Harappa é uma grande aldeia situada atualmente na província de Punjab, no Paquistão. O centro urbano moderno situa-se ao lado e faz parte da cidade antiga. A importância deste sítio arqueológico reside no fato de que proporcionou evidências não apenas da Civilização do Vale do Indo em seu apogeu, mas também de culturas anteriores e posteriores, sendo o único incluído nesta categoria. O curso anterior do Rio Ravi estava situado ao norte do sítio, mas, desde então, deslocou-se 9,6 km mais ao norte.
Especula-se que sua menção mais antiga esteja no Rig Veda, como o local da derrota dos Vrcivants por Abhyavartin Cayamana. Nesta obra, aparece com o nome de Hari-Yupuya. Presumivelmente, seus habitantes iniciais eram não-arianos que acabaram conquistados. Assim, pode-se dizer que este sítio abriga um dos famosos locais onde os chamados arianos superaram a população local e estabeleceram seu domínio. Porém, até que surjam mais evidências para apoiar esta teoria, trata-se principalmente de conjecturas.
A primeira visita de um europeu a Harappa aconteceu em 1826, com James Lewis, um desertor do exército britânico que vagueava pelo Punjab e pelas regiões do noroeste em busca de ruínas antigas. Em sua jornada para Multan, ele se aproximou de Harappa e a descreveu da seguinte forma, conforme o registro feito por Nazir Ahmad Chaudhry em seu livro:
A leste da aldeia havia uma abundância de grama luxuriante, onde, em companhia de muitos outros, fui para que minha montaria pastasse. Quando entrei no acampamento, encontrei-o em frente à vila e ao castelo de tijolos em ruínas. Atrás de nós havia um grande outeiro circular, ou eminência, e a oeste estava uma elevação rochosa irregular, coroada com restos de construções, fragmentos de muros, com nichos, à moda oriental. O outeiro era sem dúvida uma formação natural; a segunda, sendo de terra somente, era obviamente artificial [...] Os muros e torres do castelo eram notavelmente altos, embora, devido ao longo período de abandono, exibiam traços da devastação do tempo e decadência. Entre nosso acampamento e o sítio, estendia-se uma trincheira profunda, agora preenchida com grama e plantas. A tradição afirma que ali existia uma cidade, tão considerável que se estendia a Chicha Watni, destruída por um desígnio particular da Providência, abatida pela luxúria e crimes dos seus soberanos.
Lewis relacionou a cidade a Sangala, da época de Alexandre, o Grande (1.300 anos antes), mas estava enganado quanto a isso. Mais tarde, em 1831, um emissário do rei William IV, chamado Alexander Barnes, registrou as extensas ruínas de Harappa enquanto viajava de Multan a Lahore para levar cavalos presenteados pelo rei da Inglaterra a Ranjit Singh [marajá e fundador do Império Sikh]. Ele também descreveu Harappa enquanto seguia a mesma rota:
Cerca de cinquenta milhas a leste de Toolumba, penetrei no interior por quatro milhas [6,4 km] para examinar as ruínas de uma cidade antiga, chamada Harappa. As ruínas são extensas e o local, construído com tijolos, tem cerca de três milhas [4,8 km] de circunferência. Há uma cidadela em ruínas do lado da cidade que margeia o rio; mas, de qualquer maneira, Harappa é um caos perfeito e não possui um prédio inteiro sequer: os tijolos foram removidos para construir um pequeno local com o velho nome tradicional e que fixa a queda de Harappa no mesmo período de Shortkot (há 1.300 anos), e o povo atribui a ruína à vingança de Deus sobre Harappa; seu governante, que alegava certos privilégios em cada casamento na cidade, e no decorrer de suas sensualidades, foi culpado de incesto [...] Encontrei moedas nas ruínas, tanto persas quanto hindus, mas não consigo estabelecer uma época para elas.
Porém, seus registros chamaram a atenção de Alexander Cunningham, que visitou o local em 1853 e 1856, realizou uma pequena escavação em 1872 e identificou o sítio como sendo Malii, alvo de bloqueio de Alexandre quando invadiu o subcontinente. Essa antiga cidade situava-se perto de extensos pântanos a leste ou sudeste de Kot Kamalia e Harappa localiza-se exatamente em tal ponto, nas margens do antigo curso do Indo e a 25,7 km a leste-sudeste de Kot Kamalia.
