Ankhsenamon

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 03 Abril 2014
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Disponível noutras línguas: Inglês, espanhol
Tutankhamun & Ankhsenamun (by Pataki Márta, CC BY-NC-SA)
Tutankhamon e Ankhsenamon
Pataki Márta (CC BY-NC-SA)

Ankhsenamon (nascida c. 1350 a.C. e conhecida como Ankhesenpaaton na juventude) era filha de Akhenaton e Nefertiti, da 18ª Dinastia do Egito. Ela foi casada com seu pai e pode ter-lhe dado uma filha, Ankhesenpaaton Thasherit (Ankhesenpaaton, a Jovem) antes dos 13 anos.

Enquanto ainda uma jovem menina, e possivelmente já casada com Akhenaton, ela foi prometida ao seu meio-irmão Tutankhaton, mais conhecido como Tutankhamon. Ankhsenamon sobreviveu tanto ao pai quanto ao marido e é a primeira egípcia de sangue nobre a tentar se casar com um príncipe estrangeiro e fazê-lo faraó. Sua tentativa falhou, porém, e o que aconteceu com ela depois disso é desconhecido, como também o ano de sua morte.

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Juventude e Casamento

Akhenaton, possivelmente por convicções religiosas, mas provavelmente por razões políticas, colocou a religião tradicional do Egito fora da lei e reprimiu suas práticas. A veneração popular ao deus Amon foi um dos principais alvos de perseguição, porque os sacerdotes dos templos dedicados a Amon tinham se tornado cada vez mais ricos, rivalizando em poder com a casa real. A riqueza no Antigo Egito media-se pela terra e, na época das reformas religiosas de Akhenaton, estes sacerdotes possuíam mais propriedades do que o faraó. No lugar do tradicional politeísmo que os egípcios sempre tinham conhecido, Akhenaton instituiu um monoteísmo estrito, centralizado no deus supremo, Aton, representado pelo disco solar.

Akhenaton transferiu a sede do poder do tradicional palácio de Tebas para um complexo recém-construído na cidade que fundou, Akhetaton (mais tarde conhecida como Amarna) e deve ter sido ali que Ankhsenamon cresceu, como uma criança-noiva do pai e então noiva prometida de seu meio-irmão Tutankhamon. O egiptólogo Zahi Hawass observa que

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[...] as duas crianças devem ter crescido juntas e talvez brincado juntas nos jardins do palácio. Elas teriam lições com professores e escribas, que ministrariam lições de sabedoria e sobre a nova religião de Aton. (50)

Em algum ponto, exatamente quando não está claro, ela teria dado à luz sua filha, mas é possível que Ankhesenpaaton Thasherit não fosse sua, mas filha de Akhenaton e de sua esposa menor Kiya (mãe de Tutankhamon). Ankhesenpaaton Thasherit tornou-se conhecida apenas através de inscrições danificadas, o que torna problemática a identificação de sua mãe. O período de vida da criança e a data de sua morte são desconhecidos.

Ankhsenamon e Tutankhamon

Como o primeiro passo para trazer de volta o equilíbrio ao Egito, o casal real mudou seus nomes para Tutankhamon e Ankhsenamon.

Akhenaton morreu em 1336 a.C. e seu filho assumiu o trono. Logo depois, o rei-garoto conhecido como Tutankhaton abandonou as proscrições paternas e reinstalou as tradicionais práticas religiosas do Egito. Os templos foram reabertos e os ritos retomados conforme a tradição.

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Os egípcios consideravam o equilíbrio e a harmonia os mais importantes aspectos da vida e honravam estes conceitos através de uma lei eterna, conhecida como ma'at (harmonia). Para os egípcios, o monoteísmo de Akhenaton e a perseguição à antiga religião do país tinham perturbado ma'at e seria o dever do novo rei restaurar a ordem e o equilíbrio. Tutankhaton e Ankhesenpaaton casaram-se num matrimônio real e, como primeiro passo para restaurar o equilíbrio do Egito, mudaram seus nomes para Tutankhamon e Ankhsenamon; ele tinha 8 ou 9 anos na época e ela estava com 13 ou 14.

