
No mundo da Grécia Antiga, a religião era direta, presente e pessoal em todas as áreas da vida. Com rituais formais os quais incluíam sacrifícios de animais e libação, mitos para explicar a origem da humanidade e dar aos deuses um rosto humano, templos que dominavam a paisagem urbana, festivais das pólis e competições nacionais de artes e esportes, a religião nunca estava longe da mente de um grego antigo. Enquanto o indivíduo podia se decidir sobre o grau de sua crença religiosa e alguns podem ter sido completamente céticos, certos fundamentos devem ter sido suficientemente difundidos de modo que o governo e a sociedade grega funcionassem: os deuses existiam, podiam influenciar assuntos humanos e acolhiam e respondiam a atos de piedade e adoração.
Os Deuses Olimpianos
A religião grega politeísta abrangeu uma miríade de deuses, cada qual representando uma certa faceta da condição humana, e mesmo ideias abstratas como justiça e sabedoria podiam ter sua própria personificação. Os deuses mais importantes, porém, foram os deuses Olimpianos liderados por Zeus:
Se acreditava que estes doze deuses Olimpianos residiam no Monte Olimpo e teriam sido reconhecidos pela Grécia, embora com algumas variações locais e talvez atributos particulares e associações.
Na literatura, arte e imaginação gregas, aos deuses eram dados corpos e características humanas - tanto boas quanto más - e tanto quanto homens e mulheres comuns, eles casavam, tinham filhos (com frequência através de casos ilícitos), lutavam e nas histórias da mitologia grega eles interviam diretamente em assunstos humanos. Essas tradições foram primeiramente passadas apenas oralmente, uma vez que não havia um texto sagrado na religião grega, e depois foram feitas tentativas de registrar essa tradição oral, notavelmente por Hesíodo em sua Teogonia e mais indiretamente nos trabalhos de Homero.
Templos, Rituais e Sacerdotes
Deuses se tornaram patronos de cidades, como Afrodite para Corinto e Hélio para a Ilha de Rhodes, e foram convocados para ajudar em situações particulares, como por exemplo, Ares durante as guerras e Hera para casamentos. Alguns deuses foram importados do estrangeiro, como Adônis, e incorporados no panteão grego enquanto rios e árvores podiam assumir formas como as ninfas.
O templo (naos - do significado de moradia, em relação a crença de que o deus residiu no local, ou visitou temporariamente durante rituais) era o local onde, em ocasiões especiais, a religião tomou um tom mais formal. Os deuses eram adorados em locais sagrados e em templos na maior parte das comunidades gregas, em cerimônias ministradas por sacerdotes e seus assistentes.
No início, os locais sagrados eram meramente um altar em uma área designada, porém, com o tempo, templos massivos vieram a ser construídos em honra a um deus particular e estes geralmente acolheram uma estátua da divindade, sendo a mais famosa a enorme estátua de Atena no Partenon de Atenas, ou a de Zeus em Olímpia. Com o tempo, todo um complexo de templos de deuses menores podiam surgir ao redor do templo principal, criando um grande complexo sagrado, frequentemente construído por cima de uma acrópolis, dominando uma cidade ou arredores. Essa área sagrada (temenos) era separada do resto da comunidade por um portão simbólico ou propylon, e na realidade, se acreditava que essa área pertencia à divindade particular em questão. Locais sagrados também recebiam doações financeiras e dedicações de estátuas, fontes e até construções dos crentes, com frequência para celebrar uma grande vitória militar e agradecer aos deuses, e santuários maiores também tinham cuidadores permanentes (neokoroi), que eram responsáveis pela manutenção do local.
Contudo, o templo em si não era usado durante práticas religiosas que eram designadas ao altar localizado fora dele. Autores antigos frequentemente relutam em aprofundar detalhes explícitos das cerimônias religiosas e ritos, como se fossem sagrados demais para serem propagados pela palavra escrita. O que nós sabemos é que as práticas religiosas mais comuns eram os sacrifícios e libações, tudo acompanhado de orações em honra ao deus. Os animais sacrificados geralmente eram porcos, ovelhas, bodes ou vacas e sempre do mesmo sexo do deus que estava sendo honrado. A carne era então totalmente queimada ou cozida, com parte sendo oferecida ao deus e o resto consumida por alguns ou todos os devotos, ou levada para ser consumida depois. O real abate do animal era conduzido por um açougueiro ou cozinheiro (megeiras) enquanto uma jovem espalhava sementes nas cabeças dos animais, talvez para simbolizar a vida e a regeneração no momento da morte do animal. Outros rituais incluíram a análise das entranhas dos animais sacrificados para descobrir sinais que podiam ajudar a prever eventos futuros.
