Guerras Persas

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Mateus José Aleixo Miranda
publicado em 06 Abril 2016
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Disponível noutras línguas: Inglês, africâner, francês, sérvio, espanhol
Greek Warships (by The Creative Assembly, Copyright)
Navios de Guerra Gregos
The Creative Assembly (Copyright)

As Guerras Persas referem-se ao conflito entre a Grécia e a Pérsia no século V a.C., que envolveu duas invasões por parte dos aquemênidas, em 490 e 480 a.C. Várias das mais famosas e significativas batalhas da história foram travadas durante esse período, nomeadamente em Maratona, Termópilas, Salamina e Plateias, que se tornaram lendárias. Os gregos acabaram por sair vitoriosos e a sua civilização foi preservada. Se tivessem sido derrotados, o mundo ocidental poderia não ter herdado as contribuições culturais tão duradouras como a democracia, a arquitetura e a escultura clássicas, o teatro e os Jogos Olímpicos.

Origens das guerras

A Pérsia, sob o domínio de Dario (r. 522-486 a.C.), expandia-se para o continente europeu e, no início do século V a.C., subjugara a Jônia, a Trácia e a Macedônia. A seguir, na mira do rei Dario, estavam Atenas e o resto da Grécia. A razão pela qual a Grécia era cobiçada pela Pérsia não é clara. A riqueza e os recursos parecem ser um motivo improvável; outras sugestões mais plausíveis incluem a necessidade de aumentar o prestígio do rei no seu país ou de acabar de uma vez por todas com um conjunto de Estados rebeldes potencialmente incômodos na fronteira ocidental do império. A Revolta Jônica; a oferta de terra e água em submissão ao sátrapa persa em 508 a.C. e o ataque de Atenas e Erétria à cidade de Sardes em 499 a.C. também não foram esquecidos.

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Independentemente dos motivos exatos, em 491 a.C., Dario insistiu em enviar emissários para apelar a submissão dos gregos ao domínio persa. Os gregos responderam sem rodeios executando os embaixadores, e Atenas e Esparta prometeram formar uma aliança para a defesa do mundo grego. A resposta de Dario a essa afronta diplomática foi o lançamento de uma expedição naval de 600 navios e 25.000 homens para atacar as Cíclades e a Eubeia, deixando os persas a um passo do resto da Grécia.

Greco-Persian Wars
Guerras Greco-Persas
Kelly Macquire (CC BY-NC-SA)

Maratona

Dario não liderou pessoalmente a invasão da Grécia continental, mas colocou o general Dátis à frente do seu exército cosmopolita. O segundo comandante era Artafernes, sobrinho de Dario, que talvez tenha liderado a cavalaria persa de 2.000 homens. A força total do exército persa estimava-se em 90.000 homens. Os gregos foram liderados por Milcíades ou Calímaco, e comandavam uma força total entre 10.000 e 20.000 guerreiros, provavelmente mais próximo dessa quantidade inferior. A tática de ataque a longa distância dos arqueiros persas consistia em enfrentar a infantaria pesada dos hoplitas gregos, que portavam grandes escudos redondos, lanças e espadas organizados numa linha sólida - ou falange - em que o escudo de cada homem protegia a si mesmo e aquele à sua esquerda numa compacta muralha de bronze.

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COM AS SUAS LANÇAS MAIS LONGAS, ESPADAS MAIS PESADAS, MELHOR ARMADURA E A DISCIPLINA RÍGIDA DA FORMAÇÃO EM FALANGE, OS HOPLITAS GREGOS OBTIVERAM UMA GRANDE VITÓRIA CONTRA TODAS AS chances.

