besteiros locais e de não combatentes como servos e artesãos. Finalmente, cavaleiros estrangeiros não eram desconhecidos, pois a Ordem era oficialmente internacional, embora a maioria dos recrutas tenha vindo da Alemanha. O número total de membros da irmandade flutuava dependendo de batalhas e se havia perda ou ganho de território. Na Prússia, por exemplo, havia 700 membros em 1379, 400 em 1450, 160 em 1513 e 55 em 1525. O número total de cavaleiros na Ordem nunca excedeu algo como 1300.

As comendadorias ofereciam treinamento, residência e um local para a aposentadoria para membros da ordem, bem como ajuda para as comunidades locais.

A Ordem obtinha renda das pilhagens na guerra e de territórios capturados, mas havia também um significativo e regular fluxo de fundos do comércio e aluguéis de terra, bem como doações que podiam ser na forma de dinheiro vivo, bens ou terra. Alguns irmãos-cavaleiros pagavam uma taxa quando entravam na Ordem e foi introduzido um imposto sobre as populações nos territórios Teutônicos no século XV. Isto se tornou necessário à medida que a Ordem exigia mais cavaleiros do que podia ativamente recrutar e, assim, foi forçada a pagar mercenários para atingir seus objetivos. As comendadorias ofereciam treinamento, residência e local para aposentadoria dos membros da Ordem, bem como auxílio para as comunidades locais por meio de suas casas de repouso, hospitais, escolas e cemitérios. A Ordem também construía igrejas, mantendo-as e apoiando artista para decorá-las.

Uniforme e Regras

A Ordem era famosa, acima de tudo, por seus bem treinados e bem armados cavaleiros, bem como por suas robustas fortalezas de pedra. Os Cavaleiros Teutônicos usavam cruzes negras sobre fundo branco ou com uma borda branca. Essas cruzes podiam aparecer nos escudos, sobretudos brancos (a partir de 1244), capacetes e bandeirolas. Os meio-irmãos usavam roupa cinza, ao contrário do branco, reservado aos cavaleiros.

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Teutonic Knights Entering Marienburg Castle
Cavaleiros Teutônicos Entrando no Castelo Marienburg
Carl Steffeck (Public Domain)

Os Cavaleiros Teutônicos seguiam um bom número de regras estritas, mais que em outras ordens militares. A barba era permitida, vedado cabelo comprido e quaisquer roupas e equipamento ostentador. Aos membros não se permitia posse de dinheiro ou propriedade pessoal, mesmo suas limitadas vestimentas não podiam ser guardadas em uma arca trancada. Como nas outras ordens, antes do século XV, os Cavaleiros Teutônicos não possuíam sinete pessoal e monumentos funerários. Os brasões eram proibidos. Um outro erro grave era uma diversão excessiva (é o caso de se perguntar se seria o gênero dela, se excessivo, ou diferente). Os cavaleiros não podiam participar de justas nos torneios medievais, muitas espécies de caçadas, nem se misturar socialmente com outros tipos de cavaleiros. O tédio podia ser afastado por um passatempo que era permitido: escultura em madeira.

Cruzadas Européias: Prússia e Livônia

Um desastre impactou a Ordem em 1244 quando o Reino de Jerusalém caiu sob o Sultão Aiubida do Egito. Na Batalha de La Forbie próxima a Gaza, uma devastadora perda de 437 de 440 Cavaleiros Teutônicos foram mortos. Em 1271 os mamelucos do Egito e Síria capturaram a fortaleza de Montfort, removendo a influência teutônica no Oriente Médio, embora fixassem um novo quartel-general em Acre até a queda da cidade em 1291, novamente para os mamelucos. Sob um novo Grão-mestre, Conrad von Feuchtwangen, a Ordem se mudou para Veneza. Então, em 1309, sob um novo mestre, Siegfried von Feuchtwangen, o quartel-general foi levado, desta vez, para um convento fortificado em Marienburg, na Prússia. Esta foi uma localização mais prática devido ao abandono dos assuntos do Oriente Médio e o novo foco voltado para o Norte e Centro da Europa, onde os cavaleiros já haviam estado em campanha (Hungria na primeira década do século XIII e a Prússia a partir de 1228).

cavaleiros teutônicos realizaram cruzadas na prússia e área do báltico principalmente contra lituanos pagãos e russos ortodoxos.

