Guerras Púnicas

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Pedro Lucas
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Hannibal Riding a War Elephant (by jaci XIII, CC BY-NC-SA)
Aníbal Montado em um Elefante de Guerra
jaci XIII (CC BY-NC-SA)

As Guerras Púnicas foram uma série de conflitos travados entre Cartago e Roma entre 264 a.C. e 146 a.C.. O nome Púnicas tem origem a partir da palavra Phoenician (fenício) (em grego, Phoinix; em latim, Poenus, derivado de Punicus), usada para se referir aos cidadãos de Cartago, de etnia fenícia.

Como a história referente ao conflito foi escrita por autores romanos, eles apelidaram o mesmo como "As Guerras Púnicas", referindo-se a:

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  • Primeira Guerra Púnica (264-241 a.C.)
  • Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.)
  • Terceira Guerra Púnica (149-146 a.C.)

Roma venceu todos os três conflitos, permitindo assim com que os romanos dominassem a região do Mediterrâneo, que era anteriormente controlada por Cartago. Antes do conflito, Cartago havia saído de uma pequena cidade portuária para uma das mais ricas e poderosas da região mediterrânea antes de 260 a.C. Ela possuía uma marinha poderosa, um exército de mercenários, e, através de tributações, tarifas e negócios, recursos suficientes para agir conforme o seu interesse.

Através de um tratado com a pequena cidade de Roma, ela barrou o comércio romano no mediterrâneo ocidental e, já que Roma não possuía marinha, foi capaz de reforçar o tratado com facilidade. Os comerciantes romanos capturados em águas cartaginenses eram afogados no mar, e tinham seus navios confiscados. Esses papéis seriam invertidos após o fim da Primeira Guerra Púnica, com os cartaginenses perdendo mais poder, riqueza e prestígio nos conflitos posteriores. Durante a Terceira Guerra Púnica acabou, Cartago já não era mais um nação com poder político ou militar digno de menções.

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Primeira Guerra Púnica

Conforme Roma permanecia a pequena cidade de comércio no Rio Tibre, Cartago reinava suprema; mas a ilha da Sicília seria o ponto de partida para que o ressentimento dos romanos pelos cartaginenses aumentasse. A Sicília estava parcialmente sob o controle cartaginense e parcialmente sob o controle romano. Quando Hierão II (r. 270–215 a.C.), do vizinho Siracusa, entrou em conflito com os mamertinos de Messina, estes pediram ajuda primeiro a Cartago e depois a Roma. Os cartaginenses já haviam concordado em ajudar, e se sentiram traídos com a apelação dos mamertinos a Roma. Eles trocaram de lado, mandando reforços para Hierão II. Os romanos lutaram pelos mamertinos de Messina e, em 264 a.C., Roma e Cartago declaram guerra pelo controle da Sicília.

Amílcar Barca atacou de surpresa ao longo da costa italiana, destruindo postos avançados romanos e cortando suas linhas de suprimento.

Embora Roma não possuísse uma marinha e não tivesse experiência em batalhas marítimas, eles rapidamente construíram e equiparam trezentos e trinta navios. Por estarem mais acostumados com batalhas em terra, eles desenvolveram o engenhoso dispositivo chamado corvus - uma passarela móvel que podia ser presa ao navio inimigo e fixada com ganchos. Ao imobilizarem o outro navio, e o atracarem ao seu próprio, os romanos poderiam manipular um conflito no mar com estratégias de batalha em terra.

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Mesmo assim, eles ainda não tinham boas habilidades no mar dos cartaginenses, e mais importante, não tinham um general com as habilidades do cartaginense Amílcar Barca (275-228 a.C.). Amílcar recebeu o sobrenome de Barca (que significa "relâmpago") devido à sua velocidade em atacar qualquer lugar, assim como a velocidade de suas ações. Ele atacava sem aviso ao longo de toda a costa italiana, destruindo postos avançados romanos e cortando linhas de suprimento.