Quando os dois exércitos se defrontaram na planície de Maratona em setembro de 490 a.C., a tática persa de disparar rapidamente saraivadas de flechas deve ter sido uma visão espantosa, mas a leveza das setas significava que eram em grande parte ineficazes contra os hoplitas com armadura de bronze. À curta distância, os gregos reduziram o seu centro e alargaram os seus flancos para envolver as linhas inimigas. Essa manobra, juntamente com as suas lanças mais longas, espadas mais pesadas, melhor armadura e a disciplina rígida da formação em falange, permitiu aos hoplitas gregos obter retumbante vitória em vasta inferioridade numérica. Segundo a tradição, 6.400 persas morreram para apenas 192 gregos. Foram erguidas estátuas e dedicatórias à vitória e, para os helenos, a Batalha de Maratona tornou-se rapidamente lendária. A frota persa fugiu de volta para a Ásia, mas voltaria e, da próxima vez, em número ainda maior.

Termópilas

No intervalo de uma década, o rei Xerxes deu continuidade à visão do seu antecessor Dario e, em 480 a.C., reuniu uma enorme força de invasão para atacar novamente a Grécia, desta vez por meio da passagem de Termópilas, na costa oriental. Em agosto de 480 a.C., um pequeno contigente de gregos, liderado pelo rei espartano Leônidas, manteria a defesa da passagem durante três dias até serem totalmente aniquilados. Concomitantemente, a frota helena conseguiu resistir aos persas na indecisa batalha naval de Artemísio. No grande contexto das Guerras Médicas, essas batalhas permitiram à Grécia ganhar tempo e se preparar para os grandes desafios que se avizinhavam.

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Spartan Warriors
Guerreiros Espartanos
The Creative Assembly (Copyright)

Salamina

A derrota em Termópilas, apesar de heroica, permitiu aos persas fazer incursões na Grécia. Consequentemente muitas cidades-estado se entregaram ao Império Aquemênida, e a própria Atenas foi saqueada. Em resposta, um exército grego liderado pelo irmão de Leônidas, Cleômbroto, começou a construir uma muralha defensiva perto de Corinto, mas o inverno interrompeu a campanha terrestre. A próxima batalha vital seria no mar.

Em setembro de 480 a.C., em Salamina, no Golfo Sarônico, os gregos voltaram a enfrentar uma força inimiga numericamente superior. Os números exatos são muito contestados, porém uma estimativa de 500 navios persas contra uma frota grega de 300 parece ser a mais plausível. Os hoplitas venceram em Maratona, agora era a vez da trirreme, o veloz e manobrável navio de guerra grego movido por três ordens de remos e armado com um aríete de bronze. Os persas também tinham trirremes, mas os helenos tinham um ás na manga: o grande general ateniense Temístocles. Este, com 20 anos de experiência e a confiança adquirida com a sua liderança em Artemísio, adotou um plano ousado para atrair a frota persa para o estreito de Salamina e atingir a frota inimiga de tal forma que ela não tivesse como recuar.

Greek Trireme [Artist's Impression]
Trirreme grego (Representação do Artista)
The Creative Assembly (Copyright)

Temístocles obteve uma vitória gloriosa e os navios persas restantes retiraram-se para a Ásia Menor. O enigmático oráculo de Apolo em Delfos revelou-se correto: "somente uma muralha de madeira manter-te-á a salvo"; e as trirremes de madeira dos gregos cumpriram sua missão. Porém, isso não era o fim. Haveria mais uma batalha (a maior de todas até então travada em território grego) que decidiria pelos séculos vindouros o destino da nação.

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Plateias

Depois de Salamina, Xerxes regressou ao seu palácio em Susa, mas deixou o talentoso general Mardônio encarregado da invasão, que continuava a transcorrer. Apesar da derrota naval, a posição persa manteve-se forte, pois ainda mantinha intacto seu potente exército terrestre e controlava grande parte da Hélade. Após uma série de negociações políticas, tornou-se claro que os aquemênidas não conseguiriam obter a vitória campal por intermédio da diplomacia; e assim os dois exércitos antagônicos encontraram-se em Plateias, na Beócia, em agosto de 479 a.C.