Ainda nesta época, ladrões de tijolos que trabalhavam para a Ferrovia Multan usavam o local como pedreira, da mesma forma que Mohenjo-daro e Kalibangan tornaram-se locais de extração para as Ferrovias Sind e Bikaner, respectivamente. Durante suas escavações, Cunningham descobriu cerâmica, lâminas de sílex córneo e um selo. Para ele, tratava-se de um selo estrangeiro para a Índia da época. Também conforme os habitantes locais, a cidadela abrigou um grande templo hindu, destruído ao mesmo tempo que a tumba de Nur Shah. Alguns artefatos foram descobertos então nesta tumba. Os tijolos retirados do sítio serviram para abastecer 160 km da Ferrovia Lahore-Multan, num testemunho da quantidade de prédios que existiam ali. A despeito de várias escavações realizadas, Cunningham descobriu muito pouco para preservar, já que a maioria do povoado havia sido despojada dos tijolos. Escavações subsequentes em Kalibangan, Suktagendor e Mohenjo-Daro revelaram a extensão desta civilização, mas somente em 1922 investigações mais profundas ocorreram em Mohenjo-daro e Harappa e os sítios correspondentes acabaram sendo identificados com a Civilização do Vale do Indo.
Em 1914, John Marshal enviou um representante, Harry Hargreaves, numa inspeção em Harappa para determinar se deveria haver novas escavações, e seu trabalho permitiu a aquisição dos outeiros harapanos para estudos mais aprofundados. A descoberta de mais selos, similares aos encontrados na Mesopotâmia, recuaram a idade destes sítios além do que havia sido previamente considerado para além do 3°/4° milênios a.C., o que também foi atestado pelo arqueólogo Ernst Mckay, que trabalhava no sítio da antiga cidade suméria de Kish. Marshal abandonou então sua escavação em Taxila, no Paquistão, para trabalhar em Harappa e Mohenjo-daro em 1923-24, e se considera que nesta época ocorreu finalmente a identificação da Civilização do Vale do Indo. Entre os arqueólogos que trabalhavam em sítios desta civilização na época estão Rai Bahadur Daya Ram Sahni, Madho Sarup Vats, Rakhal Das Banerjee, Ahmad Hasan Dani, Aurel Stein e E. J. H. MacKay. Mortimer Wheeler, em seguida, assumiu as escavações em 1944 e prosseguiu após a divisão da Índia e Paquistão, quando exerceu o cargo de conselheiro do governo paquistanês. O trabalho posterior de Dales, Meadow e Kenoyer, especificamente no Outeiro E, recuou as datas históricas novamente ao início do 4º milênio a.C.
Planejamento Urbano em Harappa
Harappa está localizada próximo ao Rio Ravi, afluente da porção superior do Rio Indo. Os padrões dos assentamentos baseavam-se no comportamento dos rios e seguiam a ecologia da planície inundável, comércio regional fluvial, clima favorável para a vida cotidiana, acesso a rotas comerciais e a recursos naturais etc. O fácil acesso ao lençol freático próximo aos rios e as terras aráveis de solo aluvial facilitavam a habitação humana. Cidades como Harappa, situadas na periferia da Civilização do Vale do Indo, serviam como postos de controle para a região principal dominada por essa civilização, motivo pelo qual pareciam mais robustas e poderosas do que as aldeias menores. Estendia-se por mais de 450.000 metros quadrados de área.
Saqueada pelos construtores de casas locais e demolida em sua maior parte durante o século XIX para a construção da ferrovia Lahore-Multan, durante o Raj Britânico [governo colonial da Índia], as ruínas de Harappa encontram-se num estado bastante frágil, mas, ainda assim, fornecem muitas informações para os arqueólogos. De maneira óbvia, vemos o mesmo projeto urbano geral de Mohenjo-daro, situada em Larkana, na província de Sind. O contorno de ambas estende-se por cerca de 4,8 km, com a mesma diferenciação de áreas em termos de planejamento urbano. Essas áreas podem ser divididas simplesmente em inferiores (públicas) e superiores (acrópole). Apresentam o mesmo formato no que diz respeito à acrópole, ou seja, um paralelogramo com 365-457 metros norte-sul e 182-274 metros leste-oeste. Elevava-se a 12 metros da planície inundável, com orientação semelhante, nas duas cidades, num eixo norte-sul. O plano de grade indica um princípio de engenharia civil evoluído que se desenvolveu na época e que não aparece em cidades mesopotâmicas mais antigas, como Ur, que traz um traçado sinuoso e mais natural em suas ruas. Embora toda a área de Harappa não tenha sido completamente escavada, as semelhanças gerais indicam que provavelmente sua planta é a mesma de Mohenjo-daro.
