
O governo do antigo Egito foi uma monarquia teocrática, já que o rei possuía um mandato dos deuses, sendo inicialmente visto como o intermediário entre os seres humanos e os seres divinos, e com o dever de representar a vontade dos deuses através de leis criadas e políticas aprovadas.
A presença de um governo centralizado no Egito já era evidente por volta de 3150 a.C. quando o rei Narmer unificou o país, embora alguma forma de organização governamental já existisse antes dessa data. Os Reis Escorpião do Período Pré-Dinástico no Egito (c. 6000 a 3150 a.C.) certamente possuíam uma forma de governo monárquico, mas seu funcionamento exato ainda é desconhecido.
Os egiptólogos do século XIX dividiram a história do país em períodos específicos para esclarecer e organizar sua área de pesquisa. Os períodos nos quais havia um governo centralizado forte são chamados de "reinos", enquanto aqueles marcados pela desunião ou ausência de governo centralizado são denominados "períodos Intermediários". Ao examinar a história egípcia é preciso entender que essas denominações são modernas; os egípcios da antiguidade não reconheciam essas demarcações de tempo nesses termos. Os escribas do Médio Império Egípcio (c. 2040-1782 a.C.) podiam se referir à época do Primeiro Período Intermediário (2181-2040 a.C.) como um "tempo de aflições", mas esse período não possuía uma denominação oficial.
O padrão no qual o governo funcionou mudou muito pouco ao longo dos séculos, mas o padrão básico foi estabelecido na Primeira Dinastia do Egito (c. 3150 - c. 2890 a.C.). O rei governava o país com um vizir como o segundo no comando, altos funcionários, escribas, governadores regionais (conhecidos como nomarcas), prefeitos das cidades e, a partir do Segundo Período Intermediário (c. 1782 - c. 1570 a.C.), uma força policial. Do seu palácio na capital, o rei faria seus pronunciamentos, decretaria leis e encomendaria projetos de construção, com suas ordens sendo então implementadas pela burocracia, que se tornara necessária para administrar o governo do país. A estrutura de governo do Egito perdurou, com poucas modificações, de c. 3150 até 30 a.C., quando o país foi anexado por Roma.
Período dinástico inicial & Antigo reinado
O governante era conhecido como "rei" até o Novo Reinado do Egito (1570-1069 a.C.) quando o termo "faraó" (que significa "Casa Grande", em referência à residência real) passou a ser usado. O primeiro rei foi Narmer (também conhecido como Menes), que estabeleceu um governo centralizado após unificar o país, provavelmente com o uso de meios militares. A economia do Egito era baseada na produção agrícola e operava através de um sistema de trocas diretas. A classe mais baixa de camponeses cultivava a terra, entregava o trigo e outros produtos ao dono das terras da nobreza (ficando com uma pequena porção para si), e o proprietário então repassava a produção ao governo para ser usada no comércio ou na distribuição para a comunidade em geral.
Sob o reinado do sucessor de Narmer, Hor-Aha (c. 3100-3050 a.C.) o evento conhecido como Shemsu Hor (Seguimento de Hórus) teve início, tornando-se então uma prática padrão para os futuros reis. O rei e seu séquito viajariam através do país, tornando assim a presença e o poder real visíveis para os seus súditos. O egiptólogo Toby Wilkinson comenta:
O Shemsu Hor servia para vários propósitos de uma só vez. Ele permitia com que o monarca tivesse uma presença visível na vida de seus súditos, fazia com que seus oficiais mantivessem os olhos abertos a tudo que estava acontecendo no país, implementando políticas, resolvendo disputas e administrando a justiça; distribuía os custos de manutenção da corte e removia o ônus de sustentá-la o ano todo em um único local; e, por último mas não menos importante, facilitava a avaliação sistemática e a cobrança de impostos. Um pouco mais tarde, na Segunda Dinastia, a corte reconheceu explicitamente o potencial atuarial do Seguimento de Hórus. A partir daí, o evento foi associado a um censo formal da riqueza agrícola do país. (44-45)
O Shemsu Hor (melhor conhecido atualmente como a Contagem de Gado Egípcia) tornou-se o mecanismo pelo qual o governo avaliava a riqueza individual e cobrava impostos. Cada distrito (nome) era dividido em províncias com um nomarca administrando as operações gerais do nome, seguido por funcionários provinciais menores e, depois, pelos prefeitos das cidades. Ao invés de confiar em um nomarca para prestar contas das riquezas ao rei, ele próprio com sua corte viajaria regularmente para avaliar esses fundos pessoalmente. O Shemsu Hor então se tornou um evento anual (e posteriormente bienal) na vida dos egípcios e, muito tempo depois, forneceu aos egiptólogos pelo menos datas aproximadas dos reinados, já que o Shemsu Hor era sempre registrado por reinado e ano.