Se o governo cartaginês tivesse suprido e reforçado Amílcar adequadamente, provavelmente teriam vencido a guerra. No entanto, contentaram-se em acumular suas riquezas, confiando que Amílcar e seus mercenários lidariam com os inimigos sem o apoio necessário. Ele derrotou os romanos em Drépano em 249 a.C., mas foi forçado a recuar devido a falta de homens e suprimentos. De acordo com o historiador Will Durant:

Ambas as nações, igualmente exauridas, descansaram por nove anos. Porém, enquanto nesse período Cartago permaneceu inativa... cidadãos romanos presentearam voluntariamente ao seu estado uma frota de duzentos navios de guerra, transportando sessenta mil soldados.

Os romanos, agora com mais experiência no mar, melhor equipados e liderados, alcançaram uma série de vitórias decisivas sobre Cartago, e em 241 a.C. os cartaginenses requisitaram um tratado de paz.

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Carthage and its Harbour
Cartago e seu Porto
The Creative Assembly (Copyright)

Essa guerra foi custosa para ambos os lados, mas Cartago acabou por sofrer mais devido a:

  • Corrupção e incompetência do seu governo, que desviava verbas destinadas às forças armadas e se recusava sistematicamente a enviar suprimentos e reforços urgentes aos generais no campo de batalha
  • O exército majoritariamente composto de mercenários, que simplesmente se recusavam a lutar
  • Um excesso de confiança acerca das capacidades de Amílcar Barca

Além disso, subestimaram gravemente o inimigo. Enquanto Cartago ignorava amplamente a guerra, deixando a parte dos combates com Amílcar e seus mercenários, Roma estaria construindo e equipando mais navios e treinando mais homens. Mesmo que Roma nunca havia usado uma marinha antes da Primeira Guerra Púnica, eles se ergueram em 241 a.C. como mestres do mar, e com Cartago sendo uma cidade derrotada.

Cartago concentrou-se na conquista da Espanha ao invés de tentar retirar os romanos de suas antigas colônias.

Durante a guerra, o governo cartaginense repetidamente falhou em pagar seu exército de mercenários e então, em 241 a.C., esses mesmos mercenários iniciaram um cerco à cidade. Amílcar Barca foi convocado romper o cerco e assim o fez, embora Cartago lhe tivesse negado os tão necessários suprimentos e reforços em suas campanhas, que ele conduzia em nome da República, e mesmo tendo liderado pessoalmente a maioria desses mercenários em combate.

A Guerra dos Mercenários prolongou-se de 241 a 237 a.C., e enquanto Cartago estava imersa neste conflito, Roma ocupou as colônias cartaginenses da Sardenha e Córsega. Enquanto Cartago estava infeliz com esse desenvolvimento, havia muito pouco que pudesse ser feito. Eles concentraram seus esforços na conquista de Espanha ao invés de tentar retirar os romanos de suas antigas colônias.

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Em 226 a.C. foi assinado o Tratado do Ebro entre Cartago e Roma, estabelecendo que os romanos controlariam o território espanhol ao norte do rio Ebro, Cartago manteria as regiões já conquistadas ao sul do rio, e nenhuma das nações cruzaria os limites estabelecidos.

Carthaginian War Elephant
Elefante de Guerra Cartaginense
The Creative Assembly (Copyright)

Segunda Guerra Púnica

Em 228 a.C., Amílcar morreu em batalha, e o comando do exército cartaginense passou para seu genro, Asdrúbal, o Belo (c. 270-221 a.C.). Asdrúbal escolheu soluções diplomáticas, ao invés de militares, para lidar com Roma, mas foi assassinado em 221 a.C., com o comando passando para Aníbal Barca (247 – 183 a.C., filho mais velho de Amílcar Barca). Ao sul da fronteira do Ebro, ficava a cidade de Sagunto, aliada de Roma. Em 218 a.C., Aníbal sitiou e conquistou a cidade. Os romanos se revoltaram com esse ataque e demandaram que Cartago entregasse Aníbal a Roma. O senado cartaginense se recusou a colaborar e então a Segunda Guerra Púnica teve início.

Aníbal se viu encurralado no sul da Itália em uma perseguição de gato e rato com o exército romano.