Os sacerdotes então orquestravam cerimônias religiosas e entregavam orações. A posição era geralmente aberta a todos e assim que assumido o papel, particurlamente quando usando a faixa sagrada, o corpo do sacerdote se tornava inviolável. Sacerdotes serviam a um deus específico mas não eram necessariamente peritos religiosos. Por questões teológicas, um cidadão podia consultur um exegetes, um oficial de estado expert em assuntos religiosos. Mulheres também podiam ser sacerdotisas, o que é surpreendente dado a sua ausência em outros papéis públicos na sociedade grega. Com frequência, mas não sempre, o sacerdote era do mesmo sexo do deus que representava. Sacerdotisas possuíam de fato a restrição adicional de serem no geral selecionadas por serem virgens ou terem passado da menopausa. Os devotos, por outro lado, podiam ser de ambos os sexos e os rituais com restrições podiam excluir tanto homens quanto mulheres.
Mistérios e Oráculos
Além das cerimônias religiosas formais e públicas havia também muitos ritos que eram abertos e conhecidos apenas pelos iniciados que os performavam, sendo o exemplo mais famoso o Mistério de Elêusis. Nestes gruposo fechados, membros acreditavam que certas atividades rendiam benefícios espirituais, entre eles uma melhor pós-vida.
Alguns lugares podiam também adquirir conexão divina; os grandes oráculos como o de Delfos, de Apolo, e o de Dodona, de Zeus, podem ter começado como lugares considerados especialmente bons para receber sinais dos deuses. Estes lugares se tornaram centros de grande importância com seus sacerdotes do oráculo sendo consultados por ambos indivíduos e Cidades-Estado para que as proclamações ambíguas e um tanto quanto vagas pudessem ajudar a guiar suas condutas futuras.
Festivais e Jogos
Jogos atléticos e competições musicais (especialmente de kithara e lira) e teatrais (ambas de tragédia e comédia) eram apresentadas durante festivais como a Dionísia de Atenas e os Jogos Pan-Helênicos nos locais mais sagrados e importantes de Olímpia, Delfos, Nemeia e Isthmia, para honrar um deus em particular. Visitantes de toda Grécia compareciam a esses eventos, e a experiência era talvez mais próxima de uma peregrinação do que de uma adoração de esportes. Para ilustrar seu status sagrado, guerras eram proibidas durante esses eventos, e aos peregrinos era concedida livre passagem pela Grécia. Contudo, também haviam festivais bem menores, ás vezes comparecidos apenas por um seleto número de indivíduos, como por exemplo, a Arreforia em Atenas, onde apenas sacerdotisas e no máximo quatro jovens mulheres participavam.
Religião pessoal
Apesar do registro histórico revelar muito sobre o aspecto formal das ocasiões e cerimônias religiosas, nós devemos lembrar de que a religião grega era na verdade praticada em todos os lugares, a qualquer momento, por indivíduos privados de uma maneira muito pessoal. Não apenas nos templos, mas também no coração privado das casas era contemplado o sagrado. Indivíduos podiam visitar o templo a qualquer momento que quisessem e era costume direcionar uma oração apenas ao passar por eles na rua. As pessoas deixavam oferendas como incensos, flores e comida, sem dúvida com uma oração otimista ou em gratidão a uma boa ação passada. Indivíduos também podiam organizar seus próprios sacrifícios privados se tivessem os recursos para fazê-lo, e estes eram celebrados em centenas de marcas em rochas encontradas em locais sagrados. Além disso, os templos eram visitados com frequência em busca de cura, especialmente nos locais associados com Asclépio, o deus da Medicina, notavelmente em Epidauro.
Pessoas também buscavam por sinais dos deuses no dia a dia e buscavam interpretá-los como indicadores de eventos futuros. Essses sinais podiam ser pássaros no céu ou uma palavra dita entre amigos em um momento particular ou mesmo um simples espirro, os quais podiam ser interpretados como bons ou maus presságios.
Essas crenças e, de fato, certos aspectos da religião como a imortalidade dos deuses representada nas artes, foram severamente criticados por intelectuais, artistas e filósofos do século V a.C., porém isso pode ou não refletir a visão comum da população geral, e é difícil de acreditar, com base na riqueza dos registros escritos e arqueológicos, que a religião não era parte fundamental da vida dos habitantes comuns do mundo da Grécia antiga.