Os cobradores de impostos seguiam a avaliação feita pelos funcionários do séquito real e recolhiam uma quantidade determinada de produtos de cada nome, província e cidade, que era então enviada ao governo central. O governo então, usaria essa produção no comércio. Ao longo do Período Dinástico Inicial, esse sistema funcionou tão bem que, já durante a Terceira Dinastia do Egito (c. 2670-2613 a.C.), foram iniciados alguns projetos de construção que demandavam custos substanciais e uma força de trabalho organizada - o mais conhecido e duradouro sendo a Pirâmide de Degraus do Rei Djoser. Durante o Antigo Reinado do Egito (c. 2613-2181 a.C.) o governo era rico o suficiente para investir até na construção de grandes monumentos, como as pirâmides de Gizé.
A pessoa mais importante do país depois do rei era o vizir. Ás vezes havia dois vizires, um para o Alto e outro para o Baixo Egito. O vizir era a voz do rei e seu representante, sendo geralmente um parente ou alguém bem próximo do monarca. O vizir administrava a burocracia do governo e delegava responsabilidades conforme as ordens do rei. Durante o Antigo Reinado, os vizires estariam responsáveis pela construção de projetos, além de administrar outros assuntos do governo.
Durante o final do Antigo Reinado, os vizires tornaram-se menos atentos conforme sua posição ficava mais confortável. A enorme quantia de riquezas do governo era direcionada para esses projetos grandiosos de construção em Giza, Abusir, Saqqara e Abidos. Enquanto isso, os sacerdotes que administravam os complexos templos nesses locais, assim como os nomarcas e governadores provinciais, tornavam-se cada vez mais ricos. Juntamente com essa riqueza, o poder deles também aumentava, fazendo com que eles ficassem menos inclinados a se preocupar com o que o rei pensava ou com suas demandas. A ascensão de poder dos sacerdotes e nomarcas significou um declínio no governo centralizado, o que resultou, juntamente com outros fatores, o colapso do Antigo Reinado.
Primeiro período intermediário & Médio reinado
Os reis ainda governavam no início do Primeiro Período Intermediário sua capital, Mênfis, mas detinham muito pouco poder real. Os nomarcas administravam suas próprias regiões, coletando suas próprias taxas, construíam seus próprios tempos e monumentos em sua honra, e comissionavam suas próprias tumbas. Os primeiros reis do Primeiro Período Intermediário (7ª-10ª dinastias) foram tão inexpressivos que seus nomes mal são lembrados, e suas datas frequentemente se confundem. Os nomarcas, com suas próprias mãos, cresciam constantemente em poder. A historiadora Margaret Bunson explica como a função deles era muito diferente no período anterior ao Primeiro Período Intermediário:
O poder desses governantes locais era limitado durante os reinados de faraós fortes, mas, em geral, eles serviam ao governo central, aceitando o papel tradicional de serem os "Primeiros Sob o Rei". Essa posição denotava um direito oficial de administrar um nomo ou uma província em nome do faraó. Esses funcionários eram responsáveis pelos tribunais, tesouro, cartórios de terras, programas de conservação, milícia, arquivos e armazéns de sua região. Eles prestavam contas ao vizir e ao tesouro real sobre todos os assuntos sob sua jurisdição. (103)
Contudo, durante o Primeiro Período Intermediário, os nomarcas usaram seus recursos para seus próprios interesses e de suas comunidades. Os reis de Mênfis, talvez buscando retomar um pouco de seu prestígio perdido, mudaram-se para a capital da cidade de Heracleópolis, mas não obtiveram mais sucesso do que já tinham vivendo na antiga capital.
Por volta de 2125 a.C., um soberano conhecido como Intef I chegou ao poder na cidade do Alto Egito de Tebas, e inspirou suas comunidades para que se rebelassem contra os reis de Mênfis. As ações dele inspirariam seus sucessores, finalmente resultando na vitória de Mentuhotep II sob os reis de Heracleópolis c. 2040 a.C., dando início ao Médio Reinado.