Tutankhamun
Tutankhamon
wikipedia user: dalbera (CC BY)

Tutankhamon transferiu o governo de volta para as tradicionais sedes em Tebas e Mênfis e dedicou-se a tentar reparar os danos que os éditos de seu pai tinham causado. Com seus conselheiros Ay e Horemheb para guiá-lo, Tutankhamon reconstruiu templos e remodelou o velho palácio. Hawass observa que

Nos templos maiores, Tutankhamon e sua rainha teriam um pequeno palácio cerimonial, completo com uma área de recepção, sala do trono e câmaras privadas, incluindo salas de banho para o uso real. O “rei dourado” usaria seu palácio em Tebas para festivais religiosos importantes, e várias residências de descanso espalhadas pelo país para viagens de caça. (54)

A partir das pinturas e inscrições, parece que Ankhsenamon era sua companhia quase constante nestas viagens. Hawass escreve que

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A julgar pelas representações na arte que preenche a tumba do rei dourado, isso era certamente o caso [que eles amavam um ao outro]. Podemos sentir o amor entre eles ao vermos a rainha postando-se diante de seu marido, dando-lhe flores e acompanhando-o enquanto estava caçando. (51)

O casal parece ter sido inseparável até Tutankhamon morrer subitamente em 1327 a.C., com cerca de 18 anos.

Ankhsenamon e o Rei Hitita

Horemheb, comandante em chefe do exército, estava combatendo os hititas no norte quando Tutankhamon morreu e, assim, Ay assumiu o tradicional papel de sucessor ao sepultar o rei falecido. Para este papel ser reconhecido, a viúva do rei precisaria ser prometida a ele cerimonialmente no serviço funerário, o que parece ter acontecido. Ay e Ankhsenamon deram a Tutankhamon os rituais funerários apropriados, mas aparentemente não se casaram na realidade. Era previsto, porém, que Ay, como o sucessor, tomasse Ankhsenamon como sua noiva real para legitimar seu domínio.

A rainha de 23 anos, no entanto, tinha em mente outros planos. Ankhsenamon não queria se casar com Ay, muito mais velho (e bem possivelmente seu avô) e, assim, ela escreveu para o rei hitita Suppiluliuma I (r. 1344-1322 a.C.), pedindo ajuda. Na carta, ela declara:

Meu marido morreu e não tenho filhos. Dizem que você tem muitos filhos. Você poderia me dar um de seus filhos e ele se tornaria meu marido. Não gostaria de me casar com um de meus servos. Sou contrária a fazê-lo meu marido.

Esta solicitação sem precedentes de uma rainha egípcia despertou as suspeitas do rei hitita, e ele enviou um emissário para se encontrar com ela. O homem retornou com outra carta, na qual consta o seguinte:

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Tivesse eu um filho, escreveria sobre a minha vergonha pessoal e de meu país a uma terra estrangeira? Você não acredita em mim e disse tal coisa para mim. Meu marido morreu. Um filho eu não tenho! Nunca tomaria meu servo e o faria meu marido. Não escrevi para outro país; somente para você escrevi. Dizem que você tem vários filhos; então dê-me um de seus filhos. Para mim ele será um marido, mas no Egito ele será rei.

The Tomb of Horemheb
A Tumba de Horemheb
Jean-Pierre Dalbéra (CC BY-NC-SA)

Suppiluliuma, uma vez assegurada a legitimidade da oferta, enviou seu filho Zananza para se casar com Ankhsenamon, mas o príncipe foi morto antes de alcançar a fronteira. O assassinato há muito tem sido reconhecido como obra do general Horemheb, possivelmente com o apoio ou conivência de Ay. Hawass escreve:

