Dia D

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Elmer Marques
publicado em 22 maio 2024
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, italiano, espanhol
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Attacking Omaha Beach (by Robert F. Sargent, Public Domain)
Atacando a Praia de Omaha
Robert F. Sargent (Public Domain)

O Dia D foi o primeiro dia da chamada Operação Overlord: o ataque dos Aliados à Europa Ocidental ocupada pela Alemanha, que começou nas praias da Normandia, na França, em 6 de junho de 1944. A operação era composta primordialmente por tropas norte-americanas, britânicas e canadenses, com apoio naval e aéreo. Em torno de 135.000 soldados desembarcaram em cinco praias em um dia que é amplamente considerado como tendo mudado o curso da história.

Onde atacar?

A Operação Overlord estava nos planos desde janeiro de 1943, quando os Aliados concordaram em concentrar tropas britânicas e norte-americanas na Grã-Bretanha. A operação visava atacar a Europa Ocidental ocupada pelos alemães com um desembarque anfíbio no noroeste da França, na Bélgica ou nos Países Baixos. Os Aliados não estavam certos quanto ao local exato do desembarque, mas os requisitos eram simples: a travessia marítima deveria ser a mais curta possível e dentro do alcance de proteção dos caças dos Aliados; a existência de um grande porto próximo ao local do desembarque que pudesse ser capturado e usado para desembarcar mais tropas e equipamentos. A melhor opção parecia ser a Normandia com suas praias planas e o Porto de Cherbourg.

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A Muralha do Atlântico

O líder da Alemanha Nazista, Adolf Hitler (1889-1945), chamou sua linha de defesa ocidental de Muralha do Atlântico. Ela tinha lacunas, mas apresentava uma impressionante série de fortificações ao longo do litoral desde a Espanha até os Países Baixos. A construção dos conjuntos de artilharia, redes de bunkers (ou búnqueres, na forma aportuguesada) e postos de observação começaram em 1942.

Uma frota dos Aliados composta de 7.000 embarcações partiu de diversos portos da costa sul inglesa.

O alto-comando alemão sabia que um ataque aconteceria, mas não sabia aonde. Os Aliados esforçaram-se ao máximo com técnicas de inteligência para confundir os alemães, fazendo-os pensar que a invasão ocorreria em qualquer lugar, exceto na Normandia. Acabou se tornando um grande erro dos alemães acreditar que Calais seria o local do desembarque. Muitos comandantes alemães pensavam que Pas de Calais era a escolha mais óbvia na medida que era a área mais próxima da Grã-Bretanha. Consequentemente, a região de Calais era a mais bem defendida. Os Aliados aproveitaram de outra convicção dos alemães: a de que o general americano George Patton (1885-1945), conhecido por suas táticas agressivas, comandaria o ataque do Dia D. Os Aliados usaram Patton e um grupo de exército completamente fictício como uma pista falsa. Mesmo quando o Dia D começou, os comandantes alemães não tinham certeza se a Normandia não estaria sendo usada apenas para um ataque com a finalidade de desviar a atenção, enquanto a real invasão estaria acontecendo em outro lugar. Para manter em segredo a operação e a concentração de tropas, ninguém era permitido sair da Grã-Bretanha sem autorização, incluindo os diplomatas.

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German Atlantic Wall Defences
Defesa alemã na Muralha do Atlântico
Bundesarchiv, Bild 101I-263-1591-07A / Valtingojer (CC BY-SA)

