Boudica

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 08 Novembro 2013
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Disponível noutras línguas: Inglês, francês, italiano, Polaco, espanhol, Turco
Briton Woman Warrior (by The Creative Assembly, Copyright)
Guerreira Bretã
The Creative Assembly (Copyright)

Boudica (m. 61 d.C.) foi a rainha celta da tribo dos icenos, que viviam na atual região de East Anglia, na Grã-Bretanha, líder de uma revolta contra Roma em 60/61 d.C.. O rei dos icenos, Prasutagus, um aliado independente dos romanos, dividiu suas propriedades entre suas filhas e o imperador romano Nero (r. 54-68 d.C.). Quando morreu, porém, suas terras foram tomadas por Roma e a tribo perdeu o status de aliada.

Quando sua esposa, Boudica, objetou a esta medida, foi açoitada e teve suas filhas estupradas. Ela organizou uma revolta contra Roma que deixou em ruínas as antigas cidades romanas de Camulodunum, Londinium e Verulamium e resultou na morte de mais de 80.000 cidadãos da Roma britânica. A rainha acabou derrotada na Batalha da Rua Watling pelo governador romano Caio Suetônio Paulino (v. século I d.C.), que escolheu cuidadosamente o campo de batalha e induziu os icenos a cortar sua própria rota de fuga, pois colocaram carroças, animais e famílias na retaguarda. Acredita-se que Boudica cometeu suicídio por envenenamento após a derrota.

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As Fontes

Tácito afirma que a revolta se espalhou devido ao tratamento injusto conferido aos icenos, enquanto cássio Dio escreveu que a causa da rebelião foi uma disputa sobre um empréstimo.

As fontes primárias sobre a história da revolta de Boudica são os historiadores romanos Públio Cornélio Tácito (v. 56-117 d.C.) e Cássio Dio (v. 150-235 d.C.). Eles fornecem duas versões diferentes da história: Tácito afirma que a revolta se espalhou devido ao tratamento injusto conferido aos icenos, enquanto Dio escreveu que a causa da rebelião foi a disputa sobre um empréstimo.

Outra diferença significativa nos relatos é que Dio não faz menção ao açoitamento de Boudica ou o estupro de suas filhas e afirma que ela morreu dos ferimentos provocados pela batalha final, não por envenenamento. A versão de Tácito é geralmente aceita como mais factual porque seu sogro, Cneu Júlio Agrícola (v. 40-93 d.C.), governador na Britânia e responsável pela maior parte da conquista da região, serviu como a fonte primária de informação para o historiador. Não há dúvida da participação de Agrícola na supressão da revolta de Boudica, pois ele estava no exército, sob as ordens de Suetônio, em 61 d.C..

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As Causas da Rebelião de Boudica

Tácito faz um relato do início da rebelião na obra Anais:

Prasutagus, rei dos icenos, após uma vida de longa e renovada prosperidade, fez o imperador seu coerdeiro, junto com suas duas filhas. Ele esperava que sua atitude submissa preservasse o reino e a casa real de qualquer ataque. Mas não foi o que aconteceu. [Após sua morte] como espólios de guerra, reino e casa real foram saqueados, esta pelos oficiais romanos, aquele pelos escravos romanos. Para começar, a viúva, Boudica, foi açoitada e suas filhas violadas. Os chefes dos icenos perderam suas propriedades hereditárias, como se os romanos tivessem recebido o país inteiro como herança. Os próprios parentes do rei foram tratados como escravos. E os icenos humilhados temeram coisas ainda piores, agora que estavam reduzidos à condição de província. Assim, eles se rebelaram. (Lewis, 197)

A historiadora Miranda Aldhouse-Green cita uma rebelião icena anterior, em 47 d.C., como a causa da elevação de Prasutagus a chefe da tribo. Esta insurreição fracassou e não está claro qual papel Prasutagus exerceu nela, mas parece claro que os romanos viam o rei como um líder que podia controlar os icenos.

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Aldhouse-Green também destaca o significado do testamento de Prasutagus - que dividiu suas propriedades entre suas filhas e Roma e omitiu Boudica -, como evidência da hostilidade da rainha contra os romanos. Nesse caso, o argumento é que, ao deixá-la fora do testamento, o rei esperava que suas filhas mantivessem sua política de cooperação. Após sua morte, porém, todas as esperanças de uma coexistência pacífica entre os dois povos se perderam.