Mentuhotep II governou a partir de Tebas. Embora tivesse deposto os antigos reis e iniciado uma nova dinastia, ele modelou seu governo seguindo os padrões do Antigo Reinado. O Antigo Reinado era visto como uma grande era na história do Egito, com as pirâmides e os grandiosos complexos de Gizé e outros locais servindo como poderosos lembretes do esplendor do passado. Um dos antigos padrões mantidos por ele, que havia sido negligenciado no final do Antigo Reinado, foi a duplicação de instituições governamentais para o Alto e o Baixo Egito, como explica Bunson:
No geral, os oficiais administrativos do governo central eram cópias exatas das agências provincianas, com uma diferença significativa. Na maioria dos períodos, os cargos eram duplicados: um para o Alto Egito e outro para o Baixo Egito. Essa dualidade também era refletida na arquitetura, com palácios de duas entradas, duas salas do trono, etc. O país se identificava como um todo, mas haviam certas tradições que remontavam aos ancestrais lendários do norte e do sul, os reis semi-divinos do período pré-dinástico, e aos conceitos de simetria. (103)
A duplicação de agências não apenas honrou o norte e o sul do Egito igualmente, mas também manteve o controle absoluto dos reis em ambas as regiões. O sucessor de Mentuhotep II, Amenemhat I (c. 1991 - c.1962 a.C.), transferiu a capital para a cidade de Iti-taui, próxima a Lixte, e deu continuidade às antigas políticas, enriquecendo o governo com rapidez suficiente para iniciar os seus próprios projetos arquitetônicos. Essa mudança da capital de Tebas para Lixte pode ter sido uma tentativa de unificar (no futuro) o Egito, centralizando o governo no meio do país, ao invés de mantê-lo na direção sul. Em uma tentativa para limitar o poder dos nomarcas, Amenemhat I criou o primeiro exército permanente do Egito, subordinado diretamente ao controle real. Antes dessa reforma, os exércitos eram recrutados por meio de conscrição nos diversos distritos, e os nomarcas enviavam seus homens para servir ao rei. Isso causou uma grande diminuição do poder dos nomarcas, conforme a lealdade dos homens, já que antes a lealdade dos homens estava para com suas comunidades e governante regional. Um exército permanente, prioritariamente leal ao rei, encorajava o nacionalismo e uma unidade forte
Quando se falava sobre a coleta de impostos, proporcionalmente à produção de uma fazenda, precisamos assumir uma rede de oficiais, operada em prol do estado por todo o Egito. Não pode haver dúvidas de que seus esforços eram acompanhados por meios coercitivos. As inscrições deixadas por alguns desses oficiais, majoritariamente na forma da produção de selos, permite que nós recriemos o trabalho da tesouraria, sendo este de longe o departamento mais importante acerca do início da história egípcia. A produção agrícola recolhida como receita do governo era tratada de duas formas diferentes. Uma certa proporção ia diretamente para as oficinas estaduais para a manufatura de produtos secundários - por exemplo, sebo e couro do gado, carne de porco dos suínos; tecidos de linho da planta flax; pães, cerveja e padarias que usavam os grãos. Parte desses produtos com valor agregado era comercializada e trocada com algum lucro, gerando renda adicional para o governo; outra parte era redistribuída como pagamento a funcionários do Estado, financiando assim a corte real e seus projetos. O restante da produção agrícola (majoritariamente grãos) era armazenada nos celeiros do governo, provavelmente localizados por todo o Egito nos centros regionais importantes. Parte do estoque de grãos era utilizada em seu estado natural para financiar as atividades da corte, mas uma parcela significativa era reservada como estoque de emergência, para ser usada em caso de colheitas ruins e ajudar a evitar fomes generalizadas. (45-46)
Os nomarcas do Médio Reinado cooperavam plenamente com o rei no envio desses recursos, principalmente porque sua autonomia passou a ser respeitada pela coroa de uma forma sem precedentes. A arte egípcia durante o Médio Reinado apresenta uma maior variedade do que a do Antigo Reinado, sugerindo uma valorização mais ampla dos gostos regionais e estilos distintos, ao invés da arte mais controlada que era apenas valorizada na corte. Além disso, cartas desse período deixavam bem claro que os nomarcas recebiam um nível de respeito dos reis da 12ª Dinastia que jamais haviam conhecido durante o Antigo Reinado. Sob o reinado de Senusret III (c. 1878-1860 a.C.) o poder dos nomarcas diminuiu e os nomos foram reorganizados. O título de nomarca desapareceu completamente dos registros oficiais ainda no reinado de Senusret III, sugerindo que ele foi abolido. Os governantes provincianos já não tinham mais as liberdades de antes, mas ainda se beneficiavam de suas posições; eles agora se encontravam mais limitados e ligados ao governo central.