O marechal de campo Gerd von Rundstedt (1875-1953), comandante em chefe do exército alemão no ocidente, acreditava que seria impossível impedir uma invasão pela costa. Assim, seria melhor manter a maior parte das forças defensivas para contra-atacar as posições dos Aliados na praia. O marechal de campo Erwin Rommel (1891-1944), comandante do Grupo de Exército B, discordou e considerou essencial impedir qualquer invasão nas próprias praias. Além disso, Rommel acreditava que a superioridade aérea dos Aliados significava que o movimento dos reservas alemãs seria severamente dificultado. Hitler concordou com Rommel e a defesa alemã foi distribuída onde quer que as fortificações estivessem mais fracas. Rommel melhorou as defesas estáticas e adicionou estruturas metálicas antitanques nas maiores praias. Ao final, Rundstedt recebeu uma defesa móvel, mas o acordo enfraqueceu ambos os planos de defesa. As forças armadas alemãs não receberam a ajuda necessária. Primeiro, devido à sua confusa estrutura de comando, o que significava que Rundstedt não podia recorrer a qualquer blindado (mas Rommel, que se reportava diretamente a Hitler, podia). Segundo, porque os comandantes não tinham qualquer controle sobre as forças navais e aéreas disponíveis ou sobre as baterias costeiras que eram controladas separadamente. Mesmo assim, as defesas alemãs foram reforçadas ao redor das defesas mais fracas da Normandia para impressionantes 31 divisões de infantaria, adicionando-se dez divisões de blindados e sete divisões reservas de infantaria. O exército alemão tinha outras 13 divisões espalhadas pelas demais áreas francesas. Uma divisão padrão do exército alemão era composta de 15.000 homens em sua força máxima.

As forças aéreas aliadas realizaram 15.000 missões no Dia D.

Muitas das divisões do exército alemão não eram tropas de elite, mas tropas inexperientes, que haviam gastado mais tempo construindo defesas do que em treinamento militar. Havia uma grande falta de material para a construção do sonho de Hitler: a Muralha do Atlântico que, à época, era um verdadeiro queijo suíço, com áreas fortes mas muitos buracos. O exército alemão não recebeu o número necessário de minas, explosivos, concreto ou trabalhadores para melhorar a proteção do litoral. Pelo menos um terço das posições de artilharia não tinham a devida proteção. Muitas instalações não eram à prova de bombas. Outra séria fraqueza era o apoio naval e aéreo. A marinha alemã tinha meros quatro contratorpedeiros disponíveis e 39 E-boats, enquanto a contribuição da Luftwaffe (força aérea alemã) era igualmente pequena, com apenas 319 aviões operando nos céus quando a invasão começou, aumentando para 1.000 aeronaves na segunda semana.

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Netuno para a Normandia

O Supremo Comandante das forças invasoras aliadas era o general Dwight D. Eisenhower (1890-1969), que havia estado no comando das operações aliadas no Mediterrâneo. O comandante em chefe das forças terrestres na Normandia - compostas de 39 divisões no total - era o experiente general Bernard Montgomery (1887-1976). As forças aéreas estavam sob o comando do marechal do ar Trafford Leigh Mallory (1892-1944), enquanto as forças navais eram comandadas pelo almirante Bertram Ramsay (1883-1945).

Allied D-Day Landings of WWII, June 1944
Desembarques dos Aliados no Dia D, 2ª Guerra Mundial, junho de 1944
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

A preparação para a Operação Overlord ocorreu durante os meses de abril e maio de 1944, quando a Força Real Aérea do Reino Unido (RAF) e a Força Aérea dos Estados Unidos (USAAF) bombardearam implacavelmente os sistemas de comunicação e de transporte na França e nas linhas de defesa do litoral, campos de pouso, alvos industriais e instalações militares. No total, mais de 200.000 missões foram conduzidas para enfraquecer tanto quanto possível as defesas nazistas prontas para combater as tropas de infantaria dos Aliados que estavam prestes a iniciar o maior movimento de tropas da história. A resistência francesa também exerceu seu papel ajudando a preparar o caminho para a invasão das tropas aliadas, explodindo linhas férreas e sistemas de comunicação, o que asseguraria que a defesa alemã não pudesse responder efetivamente à invasão.

A frota aliada era composta por 7.000 embarcações de todos os tipos. Ela partiu de portos da costa sul inglesa, dentre eles Falmouth, Plymouth, Poole, Portsmouth, Newhaven e Harwich. Em uma operação batizada de Netuno, os navios se reuniram ao largo de Portsmouth, em uma área chamada Piccadilly Circus, após o movimentado entroncamento rodoviário de Londres, e depois partiram em direção à Normandia e às demais áreas a serem atacadas. Ao mesmo tempo, planadores e aviões voaram para a península de Cherbourg e para Ouistreham, respectivamente as fronteiras oeste e leste da área de desembarque das tropas aliadas. Soldados paraquedistas da 82ª e da 101ª Divisões Aerotransportadas dos Estados Unidos atacaram no limite oeste e tentaram isolar Cherbourg. No limite leste da operação, soldados paraquedistas da 6ª Divisão Aerotransportada Britânica visaram conquistar a Ponte Pegasus sobre o Canal de Caen. Os soldados paraquedistas e os planadores também tinha como tarefa destruir pontes para impedir a locomoção dos alemães, ao mesmo tempo em que deviam tomar o controle de outras pontes para permitir o avanço dos soldados aliados; também visavam destruir as posições de artilharia, tomar o controle das saídas das praias e proteger os flancos da invasão.