Os muros defensivos massivos que a cercavam foram parcialmente expostos. As seções revelam que as culturas pós-harapanas ligadas a Rana Ghundai [assentamento neolítico situado no Paquistão] estão na base da estrutura e, após um período sem ocupação, segue-se uma cultura harapana totalmente madura. Um aterro afunilado para proteção contra enchentes encontra-se ao longo do muro defensivo exterior. Para isso, empregavam-se tijolos de barro e lama para preencher os depósitos aluviais retirados pelas chuvas. Seis variantes do plano interno são vistos, com o uso de tijolos cozidos e estendendo-se por um considerável período. Existem bastiões em intervalos regulares, bem como uma entrada principal na extremidade norte. Há também uma entrada na extremidade oeste, próxima a um bastião. Ela leva a rampas e terraços do lado de fora dos muros, vigiadas a partir de salas de guarda. As rampas estão em evidência em vários locais e também se sabe da existência de escadas a partir dos relatos de Alexander Cunningham, mas elas foram removidas desde aquela época pelos ladrões de tijolos. As próprias fortificações passaram por reconstruções contínuas, mesmo na Antiguidade, inicialmente utilizando pedaços de tijolos simples que, uma vez desgastados, eram substituídos quase do zero por tijolos cozidos de estilo harapano mais refinado.
As cidades do Vale do Indo apresentam uma série de características comuns que as distinguem das civilizações da Idade do Bronze. Em termos do planejamento urbano geral, o que mais as definem é a orientação cardinal, com a grade mais longa orientada no sentido norte-sul para aproveitar os ventos predominantes. O layout e divisão em compartimentos parecem ter uma conexão visual e conceitual com os desenhos geométricos existentes em selos do Calcolítico Inicial e até mesmo com as casas de Mehergarh e, talvez, mesmo se não estiverem diretamente conectados, provavelmente há indicação de um modelo cultural para a organização do espaço que continuou a formar uma base para os estilos e padrões culturais na era harapana. Essa organização do espaço em grades é vista não apenas no planejamento urbano nessa área, mas também nas plantas das casas, desenhos em cerâmica, diagramas em selos e até no desenho de caracteres do sistema de escrita.
Este padrão existia bem antes da era harapana madura e é encontrado mesmo no 2º Período de Harappa, que data de 2800-2600 a.C., no qual existem grandes vias no sentido norte-sul, um esquema repetido nas vilas e cidades do Indo e Saraswati, como Kalibangan, Rehman-Dehri, Nausharo e Kot Diji. Devido ao elevado lençol freático de Mohenjo-daro, seus níveis mais profundos não foram escavados adequadamente, mas é razoável supor, com base nas evidências disponíveis, que os estágios anteriores eram típicos do período harapano.
Embora a divisão geral da cidade Alta e Baixa dos centros urbanos harapanos seja entendida como a norma, isso provou não ser o caso, pois grandes áreas públicas, mercados, grandes e pequenas casas particulares e oficinas de artesanato foram encontrados em todos os vários "distritos". O outeiro ocidental em Harappa situa-se apenas ligeiramente mais elevado do que os de Mohenjo-daro, que possui um outeiro ocidental ou "principal" muito mais alto.
A área da cidadela apresenta uma enorme plataforma de tijolos de barro, com seis metros de altura, subjacente a toda a área construída. Wheeler e M. S. Vats identificaram a estrutura, ainda que não se possa dizer por enquanto se se trata de uma plataforma gigante ou construída em partes.
No que se refere à orientação, as cidades orientavam-se conforme o sol e lua nascentes, certas estrelas cujos movimentos eram conhecidos (não a Estrela Polar, que não estava na mesma posição atual) ou outros métodos, que consistiam em traçar o trajeto solar no chão com uma vara e cordas. O plano ligeiramente inclinado da cidade pode indicar muitas centenas de séculos de planejamento e replanejamento, com base em técnicas de avistamento mais antigas (que resultaram numa direção distorcida do plano devido à mudança de posição das estrelas), o que levou à determinação de pontos cardeais pelos antigos habitantes em posições ligeiramente diferentes. A estrela Aldebarã e a constelação das Plêiades eram utilizadas como referências de medição para determinar os pontos cardeais.