Por todos os séculos XIII e XIV os católicos Cavaleiros Teutônicos realizaram cruzadas na Prússia e na área do Báltico, principalmente contra os lituânios pagãos e os russos ortodoxos, mas como a Ordem se encontrava determinada a se expandir por sua própria vontade, muitas outras nacionalidades lutaram, além dessas. A longa disputa territorial entre Prússia e a Livônia, com os teutônicos particularmente felizes devido ao terreno de caça e os Cavaleiros Teutônicos, ao final, vieram a governar toda a Prússia. Ocorreram diversas revoltas pelos prussianos sob o governo Teutônico, notavelmente em 1260 e a guerra foi selvagem. Ocorreram sérios reveses, também, notavelmente para os russos no Lago Peipus em 1242. A Ordem não deixou de gerar controvérsias, recebendo acusações de políticas muito menos que cristãs com relação aos irmãos crentes. Foram acusados de assassinarem cristãos na Livônia, destruir igrejas seculares, impedir conversões e comercializar com pagãos. De fato, dizia-se que muitos pagãos na Europa Central resistiram à cristianização somente porque não desejavam viver sob o ameaçador tacão dos Cavaleiros Teutônicos. Em 1310 o Papa lançou uma investigação, porém nada se concluiu, e a Ordem suportou o dano à sua reputação. Houve também algum reconhecimento de que os rumores estavam sendo espalhados por Ordem de rivais e de inimigos.

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Marienburg (Malbork) Castle
Castelo Marienburg (Malbork)
Gregy (CC BY-SA)

A Ordem Teutônica teve sucesso em acrescentar territórios, notavelmente Danzig e a Pomerânia Oriental em 1308 e o Norte da Estônia em 1346. Ocorreu uma grande vitória contra os lituanos e o prestígio das campanhas da Ordem na Prússia e Livônia atraíram nobres de toda a Europa, incluindo o futuro Henry IV da Inglaterra (rein. 1399-1413). No entanto, quando os lituanos se converteram formalmente ao cristianismo em 1389, o ideal da Cruzada perdeu seu objetivo. A partir daí, tornou-se claro que os Cavaleiros Teutônicos se encontravam mais interessados em política e pilhagens que na conversão e as guerras prosseguiram. Quando os lituanos e poloneses uniram forças com os russos e mongóis, junto com outros pequenos estados aliados, a Ordem Teutônica ficou ameaçada de extinção. Na Batalha de Tannenburg, em 15 de julho de 14410, um exército de Cavaleiros Teutônicos foi destruído e em 1457 o quartel-general de uma ordem, agora bastante reduzida e amplamente secular precisou, ser transferido para Konigsberg. A Ordem Teutônica ainda permaneceu com seu ramo livoniano no século XVI, primariamente focado a combater, sem muito sucesso, os russos cismáticos e os turcos otomanos. A Ordem secularizada (em 1525 na Prússia e 1562 na Livônia) continuou a existir como uma unidade militar menor, combatendo contra os exércitos da Monarquia Germano-austríaca dos Habsburgos até o século XVIII. Esta unidade existe ainda hoje como uma organização não militar, apoiando comunidades com cuidados de saúde, projetos de bem-estar e o patrocínio de artistas. Os arquivos da Ordem, agora em Viena, constituem uma inestimável fonte histórica do período medieval e o funcionamento das ordens militares em geral.

Realizações

A Ordem Teutônica desfrutou de muitos sucessos com o passar dos séculos e de fracassos militares – notavelmente na defesa da Terra Santa e contra os russos, porém conseguiu os dois feitos que sempre foram sua intenção: disseminar o cristianismo e ajudar o pobre e necessitado. A Ordem converteu muitos pagãos nos territórios que conquistava, colonizando o local com migrantes alemães e como parte de uma colonização sistemática. A Ordem difundiu tecnologia, por exemplo, construindo um imenso moinho de água em Danzig no início do século XIV. Suas habilidades em negócios eram famosas em toda a Europa, bem como sua competência diplomática, gerando um antigo provérbio alemão: “Se você se julga tão esperto, vá em frente e engane os senhores da Prússia”. Em certo sentido, a Ordem foi vítima de seus próprios sucessos, pois suas habilidades administrativas e comerciais frequentemente entravam em conflito com outros poderes. Além do mais, quando opositores tradicionais se converteram ao cristianismo, o principal objetivo da Ordem Teutônica deixou de existir.

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Sobre o tradutor

Jose Monteiro Queiroz-Neto
Monteiro é um pediatra aposentado interessado na história do Império Romano e da Idade Média. Tem como objetivo ampliar o conhecimento dos artigos da WH para o público de língua portuguesa. Atualmente reside em Santos, Brasil.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é autor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações compartilham. Ele possui mestrado em Filosofia Política e é diretor editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2018, julho 11). Cavaleiros Teutônicos [Teutonic Knight]. (J. M. Queiroz-Neto, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-17154/cavaleiros-teutonicos/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Cavaleiros Teutônicos." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. Última modificação julho 11, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-17154/cavaleiros-teutonicos/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Cavaleiros Teutônicos." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 11 jul 2018. Web. 07 out 2024.