Aníbal, um inimigo jurado de Roma, recebeu a informação de que os exércitos romanos estavam em seu encalço e, em uma aposta ousada, marchou com suas forças pelos Alpes e para o norte da Itália. Aníbal conseguiu então vencer cada um dos confrontos com os romanos, conquistando o norte da Itália e trazendo os antigos aliados de Roma para o seu lado.

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Ao perder muitos de seus elefantes em sua marcha pelas montanhas, e sem as máquinas e cerco e tropas, Aníbal se viu encurralado no sul da Itália em uma perseguição de gato e rato com o exército romano, sob o controle de Quintus Fabius Maximus. Fabius se recusou a encarar Aníbal diretamente, confiando ao invés disso, em cortar suas linhas de suprimentos e fazer o seu exército passar fome.

A estratégia de Fabius talvez pudesse ter funcionado, caso os romanos não houvessem ficado impacientes com a inatividade de suas legiões. Além disso, Aníbal usou táticas de contraespionagem para reforçar e espalhar o boato de que Fábio se recusava a lutar porque estava sendo pago pelos cartaginenses. Fabius foi trocado por Caius Terentius Varro e Lucius Aemilius Paulus, que abandonaram a cautela e moveram suas tropas contra Aníbal na região da Apúlia.

Na Batalha de Canas, em 216 a.C., Aníbal posicionou seus gauleses no centro de suas linhas, já prevendo que eles recuariam diante das forças romanas. Quando isso ocorreu exatamente como previsto, e os romanos acreditando estar explorando uma vantagem avançaram atrás deles, Aníbal fechou o cerco por trás e pelos flancos, envolvendo as forças romanas e esmagando-as. Em Canas, morreram quarenta e quatro mil soldados romanos, contra apenas seis mil das tropas de Aníbal. Aníbal conseguiu sua grande vitória, mas não pôde explorá-la, pois Cartago se recusou a enviar os reforços e suprimentos de que ele necessitava.

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Campaigns of the Second Punic War
Campanhas da Segunda Guerra Púnica
YassineMrabet (GNU FDL)

Pouco tempo após isso, o general romano Publius Cornelius Scipio (236–183 a.C, posteriormente conhecido como Cipião Africano) estava derrotando as forças cartaginenses na Espanha sob o controle do irmão de Aníbal, Asdrúbal Barca (c. 244-207 a.C.). Asdrúbal havia defendido a Espanha dos romanos habilmente até a chegada de Cipião, que o derrotou completamente em 208 a.C. Asdrúbal fugiu da Espanha, seguindo as forças de seu irmão pelos Alpes até a Itália, para unir forças. Ele foi barrado e derrotado na Batalha do Metauro (207 a.C.), onde ele morreu em combate. Aníbal não sabia do paradeiro de seu irmão até a cabeça decapitada de Asdrúbal ser atirada em seu acampamento.

Reconhecendo que o exército de Aníbal seria convocado caso Cartago fosse atacada, e com a Espanha agora sob controla de Roma, Cipião reuniu uma frota e navegou até o norte da África, onde ele conquistou a cidade cartaginense de útica. Cartago convocou Aníbal da Itália para que ele salvasse a cidade, mas Cipião era um grande admirador de Aníbal, e havia estudado suas táticas profundamente.

Na Batalha de Zama (202 a.C.), Aníbal enviou um ataque de elefantes contra os romanos, o qual Cipião, ciente das estratégias de Aníbal, repeliu facilmente. Os romanos mataram os cartaginenses nos elefantes e enviaram os animais de volta para as fileiras cartaginenses. Em seguida, lançaram um ataque combinado de cavalaria e infantaria, esmagando o inimigo em um movimento de pinça. Aníbal retornou para a cidade e informou ao senado que Cartago deveria se render imediatamente.

Scipio Africanus the Elder
Cipião Africano, o Ancião
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Cipião permitiu com que Cartago retomasse suas colônias na África, mas ela deveria abrir mão de sua marinha, também não podendo iniciar guerras em nenhuma circunstância sem a aprovação de Roma. Cartago também deveria pagar uma quantia de duzentos talentos por ano durante cinquenta anos para Roma. Cartago era novamente uma cidade derrotada, mas retendo seus navios de comércio, assim como dez navios de guerra para se proteger, foi capaz de continuar e começar a prosperar novamente.