O planejamento da cidade ocorreu através do desenvolvimento da bússola, prumo e escala, ferramentas ainda em uso atualmente.
As áreas muradas estendiam-se em torno de uma depressão central, que pode ter sido um reservatório, e cada outeiro principal estava cercado por um muro de tijolos de barro, com portões de tijolos e bastiões situados em intervalos em todos os lados, como nos fortes modernos.
O Outeiro E traz a seção mais antiga da área e apresenta um assentamento pré-harapano no subsolo. Contém um muro de perímetro de tijolos de barro revestidos com tijolos cozidos. O muro sul conta com um grande portão de entrada, no centro de uma grande curva, que se estende para a planície, aparentemente abrangendo um espaço público externo. Este muro tem 9-11 metros de largura, se for considerada a existência de bastiões. O portão é feito de tijolos cozidos com um metro de espessura, colado aos muros de tijolos de barro da cidade. A possível existência de escadas está em evidência aqui e a abertura tem apenas 2,8 metros de largura, apenas o suficiente para passar um carro de bois, o que demonstra sua natureza defensiva. Provavelmente erguia-se a uma altura entre 3-4 metros e dispunha de salas e postos de vigia no topo.
Uma grande área aberta dentro do portão era provavelmente uma área de preparação para a fiscalização ou tributação de mercadorias ou um mercado público para os comerciantes locais. Uma rua larga, a leste do portão, na direção norte, conduz ao centro da cidade, onde se descobriram evidências de oficinas de ágata, conchas e metalurgia de cobre.
A trinta metros ao sul do principal outeiro de entrada há um pequeno outeiro do período harapano, com casas, drenos, áreas de banho e um possível poço, que provavelmente servia como uma parada externa para as caravanas que chegavam. Mesmo a estrada moderna estende-se adjacente a este local, mostrando que possivelmente segue a mesma antiga rota utilizada pelos harapanos 4.500 anos atrás e uma hospedaria moderna está situada nas proximidades desta estrada, do outro lado do posto de parada harapano. Da mesma forma, o antigo poço e plataformas de banho foram utilizadas até tempos históricos.
Entre o Outeiro E e ET situa-se o segundo portão do Outeiro E. Embora este portão tenha somente 2,6 metros de largura, os bastiões de cada lado têm massivos 25 metros de largura e 15 de profundidade, mostrando a natureza bastante defensiva das construções. Este acesso controlado às principais áreas de manufatura do Outeiro E também fazia frente ao menor Outeiro ET, que, novamente, abrigava outro ponto de parada para os mercadores envolvidos com o comércio nesta região.
Os muros em torno do outeiro AB, os únicos que foram propriamente escavados, têm 14 metros de largura na base, mais largos e altos do que os existentes no Outeiro E. Com revestimento de tijolos cozidos, erguiam-se a 11 metros de altura acima da planície. Portões de três diferentes períodos aparecem no muro oeste, originalmente escavados por Mortimer Wheeler, e o portão do muro norte tem uma rampa que leva ao menor Outeiro F, repleto do que se assemelham a estruturas de casas e um grande edifício com vários cômodos, que pode ser um celeiro, grande salão ou palácio. A cidadela mede exatamente 420 metros norte-sul e 196 metros de leste a oeste. É maior em seu lado norte, com o cume a 13,7-15,2 metros acima da planície. Os prédios internos foram erguidos sobre uma plataforma de barro e tijolos de 7,6 metros ou mais acima do antigo nível do solo.
Plataformas de trabalho e detritos de oficinas também estão presentes. Este outeiro é fechado da mesma maneira do que o Outeiro ET.
Esses outeiros, ainda que pertencentes a períodos variados, faziam parte da mesma cultura geral e estão relacionados, pois as mesmas pessoas os ocupavam, o mesmo tipo de artefato é encontrado neles e conectavam-se diretamente aos demais, embora o motivo pelo qual tenham sido erguidos como montes separados e não como parte de uma cidade contínua não possa ser explicado no momento.
Embora existam algumas indicações quanto à natureza defensiva das muralhas, não há certeza quanto a isso, devido à ausência de alguns elementos comuns a outras muralhas defensivas da época, como as de Dholavira, que tinham fossos e duas a três muralhas em vez de apenas uma. Estas muralhas, portanto, provavelmente tinham mais o objetivo de controlar o comércio dentro da cidade e garantir que tudo ocorresse exatamente como os administradores desejavam. Trata-se de uma evidência adicional do controle das autoridades e de como as técnicas arquitetônicas eram utilizadas para salvaguardar os interesses da cidade.