Os gregos dispunham do maior exército hoplita jamais visto, proveniente de cerca de 30 cidades-estados e com cerca de 110.000 guerreiros. Os persas possuíam um número semelhante de tropas, talvez um pouco mais, mas, mais uma vez, os estudiosos não concordam com números exatos. Apesar de a cavalaria e os arqueiros terem desempenhado o seu papel, foi, novamente, a superioridade dos hoplitas e das falanges que fez com que os gregos ganhassem a batalha. Assim, finalmente, as ambições de Xerxes na Grécia foram definitivamente frustradas.

Consequências

Para além da vitória em Plateias, na Batalha de Mícale na Jônia, a frota grega comandada por Leotíquides desembarcou um exército que arrasou a guarnição persa e matou o comandante Tigranes. Os Estados jônicos voltaram a fazer parte da Aliança Helênica, e foi criada a Liga de Delos para evitar futuros ataques persas. Além disso, Chersonissos, que controlava o Mar Negro, e Bizâncio, que controlava o Bósforo, foram ambos reconquistados. A Pérsia continuaria a ser uma ameaça com escaramuças e batalhas ocasionais em todo o Egeu durante os próximos 30 anos, mas a Grécia continental tinha sobrevivido ao seu maior perigo. Por fim, cerca de 449 a.C. foi assinada uma paz, por vezes designada Paz de Cálias, entre as duas civilizações.

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Dying Persian
Persa morto
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Enquanto os gregos ficaram eufóricos com a vitória, o Império Persa não sofreu um golpe mortal pela derrota. Na verdade, o saque de Atenas por Xerxes foi provavelmente o suficiente para que ele se apresentasse como um herói, mas, tal como noutras guerras, não existem registos escritos dos persas, portanto a sua visão do conflito só pode ser especulada. Seja como for, o Império Aquemênida continuou a prosperar por mais 100 anos. Para a Grécia, entretanto, a vitória garantiu não só a sua libertação do domínio estrangeiro como também permitiu, pouco tempo depois, um período espantosamente rico de atividade artística e cultural que viria a lançar as bases culturais de todas as futuras civilizações ocidentais.

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Perguntas e respostas

O que causou as Guerras Persas?

O governante persa Dario começou as Guerras Greco-Persas para subjugar as cidades-estados gregas rebeldes na parte ocidental de seu império. Riqueza, novo território e prestígio pessoal provavelmente foram causas contribuintes. O sucessor de Dario, Xerxes, continuou com as mesmas políticas agressivas.

Quais foram as funções de Atenas e Esparta nas Guerras Persas?

Atenas e Esparta eram aliadas, juntamente com muitas outras cidades-estado gregas, que lutaram contra a invasão persa da Grécia. Atenas se destacou na Batalha de Maratona, enquanto Esparta se destacou na Batalha de Termópilas. Ambos os exércitos lutaram em Plateias para obter a vitória.

Quem venceu na Batalha de Maratona?

Os aliados gregos venceram a Batalha de Maratona contra os persas em 490 a.C.

Quem venceu a Batalha das Termópilas?

Os persas venceram a Batalha das Termópilas contra resistência ferrenha de apenas 300 espartanos e seus aliados em 480 a.C.

Quem venceu as Guerras Persas?

A aliança das cidades-estados gregas, que incluía Atenas e Esparta, venceu as Guerras Persas contra a Pérsia de 490 a 480 a.C.

Sobre o tradutor

Mateus José Aleixo Miranda
Graduando de Jornalismo pelo Centro Universitário UNINASSAU. Entusiasta de História e tradutor contribuinte em conteúdos culturais de YouTube e Wikipedia.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é autor, pesquisador, historiador e editor em tempo integral. Seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações compartilham. Ele possui mestrado em Filosofia Política e é diretor editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2016, Abril 06). Guerras Persas [Persian Wars]. (M. J. A. Miranda, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-1003/guerras-persas/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Guerras Persas." Traduzido por Mateus José Aleixo Miranda. World History Encyclopedia. Última modificação Abril 06, 2016. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-1003/guerras-persas/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Guerras Persas." Traduzido por Mateus José Aleixo Miranda. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 06 Abr 2016. Web. 27 Abr 2024.