A 12º Dinastia do Médio Reinado do Egito (c. 2040-1802 a.C.) é considerada a "era de ouro" da cultura, arte e governança egípcia, quando alguns dos trabalhos artísticos e literários mais significantes foram criados, a economia era robusta, e um governo centralizado havia abraçado o comércio e a produtividade. A produção em massa de artefatos como estatuária (como os "shabtis", por exemplo) e a joalheria durante o Primeiro Período Intermediário havia estimulado o surgimento de um consumo generalizado, uma prática que continuou no Médio Reinado, porém com maior habilidade artesanal, resultando em obras de qualidade superior. A 13º Dinastia (c. 1802- c. 1782 a.C.) foi mais fraca do que a 12º. O conforto, assim como os altos padrões de vida durando o Médio Reinado começaram a enfraquecer conforme os governantes regionais, novamente, assumiram maior poder, os sacerdotes reuniram mais riqueza, e o governo central tornou-se significativamente mais ineficaz. Na parte mais distante do norte do país, em Avaris, um povo semita havia se estabelecido em torno de um centro comercial. Durante a XIII Dinastia, esse grupo ganhou poder até conseguir afirmar sua autonomia e, posteriormente, expandir seu controle sobre a região. Eles eram os Hicsos ("reis estrangeiros") cuja ascendência sinalizava o fim do Médio Reinado e o início do Segundo Período Intermediário do Egito.
Segundo período intermediário & Novo reinado
Os estudiosos egípcios posteriores caracterizariam esse período dos Hicsos como caótico, afirmando que eles invadiram e destruíram o país. Na verdade, os Hicsos admiravam a cultura egípcia e a adotaram como a sua própria. Embora eles tenham conduzido pilhagens a cidades do Egito como Mênfis, levando estátuas e monumentos para Avaris, os hicsos adotavam trajes egípcios, cultuavam deuses locais e incorporavam estruturas administrativas do Egito em seu próprio governo.
O governo egípcio em Itj-taui, próximo a Lixte, já não conseguia controlar a região e acabou abandonando o Baixo Egito aos hicsos, transferindo a capital de volta para Tebas. Conforme os hicsos adquiriam poder ao norte, os cuchitas avançavam ao sul, reconquistando territórios que o Egito havia dominado sob o reinado de Senusret III. Os egípcios em Tebas toleraram essa situação até aproximadamente 1580 a.C., quando o rei egípcio Seqenenra Taa (também conhecido como Ta'O), sentindo-se insultado e desafiado pelo rei hicso Apepi, decidiu atacar. Essa iniciativa foi seguida e ampliada posteriormente por seu filho Kamés (c. 1575 a.C.) e finalmente por seu irmão Amósis I (c. 1570-1544 a.C.), que derrotou os hicsos e os expulsou do Egito.
A vitória de Amósis I deu início ao período conhecido com o Novo Reinado do Egito, a era mais conhecida e mais documentada da história egípcia. Nessa época, o governo egípcio foi reorganizado e sofreu algumas mudanças para que fosse estabelecida uma hierarquia clara que partia do faraó no topo, passava pelo vizir, pelo tesoureiro real, pelo general das forças armadas, pelos supervisores (encarregados de locais governamentais como obras públicas) e pelos escribas, responsáveis pela documentação oficial e pela transmissão da correspondência.