Ruas e Drenagem Externa
A característica arquitetônica mais proeminente da era harapana é o sistema de drenagem. Ele revela a importância da limpeza para a população e alcança seu objetivo por meio de uma série de drenos que corriam ao longo das ruas e que, por sua vez, conectavam-se a grandes sistemas de esgotos nas ruas principais. Os drenos menores das latrinas domésticas e áreas de banho também se conectavam aos drenos maiores, que tinham coberturas corbeladas para que pudessem ser enterrados sob as ruas principais quando necessário, sem desmoronar. Algumas seções tinham tijolos removíveis ou pedras de revestimento na parte superior para permitir a manutenção quando necessário. Os drenos que conduziam os dejetos para fora da cidade tinham portas de madeira, provavelmente fechadas à noite para impedir que errantes ou elementos negativos entrassem na cidade por este acesso. Poços de drenagem, descobertos em intervalos ao longo dos drenos, permitiam o acúmulo de resíduos sólidos no fundo. Eram limpos regularmente para evitar bloqueios. Há evidência, em alguns locais, de bloqueio dos drenos por um longo período, possivelmente 100 ou 150 anos, após o que novas autoridades construíam novos drenos. Com estas novas obras, o nível da rua subiu a ponto de, como resultado de reconstruções consecutivas, andares inteiros de prédios tiveram de ser cobertos e o nível do solo elevado para mantê-lo no nível da nova rua sem que houvesse refluxo do esgoto.
O Outeiro AB contém um grande dreno com telhado de duas águas e recipiente para a água derramada. Outro dreno é feito de uma massa sólida de tijolos, com um gradiente acentuado e borda de tijolos polidos.
Casas
Existem vários tipos de casas e prédios nos assentamentos de grande e pequeno portes. As áreas rurais tendem a apresentar exclusivamente edifícios de tijolos de barro, enquanto nas urbanas as construções são feitas parcial ou inteiramente de tijolos cozidos. Casas pequenas e grandes e prédios públicos são as principais categorias.
As casas de um ou dois andares incluem um pátio central em torno do qual se distribuem os aposentos. O interior não é visível da rua, encoberto com o uso de corredores ou muros no interior. As aberturas ficam restritas às ruas laterais para manter a privacidade dentro das residências. As escadas levavam aos andares superiores por meio de uma sala lateral ou pátio e o tamanho das fundações mostra que pode ter havido também um terceiro andar em algum momento. A espessura média das paredes era de 70 centímetros e a altura média do teto chegava a cerca de três metros. As portas de madeira tinham marcos de madeira e, como pivô, havia um encaixe de tijolo colocado na soleira. As molduras das portas eram possivelmente pintadas e ornamentadas de forma simples, e também havia furos na base e dois na parte superior, para prender e pendurar cortinas, respectivamente. As janelas dispunham de persianas e grades, embutidas na própria construção. Estas grades podem ter sido feitas com junco ou esteiras, mas encontraram-se também treliças de alabastro e mármore, sugerindo que, embora fosse uma característica comum das casas, as mais refinadas destinavam-se às residências dos mais abastados. Este elemento continuou a ser utilizado até os tempos modernos.
As casas maiores contavam com domicílios menores conectados a elas e as evidências de repetidas reconstruções no interior mostram que os espaços internos sofriam constantes reorganizações. Não há como assegurar no momento se estes domicílios adjacentes destinavam-se à família estendida ou aos servos.
Na terceira categoria principal estão os grandes prédios públicos, incluindo espaços públicos como mercados, praças e pátios, além de edifícios administrativos, como celeiros. O grande salão ou estruturas de banho fazem parte destes serviços, possivelmente também com funções religiosas.
Existem grupos ou aglomerados de casas, provavelmente abrigando várias famílias, que usavam suas próprias instalações particulares, como latrinas e áreas de banho, em vez das comunitárias.
Embora bem planejadas, não trazem tanto impacto quanto as casas de outras cidades, devido às enchentes e ao furto de tijolos, que deixaram as construções num estado lamentável. O Outeiro F conta com duas casas quase completas, com pátios e aposentos, com uma entrada inclinada para proporcionar mais privacidade, além de uma latrina e uma pista divisória central. Descobriram-se quinze unidades de alojamentos de operários e este complexo estava cercado por um muro.