A Guerra de Boudica

Boudica atacou primeiro a cidade de Camulodunum (atual Colchester), massacrou os habitantes e destruiu o povoado. O governador Suetônio estava ocupado em suprimir uma revolta na ilha de Mona e, portanto, os cidadãos romanos apelaram para o agente imperial Cato Deciano. Ele enviou uma força de cerca de 200 homens, equipada com armamento leve, que se mostrou ineficiente na defesa da cidade. A Nona Divisão Romana, liderada por Rufo, marchou para libertar o povoado, mas acabou derrotada e a infantaria dizimada pelas forças dos bretões. Tácito menciona a ganância e rapacidade de homens como Cato Deciano como justificativa para a violência dos revoltosos.

Boadicea Haranguing the Britons
Boudica Discursando aos Bretões
John Opie (1761–1807) (Public Domain)

Suetônio, retornando de Mona, marchou para Londinium (a moderna Londres) mas, após receber informações de que as forças de Boudica o superavam largamente em números, abandonou a cidade à sua própria sorte e buscou um campo de batalha mais vantajoso. O exército de Boudica saqueou Londinium e, como antes, massacrou seus habitantes.

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Suetônio havia oferecido proteção para o povo da cidade com seu exército e muitos parecem ter aceitado a oferta. Porém, segundo Tácito, “aqueles que ficaram por serem mulheres, ou velhos, ou apegados ao lugar, foram assassinados pelo inimigo. Verulamium sofreu o mesmo destino.”

A Batalha da Rua Watling

Enquanto os bretões estavam destruindo Verulamium (a moderna St. Albans), Suetônio “escolheu uma posição num desfiladeiro com uma floresta atrás de si. Só haveria inimigos, ele sabia, à sua frente, onde havia campo aberto sem cobertura para emboscadas” (Tácito). Os bretões chegaram para a batalha em “números sem precedentes. Sua confiança era tal que trouxeram as esposas para assistir à vitória, instaladas em carroças estacionadas na retaguarda do campo de batalha.”

Conta-se que ambos os líderes encorajaram e inspiraram as tropas e, então, Suetônio deu a ordem para a batalha. A infantaria adiantou-se para atirar seus javelins (lanças). A vantagem numérica de Boudica ficava anulada na área estreita escolhida pelo governador e, de fato, representou uma desvantagem à medida que as grandes massas comprimidas de guerreiros forneciam alvos fáceis para os romanos.

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Queen Boudica
Rainha Boudica
Carole Raddato (CC BY-SA)

Os bretões tombaram ante o assalto das lanças e, em seguida, pela formação em cunha romana, que penetrou em suas fileiras. Suetônio acionou então a infantaria auxiliar e a cavalaria e os bretões começaram a debandar. As carroças de suprimentos na retaguarda impediram sua fuga e a debandada virou um massacre.

Tácito afirma que “os bretões remanescentes fugiram com dificuldade, pois o anel de carroças bloqueava as rotas de fuga. Os romanos não pouparam nem mesmo as mulheres. Os animais de carga, crivados de flechas e lanças, aumentaram as pilhas de mortos.” Boudica e suas filhas conseguiram escapar mas, logo depois, ingeriram veneno para escapar da captura.

Ainda que o sítio da batalha seja desconhecido, costuma ser mencionado como a Batalha da Rua Watling e as indicações de sua localização precisa variam desde King's Cross, em Londres, a Church Stowe, em Northamptonshire. Após a derrota de Boudica, Suetônio instituiu leis ainda mais duras sobre os povos originários da Britânia, até que foi substituído por Públio Petrônio Turpiliano, que garantiu a segurança da região meridional através de medidas mais suaves.

Outras insurreições de menor porte ocorreram nos anos seguintes à revolta de Boudica, mas nenhuma recebeu o mesmo apoio disseminado nem custou tantas vidas. Os romanos continuariam a dominar a Britânia sem problemas significativos até sua retirada da região, em 410 d.C.. Embora tenha perdido a batalha final e sua causa, Boudica é celebrada atualmente como uma heroína nacional e um símbolo universal do desejo humano por liberdade e justiça.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Ricardo é um jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Escritor freelance e ex-professor de filosofia em tempo parcial no Marist College, em Nova York, Joshua J. Mark viveu na Grécia e na Alemanha e viajou pelo Egito. Ele ensinou história, redação, literatura e filosofia em nível universitário.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2013, Novembro 08). Boudica [Boudicca]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-507/boudica/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Boudica." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação Novembro 08, 2013. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-507/boudica/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Boudica." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 08 Nov 2013. Web. 27 Abr 2024.