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As praias

O ataque anfíbio foi marcado para o amanhecer de 5 de junho: a luz do dia era um requisito para o necessário suporte aéreo e naval. O mau tempo levou ao adiamento por 24 horas. Pouco depois da meia-noite, os primeiros grupos com 23.000 soldados paraquedistas britânicos e americanos pousaram na França. Os soldados paraquedistas norte-americanos que aterrissaram perto de Ste-Mère-Église garantiram que essa fosse a primeira cidade francesa a ser libertada. A partir das 3h a.m., iniciaram-se os bombardeios naval e aéreo sobre a costa da Normandia, cessando apenas 15 minutos antes das primeiras tropas de infantaria desembarcarem nas praias francesas às 6h30min a.m.

British Troops, D-Day
Tropas Britânicas, Dia D
Imperial War Museums (CC BY-NC-SA)

As praias selecionadas para os desembarques foram divididas em cinco zonas, a cada uma sendo dado um codinome. As tropas norte-americanas atacaram duas praias, as tropas britânicas outras duas, e a tropa canadense atacou a quinta praia restante. As praias a serem atacadas foram atribuídas às seguintes tropas (de oeste a leste):

  • Praia de Utah - 4ª Divisão de Infantaria dos Estados Unidos, 7º Corpo do Exército dos Estados Unidos (1º Exército dos Estados Unidos comandado pelo tenente-general Omar N. Bradley);
  • Praia de Omaha - 1ª Divisão de Infantaria dos Estados Unidos, 5º Corpo do Exército dos Estados Unidos (1º Exército dos Estados Unidos);
  • Praia de Gold - 50ª Divisão de Infantaria da Grã-Bretanha, 30º Corpo do Exército da Grã-Bretanha (2º Exército Britânico comandado pelo tenente-general Miles C. Dempsey);
  • Praia de Juno - 3ª Divisão de Infantaria do Canadá (2º Exército Britânico);
  • Praia de Sword - 3ª Divisão de Infantaria da Grã-Bretanha, 1º Corpo do Exército da Grã-Bretanha (2º Exército Britânico).

Além disso, o 2º Regimento Rangers dos Estados Unidos foram designados para atacar a bem defendida Pointe du Hoc entre as praias de Utah e Omaha (embora se viesse a descobrir que os alemães nunca havia instalado suas armas lá), enquanto as unidades do Comando do Royal Marine (fuzileiros navais da Grã-Bretanha) atacaram alvos nas Praias de Gold, de Juno e de Sword.

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A Força Real Aérea do Reino Unido (RAF) e a Força Aérea dos Estados Unidos (USAAF) continuaram a proteger a frota aliada e garantiram que qualquer contra-ataque dos alemães baseados em terra fosse combatida por um ataque aéreo dos Aliados. Enquanto os Aliados colocaram no ar 12.000 aeronaves, a resposta aérea da Luftwaffe foi amplamente inadequada. Apenas no Dia D, as forças aéreas aliadas lançaram 15.000 missões, comparadas com apenas 100 missões lançadas pela Luftwaffe. Os Aliados não perderam sequer uma única aeronave para os inimigos no Dia D.