O Novo Reinado também consolidou a institucionalização das forças policiais, cujas origens remontam ao governo de Amenemhat I. Suas primeiras unidades policiais eram formadas por tribos beduínas encarregadas da vigilância das fronteiras, mas com atuação limitada na manutenção da ordem pública interna. A nova força policial do Novo Reinado eram os Medjay, guerreiros da Núbia que haviam combatido os hicsos com Amósis I, sendo muito recompensados nessa nova posição. A polícia era organizada pelo vizir, que estava sob as ordens do faraó. O vizir delegaria então a autoridade a oficiais que cuidariam das patrulhas da polícia estatal. Essas forças de segurança guardavam templos e complexos mortuários, protegiam as fronteiras e monitoravam a imigração, montavam guardas perto de tumbas reais e cemitérios, e vigiavam os trabalhadores e os escravos nas minas e pedreiras. Sob o reinado de Ramsés II (1279-1213 a.C.), os Medjay atuavam como sua guarda pessoal. Durante a maior parte de sua existência, porém, os Medjay mantinham a paz nas fronteiras e só intervinham nos assuntos dos cidadãos quando ordenados por um oficial superior. Com o tempo, algumas dessas posições vieram a ser ocupadas por sacerdotes, como Bunson explica:
As unidades policiais em templos eram normalmente compostas por sacerdotes, que ficavam responsáveis pela manutenção da religiosidade dos complexos de templos. As normas relativas ao sexo, comportamento e atitude durante e antes de todas as cerimônias rituais exigiam vigilância constante, e os templos mantinham seus próprios funcionários para garantir um ambiente harmonioso. (207)
A polícia dos templos era mais participativa durante festivais religiosos, muitos dos quais (com os de Bastet ou Hathor) encorajavam o consumo de bebidas de maneira excessiva e o abandono das inibições.
O Novo Reinado também participou da reforma e expansão do exército. A experiência do Egito com os hicsos havia mostrado o quão fácil era para um poder estrangeiro dominar o seu próprio país, e eles não tinham interesse em repetir isso. Amósis I foi o primeiro a conceber a ideia de zonas de segurança nas fronteiras do Egito para garantir a segurança do país, mas essa estratégia foi ampliada por seu filho e sucessor Amenhotep I (c. 1541-1520 a.C.).
O exército liderado por Amósis I contra os hicsos era composto por soldados regulares egípcios, recrutas obrigatórios e mercenários estrangeiros, como os Medjay. Amenhotep I treinou um exército egípcio de profissionais e os liderou até a Núbia para que completassem as campanhas de seu pai e retomassem as terras perdidas durante a 13º Dinastia. Seus sucessores continuaram a expansão das fronteiras do Egito, mas foi ninguém menos do que Tutmósis III (1458-1425 a.C.), que estabeleceu o Império Egípcio, conquistando terras da Síria até a Líbia e adentrando a Núbia.
No tempo de Amenhotep III (1386-1353 a.C.), o Egito era um vasto império com tratados diplomáticos e de comércio estabelecidos com outras grandes nações como os hititas, mitani, Império Assírio e Reino da Babilônia. Amenhotep III reinou sob um país tão vasto e seguro que foi capaz de se ocupar principalmente com a construção de monumentos. Ele construiu tantos deles que os primeiros egiptólogos atribuíram a ele um reinado excepcionalmente longo.
Seu filho iria desfazer todas as grandes conquistas do Novo Reinado amplamente através da reforma religiosa, o que minou a autoridade do faraó, arruinou a economia e deteriorou as relações com outras nações. Aquenáton (1353-1336 a.C.), possivelmente numa tentativa de neutralizar o poder político dos sacerdotes de Amon, proibiu todos os cultos religiosos no país, exceto o de seu deus pessoal Aton. Ele fechou templos e moveu a capital de Tebas para uma nova cidade que ele construiu na região de Amarna, chamada Akhetaton. Lá, ele se isolou com sua esposa Nefertiti e sua família, negligenciando os assuntos de Estado.
A posição do faraó foi legitimada por sua aderência à vontade dos deuses. Os templos pelo Egito não eram apenas locais de adoração, mas também fábricas, dispensários, oficinas, centros de aconselhamento, casas de cura, e centros educacionais e culturais. Ao fechá-los, Aquenáton interrompeu o impulso progressista do Novo Reinado, enquanto encomendava a construção de novos templos e santuários alinhados à sua crença monoteísta no deus único Aton. Seu sucessor, Tutancâmon (1336-1327 a.C.), reverteu suas políticas, devolveu a capital a Tebas e reabriu os templos, mas não viveu o suficiente para concluir o processo. Essa tarefa foi concluída pelo faraó Horemheb (1320-1295 a.C.), que tentou apagar qualquer evidência da existência de Aquenáton. Horemheb restaurou parcialmente o prestígio do Egito com outras nações, recuperou a economia e reconstruiu os templos destruídos, mas o país nunca mais atingiu o esplendor alcançado sob Amenhotep III.
