
No mundo grego antigo, a guerra era vista como um mal necessário da condição humana. Sejam pequenas batalha de pequenas proporções de fronteira entre cidades-estados vizinhas, cercos a grandes cidades, guerras civis ou batalhas em larga escala em formações de multi-aliança em terra e mar, as grandes recompensas de guerra podiam superar os custos de material e vidas perdidas. Embora houvesse longos períodos de paz e muitos exemplos de alianças amigáveis, as fortes motivações para expansão territorial, saques de guerra, vingança, honra, e a defesa da liberdade, garantiram que, durante os períodos Arcaicos e Clássicos, os gregos estivessem regularmente envolvidos na guerra tanto perto quanto longe de suas casas.
Rivalidades entre Cidades-Estado
Evoluindo de bandos armados liderados por um líder de guerra específico, milícias das cidades e soldados de meio-período, providenciando seus próprios equipamentos e talvez incluindo todos os cidadãos da cidade-estado ou pólis, começaram a levar a guerra para longe do controle privado e para dentro dos domínios do estado. Assembleias ou grupos de cidadãos de elite sancionavam a guerra, e generais (strategoi) passaram a ser responsabilizados por suas ações, e eram frequentemente eleitos para cargos fixos ou operações militares específicas.
Nos estágios iniciais da Guerra Grega no período arcaico, o treinamento era improvisado assim como as próprias armas muitas vezes, embora os soldados fossem geralmente pagos, ainda que apenas o suficiente para cobrir suas necessidades diárias. Não havia uniformes ou insígnias, e assim que o trabalho terminava, os soldados retornariam para suas fazendas. Por volta do século V a.C. as proezas militares de Esparta forneceram um modelo para todos os outros estados seguirem. Com seu exército profissional e bem treinado em tempo integral, vestindo capas vermelhas e carregando escudos com a letra Lambda (para os Lacedemônios), os Espartanos mostraram o que o profissionalismo na guerra poderia alcançar.
Muitos estados como Atenas, Argos, Tebas e Siracusa começaram a manter pequenas forças profissionais (logades ou epilektoi), que poderiam ser expandidas pelo corpo principal de cidadãos se necessário. Os exércitos se tornaram mais cosmopolitanos com a inclusão de residentes estrangeiros, escravos, mercenários e aliados vizinhos (voluntários ou pressionados, como no caso dos perioikoi de Esparta). A guerra se afastou de batalhas pontuais terminadas em horas para conflitos longos, que poderiam durar anos, com os mais importantes começando com as Guerras Persas (primeira metade do século V a.C.), as Guerras do Peloponeso (459-446 e 431-404 a.C.), e a Guerra de Corinto (394-386 a.C.).
A Falange Hoplita
A principal figura de qualquer exército Grego era o hoplita. Seu armamento completo consistia em uma lança longa, uma espada curta e um escudo circular de bronze, e ele era ainda protegido, caso pudesse pagar, por um capacete de bronze (com acolchoamento interno para conforto), uma couraça de bronze, caneleiras para as pernas e, por fim, protetores para os tornozelos. As batalhas eram corpo-a-corpo, sangrentas e letais. Esse tipo de guerra era a oportunidade perfeita para o guerreiro Grego demonstrar sua masculinidade (andreia) e excelência (aretē), com os generais liderando na frente de batalha e pelo exemplo.
Para promover uma maior mobilidade na batalha, o hoplita começou a usar uma armadura mais leve, como couro ou couraça de linho laminado (spolades) e capacete aberto (pilos). O guerreiro peltasta, armado com dardos curtos e mais levemente armado do que o hoplita, tornou-se uma ameaça com grande mobilidade, e perigosa para os hoplitas mais lentos. Outras tropas com armadura leve (psiloi) também vieram a desafiar a dominância hoplita no campo de batalha. Lançadores de dardo (akonistai), arqueiros (toxotoi) e fundeiros (sphendonētai) usando pedras e projéteis de chumbo podiam atrasar o inimigo com ataques rápidos e recuar. A Cavalaria (hippeis) também foram dispensadas devido aos custos e difícil uso no terreno irregular da Grécia, sendo usados somente em números limitados, como por exemplo, Atenas, que possuía a maior força de cavalaria durante as Guerras do Peloponeso, com 1.000 soldados montados. A cavalaria decisiva e devastadora teria de esperar até o seu uso pelos Macedônios liderados por Filipe e Alexandre no meio do século IV a.C.