Utah

LSI’s de fundo raso (da sigla em inglês Landing Ship, Infrantry, navio de desembarque de infantaria ou navio de ataque anfíbio) despejaram as tropas na praia. Os soldados tiveram de sobreviver às minas e ao fogo inimigo. Bombas de fumaça foram disparadas para impedir a visão da praia e os soldados aliados tiveram de andar no mar em torno de 280 metros até atingir a faixa de areia. Os LSIs atracaram em torno de 1.600 metros ao sul do local planejado. Entretanto, esse fato possibilitou que os soldados evitassem a maior parte das defesas alemãs e, por volta do meio-dia, a praia já havia sido tomada e apenas seis soldados foram mortos (por volta de 200 soldados seriam mortos até o final daquele dia). Naquele dia, 23.250 soldados iriam desembarcar na Praia de Utah, que foi uma conquista relativamente fácil. Mas ao lado, na Praia de Omaha, um drama completamente diferente de desenvolveu.

Pursuit Tank, Normandy Landings
Tanque de Perseguição, Desembarques na Normandia
Imperial War Museums (CC BY-NC-SA)

Omaha

Tomar o controle da Praia de Omaha era uma tarefa árdua dada à experiente 1ª Divisão de Infantaria dos Estados Unidos, apelidada de The Big Red One devido à sua insígnia de ombro que era vermelha. A defesa alemã era robusta na Praia de Omaha e eles tinham duas vantagens: as altas falésias existentes no local e uma divisão extra completa que lá estava estacionada para um exercício de treinamento. Desde o início, as tropas americanas sofreram com os mares agitados que fizeram com que o desembarque fosse mais difícil. Nas 200 embarcações de ataque, quando não estavam sofrendo de enjoo, os soldados eram obrigados a usar freneticamente seus capacetes para retirar a água do mar que invadia os barcos. De um total de 96 tanques, 27 foram imediatamente perdidos quando desembarcados muito longe da praia. Quase toda a primeira leva de peças de artilharia foi perdida daquela maneira. Dos 16 tratores de esteira destinados a remover os obstáculos da defesa alemã, 13 foram perdidos. Os defensores alemães foram capazes de usar suas casamatas e posições de contra-ataque para estabelecer um fogo cruzado fulminante contra os soldados norte-americanos. A situação começou a melhorar para as tropas norte-americanas quando as defesas alemãs passaram a ser objeto de bombardeio naval e aéreo. Soldados e equipamentos continuaram a desembarcar na Praia de Omaha, mas eles estavam sob fogo pesado da artilharia, metralhadoras e morteiros alemães. Diversas embarcações de desembarque foram explodidas no mar, incluindo uma que levava os comandantes. Os homens na praia estavam imobilizados sob o fogo pesado dos alemães e não podiam avançar ou recuar, protegidos apenas pela fumaça lançada para fins de cobertura e pelos obstáculos da praia ou destroços que eles conseguiam alcançar. Havia sido uma decisão errada pelo comandante do ataque não ter levado mais tanques, como fizeram britânicos e canadenses em outras praias. Depois de três horas, uma rota de saída da praia ainda não havia sido estabelecida. O desembarque de mais homens e materiais havia sido interrompido.

Engenheiros reuniram todos os equipamentos que eles podiam e começaram a abrir caminho para longe dos destroços de homens e máquinas em que havia se transformado a Praia de Omaha. A defesa alemã não possuía soldados reservas, e nenhum podia ser trazido porque eles estavam ocupados com os paraquedistas aliados causando estragos atrás da linha de defesa principal. Em números absolutos superiores e com grande determinação, as tropas norte-americanas finalmente ganharam controle da praia ao anoitecer. No Dia D, quase 34.000 soldados desembarcaram na praia de Omaha com 2.200 baixas.

Gold

Nas praias atribuídas às forças britânicas e canadenses, os tanques Sherman com suas bem treinadas tripulações atacaram as casamatas alemãs, enquanto tanques desminadores do tipo Crab limpavam o terreno das minas para criar uma rota segura pela praia. Os soldados aliados ainda tiveram de enfrentar a artilharia alemã na Praia de Gold uma vez que os bombardeios naval e aéreo não haviam destruído todas as posições de defesa. As minas enterradas na praia também destruíram muitos tanques até que todas elas fossem eliminadas. Tanques e veículos blindados destruídos se transformaram em valiosos pontos de proteção e descanso para as unidades de infantaria que abundavam na praia. A oeste, os canhões alemães em Le Hamel causaram estrago até serem finalmente colocados fora de ação por volta do meio da tarde. No dia Dia D, 24.970 soldados desembarcaram em Gold com 400 baixas.