O governo do Novo Reinado começou em Tebas, mas Ramsés II moveu-o para o norte estabelecendo-o em uma nova cidade que construiu no local da antiga Avaris, Pi-Ramsés. Tebas continuou como um centro religioso importante principalmente por causa do Grande Templo de Amon em Karnak, o qual todos os faraós do Novo Reinado contribuíram. As razões para a mudança de Ramsés II permanecem obscuras, mas um dos resultados foi que, com a capital do governo distante, em Pi-Ramsés, os sacerdotes de Amon em Tebas ficaram livres para agir conforme desejassem. Esses sacerdotes ampliaram seu poder a ponto de rivalizar com o próprio faraó. O Novo Reinado chegou ao fim quando os sumos sacerdotes de Tebas passaram a governar a partir daquela cidade, conforme os últimos faraós da dinastia lutavam para manter o controle a partir de Pi-Ramsés.
Último período do Antigo Egito & Período Ptolomaico
O Egito estava novamente dividido conforme entrava agora no Terceiro Período Intermediário (1069-525 a.C.). O governo em Tebas demandava a supremacia ao mesmo tempo em que reconhecia a legitimidade dos governantes em Pi-Ramsés, e estabelecia laços matrimoniais com eles. A divisão do governo enfraqueceu o Egito, o qual começou culminando em guerras civis durante o Período Tardio (c. 664-332 a.C.). Nesse período, os aspirantes a governantes do Egito enfrentaram-se utilizando mercenários gregos que, com o tempo, perderam interesse no conflito e fundaram suas próprias comunidades no Vale do Nilo.
Em 671 e 666 a.C., os Assírios invadiram e tomaram o controle do país, e em 525 a.C. os Persas invadiram. Sob o controle persa o Egito tornou-se uma satrapia com capital em Mênfis e, assim como os assírios antes deles, os persas colocaram-se em todas as posições de poder. Quando Alexandre, o Grande conquistou a Pérsia, ele tomou o controle do Egito em 331 a.C., coroando-se faraó em Mênfis, e colocando macedônios no poder.
Após a morte de Alexande, seu general Ptolomeu (323-285 a.C.) fundou a Dinastia Ptolomaica no Egito, que durou de 323-30 a.C. Os ptolomeus, assim como os hicsos antes deles, admiravam profundamente a cultura egípcia e a incorporaram ao seu governo. Ptolomeu I tentou amalgamar as culturas grega e egípcia para criar um país harmonioso e multinacional, e obteve êxito, mas isso não perdurou além do reinado de Ptolomeu V (204-181 a.C.). Sob o reinado de Ptolomeu V, o país estava novamente tomado por rebeliões, com o governo central enfraquecido. A última faraó ptolomaica do Egito foi Cleópatra VII (69-30 a.C.), e após a sua morte o país foi anexado por Roma.
Legado
A teocracia monárquica do Egito perdurou ao longo de três mil anos anos, criando e mantendo uma das maiores e mais antigas culturas do mundo. Muitos dos dispositivos, artefatos e práticas da atualidade tiveram origem nos períodos de estabilidade do Egito, nos Antigo, Médio e Novo Reinados - quando um governo central forte proporcionava a estabilidade necessária para a criação artística e cultural.
Os egípcios inventaram o papel e a tinta colorida, avançaram a arte da escrita, foram os primeiros a usar cosméticos em larga escala, criaram a escova de dentes, pasta de dente e balas de hortelã para o hálito, avançaram o conhecimento médico e práticas como tratamento de fraturas e realização de cirurgias, desenvolveram relógios de água e calendários (sendo os criadores do calendário de 365 dias que usamos hoje), além de aperfeiçoarem a fabricação de cerveja, fazerem avanços agrícolas como o arado puxado por bois, e até mesmo popularizarem o uso das perucas.
Os reis e, posteriormente, os faraós do Antigo Egito iniciavam seus reinados oferecendo-se ao serviço da deusa da verdade, Ma'at, que personificava a harmonia e o equilíbrio universal e encarnava o conceito de ma'at, tão fundamental para a cultura egípcia. Ao manter a harmonia, o rei do Egito providenciava uma cultura que encorajava a criatividade e a inovação. Cada rei iniciava seu reinado "apresentando Ma'at" aos demais deuses do panteão egípcio, assegurando-lhes que seguiria seus preceitos e incentivaria seu povo a fazer o mesmo durante seu governo. O governo do antigo Egito, em sua maior parte, manteve sua barganha divina com seus deuses, e o resultado foi a grande civilização do antigo Egito.