Skara Brae

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Filipa Oliveira
publicado em 18 Outubro 2012
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Disponível noutras línguas: Inglês, francês
Skara Brae, Orkney (by Yellow Book, CC BY-NC-SA)
Skara Brae, Órcades
Yellow Book (CC BY-NC-SA)

Skara Brae é um assentamento neolítico composto por dez estruturas de pedra, perto da Baía de Skaill, nas Ilhas Órcades, no norte da Escócia e considerado Patrinómio Mundial da UNESCO. A interpretação deste local arqueológico teve de ser reavaliada dado que quando era originalmente habitado (entre 3100 e 2500 a.C.) estaria mais afastado da orla marítima e devido à constante erosão ao longo dos séculos que alteraram consideravelmente a paisagem, encontra-se presentemente perto da orla marítima. O nome `Skara Brae' provém do nome antigo de local `Skerrabra' ou `Styerrabrae', que designa monte, o qual enterrou (e preservou) as casas da povoação. Contudo, desconhece-se o nome pelo qual os habitantes antigos o designavam.

Comumente, pensa-se que Skara Brae terá sido descoberta em 1850 quando uma intempérie atingiu as Órcades afastando as areias e a terra destapando o local. O dono das terras, William Watt, após ver as paredes de pedras expostas, iniciou escavações e encontrou quatro habitações de pedra. Reconhecendo a importância do seu achado, William Watt contactou o antiquário George Petrie que prosseguiu com as escavações. Em abril de 1867, apresentou o seu progresso numa reunião da Sociedade de Antiquários da Escócia e em 1868 já tinha documentando diversas descobertas importantes. O escritor e historiador de Órcades, Dr. Ernest Marwick (1915-1977) clamou que a história da ‘descoberta’ de Skara Brae era “uma completa ficção” (Orkneyjar, pág. 1) e que há muito se tinha estabelecido ter havido um assentamento antigo no local. Num artigo de 1967, Dr. Ernest Marwick citou James Robertson que, em 1769, registou no seu diário de viagem às Órcades ter encontrado um esqueleto “com uma espada numa mão e um machado dinamarquês na noutra” (Orkneyjar, pág. 2). Se William Watt ou George Petrie fizeram descobertas semelhantes aquando das suas escavações nada foi registado. George Petrie catalogou exaustivamente contas, instrumentos de pedras e ornamentos que encontrou no local, mas não há registo de espadas ou machados dinamarqueses. Com efeito, além de facas neolíticas não foram encontradas nenhum tipo de armas no local, e as facas pensa-se ser de uso doméstico sem qualquer tipo de aplicação bélica. Pouco tempo após 1868, George Petrie deixou as escavações mas outros prosseguiram com o trabalho arqueológico.

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as escavações feitas em 1927 desvendaram e estabeleceram Skara brae como o melhor Preservado assentamento neolítico da europa.

Prosseguindo o trabalho arqueológico, em 1913 W. Balfour Stewart efetuou trabalhos de escavação e nesta altura, aparentemente, durante um fim-de-semana, o assentamento neolítico foi visitado por desconhecidos que escavaram intensamente levando importantes artefatos do local, apesar de não haver registo destes artefactos ou se eram conhecidos de W. Balfour Stewart, não se pode comprovar a veracidade desta informação. Em 1924, o assentamento neolítico ficou à guarda de Her Majesty's Commissioners of Works (Trabalhos Comissários a S.A.) através do curador da propriedade Watt, assegurando que as construções fossem protegidas da erosão marítima. No mesmo ano, uma intempérie danificou as construções escavadas e destruiu uma delas. Num esforço para preservar o local e para que fossem efetuadas escavações profissionias em Skaill, nomeou-se o professor e arqueológo de Edimburgo, Vere Gordon Childe, juntamente com o seu colega J. Wilson Paterson. De forma a salvaguardar o assentamento neolítico, foi edificado um quebra-mar durante os verões de 1925 e 1926, e somente em 1927 Vere Gordon Childe e J. Wilson Paterson puderam iniciar os trabalhos. No seu relatório de 11 de fevereiro de 1929 para a Sociedade de Antiquários da Escócia, relatando os procedimentos tidos em Skara Brae, J. Wilson Paterson referiu a história mais conhecida de o assentamento neolítico ter sido descoberto aquando da intempérie de 1850 e William Watt como proprietário do terreno. Não menciona qualquer conhecimento do assentamento neolítico anterior a 1850, o mesmo acontece com W. Balfour Stewart. Apartir de 1927, as escavações efetuadas revelaram e estabeleceram Skara Brae como o melhor presevado assentamento neolítico da Europa e em 1999 foi declarado como Património da Humanidade da UNESCO. Presentemente, o assentemento neolítico está sob a alçada administrativa da Historic Sctoland (Agência de preservação natural ou cultural da Escócia)

Skara Brae
Skara Brae
N/A (CC BY-SA)

O assentamento neolítico de Skara Brae foi construído com lajes de pedras sobrepostas e fundadas no chão para maior apoio, preenchendo os espaços das paredes e no chão com detritos para um isolamento natural. Cada peça de mobiliário nas habitações era de pedra desde os roupeiros aos armários, cadeiras e camas. A existência de lareiras indica que as habitações eram aquecidas pelo fogo e que cada uma tinha originalmente um telhado, talvez de turfa, que, assume-se, ter tido um tipo de abertura que serviria de chaminé. Mesmo assim, pensa-se que estas habitações, sem janelas, teriam certamente pouca luminosidade e fumo. Dada a escassez de madeira na região, não se sabe como manteriam os lumes acessos. A teoria de que a população de Skara Brae esperava na praia por lenha à deriva vinda da América do Norte é inadmissível; primeiro porque não estava localizada na orla marítima e segundo dado que a madeira era um bem precioso não seria usada como lenha. No assentamento neolítico foi encontrada uma pega de madeira, denotando que a madeira era usada para fazer parte de instrumentos e não de matéria para combustível. A tipologia das habitações é igual em termos de construção e planta, e muitas tinham o mesmo tipo de mobiliário. O assentamento neolítico tinha um sistema de drenagem e casa de banho interna.