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O governo cartaginense, contudo, continuava corrupto e egoísta da maneira com que sempre havia sido, taxando as pessoas fortemente para ajudar a pagar as dívidas de guerra, enquanto os mesmos não contribuíam com nada. Aníbal saiu de sua aposentadoria e tentou consertar a situação, sendo então traído pelos cartaginenses ricos sob influência romana, e então fugindo. Ele morreu por suas próprias mãos, bebendo veneno, em 184 a.C., com a idade de sessenta e sete anos.

Terceira Guerra Púnica: Cartago Destruída

Cartago continuou a pagar suas dívidas a Roma pelos cinquenta anos e, quando acabou, considerou o tratado com Roma cumprido e encerrado. Eles entraram em guerra contra a Numídia, foram derrotados e, em seguida, tiveram que pagar uma nova indenização de guerra a esse reino. Por iniciarem uma guerra sem a aprovação de Roma, o senado romano voltou a considerar Cartago uma ameaça à paz novamente.

Carthage Under Siege
Cartago sob Cerco
The Creative Assembly (Copyright)

O senador romano Cato, o Ancião, levou essa ameaça tão a sério que ele acabaria por terminar todos os seus discursos, independentemente de qual fosse o assunto, com a frase, "E, além disso, acredito que Cartago deveria ser destruída." Em 149 a.C. Roma enviou um embaixador até Cartago sugerindo que a cidade deveria ser desmantelada e movida para dentro do território, longe da costa. Os cartaginenses se recusaram a cumprir com isso, e então teve início a Terceira Guerra Púnica.

O general romano Cipião Emiliano (185–129 a.C.) iniciou um cerco à cidade durante três anos e, quando ela caiu, ele a saqueou e a queimou completamente. Roma então emergiu como o poder eminente no Mediterrâneo, e Cartago permaneceu em ruínas por mais de cem anos, até ser novamente reconstruída posteriormente a morte de Júlio César. As Guerras Púnicas auxiliaram Roma com treinamento, expansão da marinha, e riquezas para que se expandissem, de uma pequena cidade para um império que governaria todo o mundo conhecido.

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Perguntas e respostas

O que foram as Guerras Púnicas?

As Guerras Púnicas foram uma série de conflitos entre Cartago e Roma entre 264–146 a.C. Roma venceu todas as três guerras.

O que significa "Púnica" em Guerras Púnicas?

"Púnica" vem do latim "Punicus", termo romano para os fenícios, com os cartagineses sendo considerados fenícios. Como autores romanos escreveram a história das guerras, elas foram chamadas de "Púnicas" porque Roma considerou que Cartago as iniciou.

Quem venceu as Guerras Púnicas?

Roma venceu as três Guerras Púnicas e, após a terceira, Cartago foi destruída.

Quais são as datas das Guerras Púnicas?

Primeira Guerra Púnica: 264–241 a.C.; Segunda Guerra Púnica: 218–201 a.C.; e Terceira Guerra Púnica: 149–146 a.C.

Qual foi a causa das Guerras Púnicas?

As Guerras Púnicas foram causadas pelos interesses conflitantes de Cartago e Roma. Cartago controlava o Mediterrâneo, e Roma estava em expansão, levando ambas ao conflito.

Sobre o tradutor

Pedro Lucas
Tradutor bilingue (inglês-português) com formação acadêmica em Línguas e Literaturas: Português, Inglês e suas respectivas literaturas. Apaixonado pela literatura e pela língua inglesa, com um forte interesse na relação entre língua, cultura e tradução.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é co-fundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou História, Filosofia, Literatura e Redação. Viajou extensivamente e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2018, abril 18). Guerras Púnicas [Punic Wars]. (P. Lucas, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-736/guerras-punicas/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Guerras Púnicas." Traduzido por Pedro Lucas. World History Encyclopedia. Última modificação abril 18, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-736/guerras-punicas/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Guerras Púnicas." Traduzido por Pedro Lucas. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 18 abr 2018, https://www.worldhistory.org/Punic_Wars/. Web. 15 jul 2025.