Armoured Column, Normandy Landings
Coluna de Blindados, Desembarques na Normandia
Imperial War Museums (CC BY-NC-SA)

Juno

As tropas canadenses que atacaram a Praia de Juno também enfrentaram um mar agitado e um mortífero fogo defensivo. A maré e a costa rochosa tornaram necessário um bom timing e expuseram os barcos aliados ao fogo inimigo. Em uma única leva, 20 das 24 embarcações foram explodidas. Tratores esteiras foram capazes de desembarcar e limpar a praia dos obstáculos de defesa. Uma combinação de tanques e engenheiros com explosivos destruíram, pouco a pouco, os canhões de defesa. Por volta do meio-dia, as tropas estavam avançando terra adentro. No Dia D, 21.400 soldados desembarcaram em Juno com 1.200 baixas.

Sword

Na Praia de Sword, no limite oriental da invasão, a frota estava ao alcance dos poderosos canhões de Le Havre. Os navios de guerra aliados tinham seus próprios canhões, e estes foram usados para bombardear as defesas e os canhões de Le Havre. Sob a cobertura de fumaça, os tanques foram primeiro em direção aos pontos de saída da praia pré-designados e atacaram as posições da artilharia da defesa alemã. Em seguida, a infantaria seguiu sob a habitual chuva do fogo das metralhadoras e morteiros. Por volta das 11h a.m., as tropas aliadas avançaram além da primeira linha ocupada na praia. No Dia D, 28.845 soldados desembarcaram em Sword com 630 baixas.

Ocupando a Normandia

Ao final do Dia D, 135.000 homens haviam desembarcado e relativamente poucas baixas sofridas: em torno de 5.000 soldados. Houve alguns erros graves, notadamente a desesperada dispersão dos paraquedistas: apenas 4% dos soldados paraquedistas da 101ª Divisão Aérea norte-americana aterrissou na zona alvo planejada. Ao menos essa dispersão causou ainda mais confusão entre os comandantes da defesa alemã no campo de batalha, na medida em que parecia que os Aliados estavam atacando em todos os lugares. Os defensores alemães - superando uma desvantagem inicial na qual estavam muitos comandantes - acabaram por se organizar em um linha de contra-ataque, empregando seus reservas e convocando tropas de outras partes da França. Foi quando a resistência francesa e os bombardeios aéreos tornaram-se cruciais, dificultando seriamente os esforços do exército alemão de reforçar as áreas costeiras da Normandia. Os comandantes de campo alemães queriam recuar, reagrupar e contra-atacar, mas, em 11 de junho, Hitler ordenou que eles não recuassem.

Mulberry Harbour, D-Day
Porto Mulberry, Dia D
Imperial War Museums (CC BY-NC-SA)

Todas as praias da invasão original foram ligadas à medida que os Aliados avançavam para o interior. Para ajudar os milhares de soldados após o ataque inicial, foram construídos dois portos flutuantes artificiais. Batizado de Mulberries, eles estavam localizados nas Praias de Omaha e Gold e foram construídos com 200 unidades pré-fabricadas. Uma tempestade em 20 de junho destruiu o Mulberry da Praia de Omaha, mas o que restou na Praia de Gold continuou em operação, permitindo que 11.000 toneladas de material desembarcassem a cada 24 horas. Outro problema dos Aliados era abastecer milhares de veículos com o combustível necessário. A solução de curto prazo - batizada de Tombola - utilizava navios-tanque para bombear combustível para tanques de armazenamento em terra, utilizando oleodutos sobre boias. A solução de longo prazo foi batizada de Pluto (do inglês Pipeline Under the Ocean), um oleoduto sob o Canal da Mancha até Cherbourg através do qual o combustível pudesse ser bombeado. Cherbourg foi conquistada em 27 de junho e, embora os alemães tenham afundado navios para bloquear o acesso à enseada, sendo necessárias seis semanas para desobstruí-lo, o Porto de Cherbourg foi usado para trazer à Normandia mais tropas e suprimentos.