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Artefatos encontrados no local provam que a civilização neolítica fazia cerâmica do tipo loiça de ranhura, um estilo de cerâmica caraterizado por objectos de fundo raso e laterias direitas, decorado com ranhuras, sendo originário das Órcades. É por isso que os habitantes de Skara Brae são conhecidos por Grooved Ware People (Povo da Loiça de Ranhura) e foram encontradas cerâmicas em outros locais das Órcades, como em Maeshowe. Os habitantes deste assentamento eram pastores de gado bovino e ovino, trabalhavam a terra, caçavam e pescavam, produziam instrumentos, dados para jogar, joias e outros ornamentos feitos de osso, pedra preciosa e pedra. De acordo com W. Balfour Stewart, durante as escavações de 1867 feitas por Samuel Laing, foram desenterradas tantas facas e raspadores que Samuel Laing pensou ter descoberto “uma fábrica destes artigos” (Stewart, pág. 349). O arqueoastronomo Euan MacKie defende que Skara Brae era uma comunidade de astrónomos e homens sábios que mapearam o céu e fundamenta a sua convicção pelas esferas de pedras entalhadas com padrões rectilíneos encontradas no local. Já W. Balfour Stewart menciona artefatos de pedra e osso que pensa ser para fins lúdicos e que talvez as esferas sejam parte do jogo. O que é certo é que ninguém sabe para que serviam as esferas e qualquer ideia é mera especulação. Contudo, não há provas no assentamento neolítico que indiquem que Skara Brae era uma comunidade de astrónomos, quando tudo leva a crer tratar-se de ser um assentamento neolítico pastoral e agrícola.

Stone furnishings of a house
Mobiliário de pedra
N/A (CC BY-SA)

Continuando com o fio da meada da descoberta dramática de Skara Brae na intempérie de 1850, reenvidica-se que o tempo foi o responsável pelo abandonamento do assentamento neolítico. Uma teoria popular, durante décadas, afirma que o assentamento neolítico foi enterrado pela areia trazida por uma intempérie que forçou a populção a abandonar as suas casas e evadir-se. Tal como Pompeia, Skara Brae permaneceu perfeitamente preservada pela rapidez como foi enterrada pela ação do tempo atmosférico. No relatório escrito em 1929, J. Wilson Paterson menciona contas entre os artefactos descobertos, e que estavam “espalhadas pelo chão. Um grupo de contas e ornamentos foram encontrados juntos na ombeira de uma porta estreita. Ficaram tão próximos que formaram um colar. Tudo indica que o colar caiu quando a sua dona passou pela porta” (Paterson, pág. 228). Apesar de neste relatório ou provas físicas no assentamento neolítico não indicarem a hipótese de abandono do local devido a uma tempestade catastrófica, Evan Hadingham no seu bem conhecido livro Circles and Standing Stones (Círculos e Menires) sugere-o ao escrever: “A intempérie foi forte e as areias da duna taparam o assentamento neolítico após um período incerto de ocupação. Tal como em Pompeia, os habitantes foram apanhados de surpresa e fugiram tão depressa que a maioria das suas posses... permaneceu no local. Uma mulher fugiu tão apressadamente da areia que invandia o local que o seu colar partiu-se quando tentava esgueirar-se pela estreita porta de sua casa, espalhando as contas na passagem” (Hadingham, pág. 66). As contas referidas por J. Wilson Paterson não sustentam esta teoria, e a ausência de restos humanos ou qualquer tipo de prova de cataclismo sugerem, sim, outro tipo de razão para o abandonamento do assentamento neolítico. Os indícios obtidos nas escavações arqueológicas da década de 1970, efetuadas pelo casal Graham e Anna Ritchie, contrariam a teoria de cataclismo e de que Skara Brae estaria edificado perto da orla marítima. A teoria do casal Ritchie, partilhada pela maioria dos historiadores e arqueológos, é de que o assentamento neolítico foi abandonado por razões desconhecidas e pela ação natural do tempo foi sendo enterrado pela areia e pela terra.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Filipa Oliveira
Tradutora e autora, o gosto pelas letras é infindável – da sua concepção ao jogo de palavras, da sonoridade às inumeráveis possibilidades de expressão.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Escritor freelance e ex-professor de filosofia em tempo parcial no Marist College, em Nova York, Joshua J. Mark viveu na Grécia e na Alemanha e viajou pelo Egito. Ele ensinou história, redação, literatura e filosofia em nível universitário.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2012, Outubro 18). Skara Brae [Skara Brae]. (F. Oliveira, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11449/skara-brae/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Skara Brae." Traduzido por Filipa Oliveira. World History Encyclopedia. Última modificação Outubro 18, 2012. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11449/skara-brae/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Skara Brae." Traduzido por Filipa Oliveira. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 18 Out 2012. Web. 25 Abr 2024.