Poços e Saneamento
A água potável, ou água em geral, estava disponível em abundância para os habitantes de Harappa devido à proximidade com o rio pré-Indo Gaggar/Hakra, graças ao qual menos poços eram necessários para servir à população, que podia conseguir água do próprio rio. Também em Harappa há uma depressão central que pode ter sido uma piscina pública para abastecimento e lavagem, permitindo o acesso mais amplo a este recurso. Em consequência, existem menos poços na cidade, totalizando talvez em torno de apenas 30 poços, em comparação com os 700 ou mais encontrados em Mohenjo-daro. Somente oito foram descobertos e a projeção do total baseia-se pela sua disposição no plano urbano. Existem mais poços privados do que públicos, o que indica que os poços públicos ficavam provavelmente poluídos ou se esgotavam devido ao uso excessivo, fazendo com que os mais ricos providenciassem os seus. Os aposentos de banho destas casas estavam situados próximos ao poço, por sua vez elevado acima do nível do solo. Os locais de banho dispunham de pisos de tijolos bem ajustados, tornando-os mais ou menos impermeáveis. Os drenos destes aposentos seguiam em separado dos drenos principais externos das latrinas, demonstrando o cuidado para separar a água servida e o esgoto. Estes drenos afunilavam-se em direção à rua. Quase todas as casas de Harappa continham latrinas, composta por uma grande jarra de terracota enterrada no chão e, algumas vezes, conectada aos drenos externos. Um pequeno orifício no fundo do recipiente permitia que a água escorresse para o solo. É provável que uma classe especial de trabalhadores limpasse periodicamente estes aposentos.
Prédios Públicos
O que se supõe ser um celeiro está localizado no Outeiro F, situado sobre uma fundação maciça de tijolos de barro, com uma planta retangular de 50m x 40m e o cumprimento seguindo o eixo Norte-Sul. As fundações indicam um total de 12 salas em duas fileiras (seis salas por fileira), divididas por uma passagem central com 7 metros de largura e parcialmente pavimentada com tijolos cozidos. Cada sala mede aproximadamente 15 x 6 metros, com três paredes nas extremidades e ventilação proporcionada por pisos ocos. A estrutura principal era provavelmente feita de madeira, erguida em cima destas fundações e com escadas levando à passagem central. Existem também aberturas triangulares no piso que podem ter sido dutos de ar para remover a umidade do interior. A evidência de que este prédio servia como celeiro não foi descoberta durante as escavações e baseia-se principalmente nas comparações com as técnicas de construção romanas, não coincidindo com as tradições locais. O grão costumava ser armazenado em grandes jarros acima do solo no sul da Ásia e não em salas, como proposto aqui, e as plataformas circulares próximas dos edifícios, que se acredita armazenarem a casca do trigo, são encontrados em muitos outros locais, num espaço considerável de tempo, indicando que provavelmente não tinham função agrícola. Portanto, pode-se dizer que este “celeiro” era provavelmente um prédio público ou estatal para governantes ou administradores ou para outros fins relacionados ao cotidiano. Devido à ausência de uma única estrutura monumental nas cidades, podemos dizer que elas próprias constituam monumentos em meio ao ambiente rural.
Materiais de Construção
Os principais materiais empregados eram tijolos secos ao sol ou cozidos, confeccionados em moldes com proporções de 1:2:4. A pronta disponibilidade de madeira para alimentar os fornos contribuía para o uso abundante de tijolos cozidos em Harappa e Mohenjo-daro. Também há evidências de uso de argamassa de barro e cimento de gesso, além de reboco de barro e gesso. A argamassa de barro é mais evidente em Harappa. As portas e janelas provavelmente continham molduras de madeira, que apodreceram com o tempo.
Conclusão
Embora relativamente poucos dados tenham sido descobertos em Harappa, se compararmos com outros sítios arqueológicos do Vale do Indo, mesmo assim a cidade permanece com a distinção de abrigar o primeiro assentamento da Civilização do Vale do Indo e, portanto, um dos principais locais no que se refere a escavações. As informações que continuam sendo descobertas ali contribuem para montar sua história pouco a pouco, mesmo com a ausência de estruturas completas, como as de outras cidades, mas isso faz o trabalho em Harappa muito mais intrigante, já que o arqueólogo deve conectar as peças como um quebra-cabeça para criar um retrato completo. Sem dúvida há muito trabalho a ser feito para preservar a herança deste importante sítio arqueológico, em vista da destruição progressiva e do desgaste ocorrido com o tempo.