Talvez Ay tenha revelado ao comandante do exército, Horemheb, o que a jovem rainha tinha feito, ou talvez ambos estivessem envolvidos numa disputa pelo trono. Talvez ambos tenham decidido juntos deter o príncipe hitita porque traria desonra, para uma nação como o Egito, uma rainha se casar com um estrangeiro – fato que reverteria o curso natural das coisas. Talvez fosse Ay, ou seu sucessor, Horemheb, que tenha mandado matar o príncipe hitita; e talvez Ankhsenamon fosse forçada, afinal de contas, a se casar com o idoso Ay. De fato, não temos nenhuma pista de seu eventual destino. Seu nome não é mencionado na tumba de Ay, localizada no Vale dos Reis, onde vemos somente o nome de sua principal esposa, Tiye. (68)

O Desaparecimento de Ankhsenamon

É possível que Ay ou Horemheb tenha assassinado Ankhsenamon pela sua ousadia em contatar o rei hitita, mas não há confirmação disso.

Nada mais se sabe de Ankhsenamon depois deste incidente. Ay governou por três anos, mas nenhuma menção é feita a ela como sua esposa ou em qualquer outro papel, exceto por um anel que talvez indique ter havido este casamento. O anel é considerado como uma evidência inconclusiva, porém, pois pode simplesmente se referir ao casamento cerimonial no funeral de Tutankhamon e não a um matrimônio real.

Quando Ay morreu, Horemheb assumiu o trono e, para legitimar seu domínio, instituiu a ortodoxia religiosa, afirmando que os velhos deuses o tinham escolhido para devolver o país aos tradicionais valores e para apagar da história o nome da família do rei herege. Todos os monumentos públicos erguidos por Akhenaton durante o Período Amarna foram destruídos ou desfigurados e Horemheb também tentou eliminar todos os traços de Tutankhamon. O jovem casal real tinha governado por dez anos e, naquele período, buscou restaurar a glória que o Egito conhecera antes das reformas monoteístas de Akhenaton. É provável que tenham havido inscrições e estelas que registraram as realizações do seu curto reinado, mas elas devem ter sido destruídas por determinação dos éditos de Horemheb.

É possível que Ay, ou Horemheb, tenha assassinado Ankhsenamon pela sua ousadia em contatar o rei hitita, mas, como tudo o mais na parte final de sua vida, não há confirmação disso. O que é claramente sabido é que, após suas cartas a Suppiluliuma I, Ankhsenamon desaparece da história. Especula-se que uma das duas múmias femininas encontradas na KV 21 (tumba 21 do Vale dos Reis) seja de Ankhsenamon, com base num teste de DNA realizado em 2010. Este teste confirmou o parentesco com o DNA das múmias de duas crianças natimortas de Tutankhamon e Ankhsenamon encontradas na tumba do jovem faraó; mas trata-se de uma evidência inconclusiva.

A múmia de Akhenaton foi positivamente identificada e seu DNA não o coloca como parente da suposta múmia de Ankhsenamon. Sabe-se ao certo que Ankhsenamon era filha de Akhenaton e Nefertiti. Como não se tem conhecimento de que Tutankhamon tenha tido outra esposa, os acadêmicos não conseguem explicar a identidade da múmia do KV21. As duas conclusões possíveis em vista do DNA são que Ankhsenamon não era filha de Akhenaton ou Tutankhamon tinha outra esposa que desapareceu dos registros históricos. Nenhuma destas possibilidades parece plausível conforme as informações disponíveis e, assim, o destino final de Ankhsenamon permanece um mistério.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Ricardo é um jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Escritor freelance e ex-professor de filosofia em tempo parcial no Marist College, em Nova York, Joshua J. Mark viveu na Grécia e na Alemanha e viajou pelo Egito. Ele ensinou história, redação, literatura e filosofia em nível universitário.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2014, Abril 03). Ankhsenamon [Ankhsenamun]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12613/ankhsenamon/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Ankhsenamon." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação Abril 03, 2014. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12613/ankhsenamon/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Ankhsenamon." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 03 Abr 2014. Web. 27 Abr 2024.