A Operação Netuno terminou oficialmente em 30 de junho. Por volta de 850.000 homens, 148.800 veículos e 570.000 toneladas de provisões e equipamentos haviam sido desembarcados desde o Dia D. A próxima fase da Operação Overlord era expulsar os alemães da Normandia. Os alemães não estavam tendo apenas problemas logísticos, mas também questões de comando, tendo Hitler substituído Rundstedt pelo marechal de campo Günther von Kluge (1882-1944) e formalmente alertando Rommel para que não fosse derrotista.

Em sequência: a Campanha da Normandia

No início de julho, não tendo avançado mais que 32 quilômetros a partir da costa em direção ao sul, os Aliados estavam atrasados em seu planejamento. O mau tempo limitava o papel das aeronaves em auxiliar no avanço das tropas. As forças alemãs sabiam muito bem usar a zona rural para atrasar o avanço dos Aliados: os alemães utilizavam pequenos campos cercados por árvores e sebes que limitavam a visibilidade e tornavam os tanques aliados vulneráveis a emboscadas. Caen foi firmemente defendida pelos alemães, requerendo dos bombardeiros aliados que destruíssem a cidade em 7 de julho. As tropas alemãs recuaram, mas ainda mantinham o controle de metade da cidade. Os Aliados perderam por volta de 500 tanques tentando tomar o controle de Caen, cujo controle era vital para avançar ainda mais para o sul. O avanço para Avranches foi igualmente tortuoso: 40.000 homens foram perdidos em duas semanas de luta intensa. Ao final de julho, os Aliados haviam tomado Caen, Avranches e a estratégica Ponte de Pontaubault. A partir de 1º de agosto, Patton e o Terceiro Exército norte-americano estavam avançando para o sul pelo lado oeste da ofensiva aliada, enquanto os portos bretões de St. Malo, Brest and Lorient foram tomados.

Normandy American Cemetery and Memorial
Cemitério e Memorial Americano na Normandia
Peter K Burian (CC BY-SA)

Forças alemãs contra-atacaram para tentar retomar Avranches, mas a força aérea aliada foi decisiva. Em agosto de 1940, os Aliados avançaram para o sul até o Rio Loire, desde St. Nazaire até Orléans. Em 15 de agosto, os Aliados promoveram um grande desembarque de tropas na costa sudoeste da França (conhecidos como Desembarques da Riviera Francesa) e Marselha foi tomada em 28 de agosto. No norte da França, os Aliados capturaram território, portos e campos de pouso suficientes para permitir um aumento massivo no fornecimento de suporte material. Em 25 de agosto, Paris foi libertada. Em meados de setembro, as tropas aliadas no norte e no sul da França uniram-se e a linha de frente da campanha expandiu-se para o leste, avançando até as fronteiras com a Alemanha. Haveria reveses como a Operação Market Garden em setembro e breves contra-ataques alemães, como na Batalha de Bulge em dezembro de 1944, mas a direção da guerra e a vitória final dos Aliados deixou de ser uma questão de “se” para ser uma questão de “quando”.

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Perguntas e respostas

O que a letra "D" significa na expressão "Dia-D"?

Significa "dia".

O que aconteceu no Dia D?

O Dia D - 6 de junho de 1944 - foi uma operação anfíbia dos Aliados que desembarcou 135.000 soldados nas praias francesas da Normandia, iniciando a campanha que derrotaria a Alemanha e venceria a 2ª Guerra Mundial.

Por que o Dia D foi tão importante?

O Dia D foi importante porque representou o início da retirada da Alemanha da Europa Ocidental. Se o exército alemão houvesse resistido aos desembarques na Normandia, a guerra teria continuado por pelo menos mais um ano e possivelmente por muito mais tempo.

Bibliografia

A World History Encyclopedia é um associado da Amazon e recebe uma comissão sobre as compras de livros elegíveis.

Sobre o tradutor

Elmer Marques
Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Professor do curso de Direito da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, no Brasil.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor a tempo inteiro, investigador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem um mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2024, maio 22). Dia D [D-Day]. (E. Marques, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-23093/dia-d/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Dia D." Traduzido por Elmer Marques. World History Encyclopedia. Última modificação maio 22, 2024. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-23093/dia-d/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Dia D." Traduzido por Elmer Marques. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 22 mai 2024. Web. 11 out 2024.