Exércitos também se tornaram mais estruturados, divididos em unidades separadas com hierarquias de comando. O lochoi era a unidade básica da falange -uma linha de soldados bem armados e protegidos com geralmente de 8 a 12 homens que atacavam como um grupo unido. Em Atenas, o lochos era liderado por um capitão (lochagos), sendo combinados para formar um de dez regimentos (taxeis) cada um liderado por um taxiarchos. Uma organização semelhante era aplicada aos exércitos de Corinto, Argos e Megara. No século V a.C. Esparta, o elemento básico era a enomotiai (pelotão) de 32 homens. Quatro desses formavam um pentekostys (companhia) de 128 homens. Quatro desses formavam um lochos (regimento) de 512 homens. Um exército Espartano consistia de cinco lochoi com unidades militares de não-cidadãos - perioikoi. As unidades também poderiam ser separadas por idade ou especialidade em armas, e conforme a guerra se tornava mais estratégica. essas unidades passaram a operar de forma mais independente, respondendo a chamados de trombeta ou outros sinais durante a batalha.
Guerra no Mar: a Trirreme
Alguns estados como Atenas, Aegina, Corinto e Rhodes acumularam frotas de guerra, sendo o trireme o mais comum, o que permitia esses estados formarem alianças lucrativas e colocarem tropas em território estrangeiro para estabelecerem e protegerem suas colônias. Eles podiam inclusive bloquear portos inimigos e lançar ataques anfíbios. A maior frota estava em Atenas, que podia abrigar até 200 trirremes em seu auge, o que permitiu a cidade construir e manter um império no Mediterrâneo.
A trirreme era um navio de madeira leve, altamente manobrável e equipado com um aríete de bronze na proa, capaz de incapacitar as embarcações inimigas. Com 35 metros de comprimento e 5 metros largura, cerca de 170 remadores (thetes - provenientes das classes mais pobres) distribuídos em três níveis, podiam impulsionar o navio a uma velocidade de até 16,7 km/h. A bordo também estavam pequenos contingentes de hoplitas e arqueiros, mas a tática principal na guerra naval era colidir, não abordar. Comandantes habilidosos organizavam suas frotas em uma linha frontal extensa, dificultando que o inimigo passasse por trás (periplous) e garantindo que os navios estivessem suficientemente próximos uns dos outros para impedir que o inimigo atravessasse por uma brecha (diekplous). Talvez a batalha naval mais famosa tenha sido a de Salamina em 480 a.C. quando os atenienses saíram vitoriosos contra a frota invasora de Xerxes.
Contudo, a trirreme tinha desvantagens, ao não possuir dormitórios, obrigando os navios a serem retirados todas as noites, o que também ajudava a madeira a não ficar encharcada. Elas eram também incrivelmente caras para se produzir e manter; de fato, a trirreme era um indicativo de que agora a guerra havia se tornado uma despesa estatal cara, mesmo caso cidadãos ricos fossem obrigados a custear a maior parte dos gastos.
Estratégias de Batalha
A primeira estratégia era empregada antes mesmo de qualquer luta acontecer. A religião e os rituais eram partes importantes da vida Grega, e antes de se embarcar em uma campanha, a vontade dos deuses deveria ser determinada. Isso era feito através da consulta de oráculos, como o de Apolo em Delfos, e através de sacrifícios de animais (sphagia), onde um adivinho profissional (manteis) lia a sorte (ta hiera), especialmente do fígado da vítima, e cujos sinais desfavoráveis certamente adiariam a batalha. Alguns estados como Esparta também podiam ser proibidos de entrar em conflitos durante certas ocasiões como festivais religiosos, e todos os estados se abstinham durante os grandes jogos Pan-helênicos (especialmente aqueles em Olímpia).
