A Artilharia Romana

Artigo

Mark Cartwright
por , traduzido por Rogério Cardoso
publicado em 02 fevereiro 2014
Disponível noutras línguas: Inglês, francês
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As armas de artilharia romanas foram fundamentais nos sucessos do exército romano ao longo dos séculos e eram especialmente usadas em guerras de cerco, tanto para ataque quanto para defesa. Principalmente usadas em posições fixas ou a bordo de navios, essas máquinas, conhecidas geralmente como balistas, poderiam disparar dardos ou pedras pesadas por várias centenas de metros, para abrir buracos nas fortificações inimigas, abater navios e causar devastação nas fileiras das tropas adversárias.

Carthage Under Siege
Cartago sob cerco
The Creative Assembly (Copyright)

A Balista - Origens, Desenvolvimento e Uso

Os romanos continuamente aprimoravam as armas de torção, que haviam aparecido pela primeira vez na Grécia do século IV a.C. Os dois principais tipos eram o katapéltēs oxybelēs, que disparava dardos, e o lithobólos, que disparava pedras, ambos por distâncias superiores a 300 metros (conforme foi demonstrado em modernas reproduções em tamanho real). Os romanos os tornaram máquinas mais eficientes, com maior estabilidade, mais mobilidade, materiais melhores e ajustes no modelo, a fim de obter alcance e precisão cada vez maiores. Contudo, catapultas sem torção nunca foram completamente substituídas e permaneceram como um útil complemento à formidável gama de armamentos de Roma.

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As armas de artilharia que disparavam dardos ou pedras (ou ambos) eram usadas para manter os defensores fora das muralhas enquanto aríetes eram usados, rampas de cerco eram construídas ou torres eram movidas para a posição, a fim de romper as fortificações dos defensores. Projéteis mais pesados também podiam romper muralhas defensivas e permitir que as tropas invadissem a cidade. As balistas também poderiam ser usadas de modo mais imaginativo, por exemplo, quando postas nos andares superiores das torres de cerco ou nos conveses dos navios. Ainda assim, como essas máquinas eram muito pesadas, e sua cadência de tiro era relativamente lenta, elas eram usadas principalmente como armas de posicionamento fixo, e não como armas móveis em confrontos campais. Dispostas em baterias, quando possível em terreno elevado, elas poderiam, todavia, prover uma devastadora saraivada de fogo sobre as posições inimigas e devem ter representado uma visão ameaçadora quando eram manobradas ao alcance das posições dos defensores.

Roman Stone-throwing Carroballista
A carrobalista lançadora de pedras romana
Pearson Scott Foresman (Public Domain)

A Carrobalista, o Escorpião e a Quirobalista

Os aparelhos de catapulta de torção romanos (catapulta) tinham tipicamente a aparência de uma besta quanto ao formato e tinham uma estrutura de madeira ou, ainda melhor, de metal (capitulum) que consistia numa haste, numa manivela e numa base. Dois rolos de corda (nervi torti) feitos de pelo ou, ainda melhor, de tendões de animais e envoltos numa caixa de placas metálicas sob tensão atuavam como molas que, quando soltas, davam aos braços (bracchia) do aparelho o seu poder de propulsão. Havia muitas versões diferentes de balistas, e a tensão na corda podia também ser obtida usando alavancas, molinetes, polias ou engrenagens. Manuais técnicos com fórmulas de calibragem e tabelas de medições padronizadas para as várias peças que compunham as catapultas de torção apareceram pela primeira vez por volta de 270 a.C., indicando que a guerra se tornara uma ciência na qual avanços tecnológicos frequentemente traziam a vitória.

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Conforme as tecnologias se aprimoravam, no início do século II d.C., a artilharia de fato se tornava cada vez mais móvel, acrescentando uma nova e letal dimensão à guerra antiga. A Coluna de Trajano em Roma provê esculturas em relevo que mostram armas atiradoras de dardos montadas em carroças (carrobalistas). Estas eram um aprimoramento de catapultas mais antigas, já que os seus mecanismos de mola foram dispostos a uma distância maior, dando à arma maior precisão nos disparos. Além disso, toda a estrutura de ferro não só tornou todo o aparato mais leve e mais móvel, mas também permitiu que o braço fosse puxado ainda mais para trás, dando 25% a mais de potência. Vegécio afirma que cada legião era equipada com 55 carrobalistas e, com efeito, toda legião tinha os seus próprios e dedicados especialistas em artilharia, que não só disparavam as armas, mas também as reparavam e aprimoravam.

Roman Ballista Reconstruction
Reconstrução de balista romana
Oren Rozen (GNU FDL)

O escorpião era uma versão menor da balista, operada por um único homem. Ele surgiu por volta do século I a.C. (embora confusamente, alguns escritores romanos posteriores usariam o termo scorpio para se referir a grandes catapultas de braço único também). O seu tamanho menor, a cabeça de metal e os braços côncavos davam a ele maior precisão e potência, de modo que, em mãos hábeis, ele pudesse disparar dardos de metal com força suficiente para transpassar dois soldados inimigos de uma só vez. Durante o século I d.C., outra inovação foi a quirobalista. Também pequena o suficiente para ser operada por um único atirador, a arma era construída quase inteiramente em metal, incluindo os braços, tornando-a mais resistente ao clima e precisa o bastante para que um arco de mira pudesse ser acrescido entre as duas molas de cobre encaixotadas.

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O 'Burro Selvagem'

Aparelhos lançadores de pedras vieram em vários calibres disparando pedras tão pequenas quanto de 0,5 kg até tão grandes quanto de 25 kg (como aquelas usadas em 70 d.C. no cerco de Jerusalém). Vitrúvio menciona pedras de medidas ainda maiores, sendo a mais pesada uma enorme, de 163 kg. Além de pedras, há também registros de projéteis incendiários sendo usados em guerra pelos romanos, por exemplo, no cerco de Massada em 73-4 d.C. Tais lançadores de pedras tinham duas formas - ou como aparato disparador de flechas ou como grandes catapultas de braço único, conhecidas no século IV d.C. como ônagro ou 'Burro Selvagem' por causa do seu enorme coice, mas, na verdade, ele apareceu primeiramente no século II d.C. Mais fáceis de construir do que as mais complexas balistas de dois braços, eles eram também menos precisos e requeriam um grupo de oito operadores e uma base de tijolo ou terra especialmente construída para obter alguma estabilidade quando o aparelho era disparado, e uma pedra de 80 kg era lançada da sua cesta. Vegécio afirma que dez armas desse tipo eram designadas a cada legião. Essas armas mais primitivas eram um indicativo do declínio geral da artilharia de torção no período tardio do Império, e demoraria muitos séculos até que o campo de batalha visse outra vez uma artilharia com a sofisticação e a precisão que os romanos foram capazes de empregar.

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Sobre o tradutor

Rogério Cardoso
Rogério Cardoso nasceu em Manaus, Brasil, onde inicialmente obteve um grau em Letras Portuguesas, e mais tarde se mudou para São Paulo, onde obteve um grau de mestre em Filologia Portuguesa. Ele é um entusiasta da História.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2014, fevereiro 02). A Artilharia Romana [Roman Artillery]. (R. Cardoso, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-649/a-artilharia-romana/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "A Artilharia Romana." Traduzido por Rogério Cardoso. World History Encyclopedia. Última modificação fevereiro 02, 2014. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-649/a-artilharia-romana/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "A Artilharia Romana." Traduzido por Rogério Cardoso. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 02 fev 2014. Web. 30 out 2024.