Uma vez que todos esses rituais estivessem fora do caminho, a batalha poderia começar, mas mesmo assim era algo comum aguardar pacientemente até o inimigo se posicionar em uma planície adequada por perto. Músicas eram cantadas (o paian- um hino a Apolo) e ambos os lados avançariam para se enfrentar. Contudo, essa aproximação com distinção e elegância com o passar do tempo foi mudada para inícios de batalha mais súbitos onde a surpresa e a estratégia eram prioridade. Além disso, os conflitos também se tornaram mais diversos durante o período Clássico com cercos e emboscadas, com a luta urbana se tornando mais comum, como por exemplo, em Solígea, em 425 a.C., quando hoplitas atenienses e coríntios lutaram casa a casa.
Estratégias e enganações, os 'roubos de guerra' (klemmata), como os gregos chamavam, foram empregados pelos comandantes mais hábeis e desafiadores. A estratégia mais bem-sucedida dos campos de batalha antigos foi usada pelos hoplitas em uma formação apertada chamada de falange. Cada homem protegia a si e parcialmente seu vizinho com seu escudo circular, carregado no braço esquerdo. Se movendo em uníssono, a falange podia empurrar e atacar o inimigo enquanto minimizava a exposição de cada homem. Geralmente, de oito a doze homens de profundidade e proporcionando o maior fronte possível para minimizar o risco de ser flanqueada, a falange se tornou um recurso regular de exércitos mais bem treinados, em particular os Espartanos. Termópilas, em 480 a.C., e Plateia, em 479 a.C., foram batalhas nas quais a falange hoplita demonstrou ser devastadoramente eficaz.
Durante a Batalha de Leuctra em 371 a.C., o general tebano Epaminondas reforçou fortemente o flanco esquerdo de sua falange, com cerca de 50 homens, o que lhe permitiu esmagar o flanco direito da falange espartana adversária — uma tática que ele usaria novamente com grande sucesso em Mantineia, em 362 a.C. Epaminondas também misturou tropas de armadura leve com a cavalaria, para agirem nos flancos de suas falanges e pressionarem o inimigo. Os hoplitas responderam a esses avanços desenvolvendo táticas com novas formações, como o quadrado defensivo (plaision), usado com grande efetividade (e não apenas na defesa) pelo general espartano Brásidas, em 423 a.C. contra os Lincéstios e novamente pelos atenienses na Sicília, em 413 a.C. Contudo, a era de hoplitas fortemente trajados em armaduras e dispostos em duas fileiras organizadas, lutando corpo a corpo em batalhas fixas, havia chegado ao fim. A guerra com mais mobilidade e múltiplas armas se tornou a norma. A cavalaria, juntamente com soldados que podiam arremessar projéteis podiam não vencer imediatamente, mas influenciavam drasticamente no resultado de uma batalha, e sem eles, os hoplitas podiam ficar irremediavelmente expostos.
Guerras de Cerco
Desde estágios iniciais, a maioria das cidades-estado tinham uma acrópole fortificada (com Esparta e Elis sendo exceções notáveis) para proteger as construções cívicas e religiosas mais importantes e prover um refúgio durante os ataques. Contudo, conforme a guerra se tornava mais móvel e ia além das batalhas hoplitas tradicionais, as cidades buscaram proteger seus arredores com muros de fortificação. Torres de vigia independentes nos arredores e até fortes e muros nas fronteiras e espalharam em resposta ao risco crescente de ataques. Muitas poleis também construíram fortificações para criar um corredor de proteção entre a cidade e seu porto, sendo o mais famoso As Muralhas Longas, que se estendiam pelos 7 km entre Atenas e o Pireu.
Cercos eram estratégias de longo prazo, cuja principal função era a de forçar o inimigo a se entregar através da escassez. Estratégias ofensivas com o uso de aríetes e rampas mostraram-se em grande parte malsucedidas. Contudo, as inovações técnicas do século IV a.C. deram mais vantagens aos atacantes. Torres de cerco móveis, primeiramente usadas pelos cartaginenses e copiadas por Dionísio I da Siracusa contra a Mócia em 397 a.C. artilharia lançadora de dardos (gastraphetes), dispositivos para lançamento de pedras (lithoboloi) e até lança-chamas (em Délion, em 424 a.C.) iniciaram uma tendência para que os comandantes adotassem posturas mais agressivas na guerra de cerco. Contudo, foi apenas com a chegada da artilharia de torção em 340 a.C., que podia arremessar 15 kg de pedras até 300 metros, que os muros das cidades passaram a ser quebrados. Naturalmente, os defensores responderam a essas armas com muros mais grossos e fortes e de superfícies convexas para desviar melhor os projéteis.
Logística: Bagagem e Suprimentos
A duração curta dos conflitos no mundo grego se dava muitas vezes em razão da péssima logística de suprimentos e manutenção dos exércitos no campo. Muitas vezes os soldados deviam prover sua própria ração (com peixe seco e mingau de cevada sendo os mais comuns) e cujo padrão para Atenas era de três dias de duração. A maioria dos hoplitas era acompanhada por escravos, que agiam como carregadores da bagagem (skeuophoroi), levando rações em cestos (gylion) juntamente a uma cama e um pote para cozinhar. Escravos também agiam atendendo os feridos, pois apenas o exército espartano possuía um oficial médico dedicado a isso (iatroi). As batalhas eram geralmente no verão, portanto as tendas raramente eram necessárias e a comida podia ser pilhada caso a luta fosse feita em território inimigo. Durante o final do Período Clássico, exércitos podiam ser abastecidos por navios, e equipamentos maiores podiam ser transportados com o uso de vagões e mulas, que eram responsabilidade de homens muito velhos para lutar.
Espólios da Vitória
Espólios de guerra, embora não fossem a razão principal dos conflitos, eram com certeza um benefício muito necessário para a vitória, já que possibilitavam o pagamento das tropas e justificavam os gastos das campanhas militares. Os espólios podiam vir na forma de território, dinheiro, materiais preciosos, armas e armaduras. Os derrotados, caso não fossem executados, poderiam ser vendidos no comércio de escravos, sendo o destino mais comum das mulheres e crianças do lado perdedor. Era normal que 10% dos espólios (uma dekaten) era dedicada em agradecimento aos deuses em um dos grandes santuários religiosos, como Delfos ou Olímpia. Esses locais acumulavam grandes quantidades de tesouros, e se convertiam em verdadeiros museus de armas e armaduras. Eles também se tornaram um alvo tentador para líderes mais inescrupulosos em momentos posteriores, mas ainda assim, a maioria do material militar restante provém de escavações arqueológicas desses locais.
Rituais importantes eram realizados após a vitória, incluindo o recolhimento dos mortos e a instalação de um troféu de vitória (tropaion, que significa 'ponto de virada no conflito') exatamente no local do campo de batalha onde a vitória se tornou certa. O troféu podia ser na forma de armas e armaduras conquistadas ou uma imagem de Zeus; Por vezes, também se construíam memoriais em homenagem aos guerreiros que caíram em combate. Discursos, festivais, sacrifícios e até mesmo jogos podiam ser realizados após a vitória na batalha.
Conclusão
A guerra grega, portanto, evoluiu de pequenos conflitos de comunidades locais lutando por territórios locais para grandes batalhas entre coalizões aliadas. A guerra se tornou mais profissional, mais inovadora e mais mortal, atingindo seu ápice com os líderes macedônios Filipe II e Alexandre, o Grande. Aprendendo através das estratégias gregas mais antigas, eles adotaram armas melhores, como a longa lança sarissa, empregaram melhor artilharia, organizaram com sucesso unidades de tropas diversas com armamentos distintos, exploraram amplamente o uso da cavalaria e sustentaram tudo isso com uma logística muito superior — dominando os campos de batalha não apenas na Grécia, mas em vastas regiões da Ásia, estabelecendo o padrão de guerra que perduraria ao longo do período helenístico e até os tempos romanos.