Mansa Muça I

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Jonas Tenfen
publicado em 26 Fevereiro 2019
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Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
Mansa Musa of the Mali Empire (by Abraham Cresques, Public Domain)
Mansa Muça do Império do Mali
Abraham Cresques (Public Domain)

Mansa Muça I (também referido apenas como Mansa Muça) foi o governante do Império do Mali, na África Ocidental, de 1312 a 1337. Controlando territórios ricos em ouro e cobre, e monopolizando o comércio entre o norte e o interior do continente, Mali se tornou extremamente rica. Conta-se que Mansa Muça teria gasto tanto ouro no Cairo que o valor do lingote caiu cerca de 20%.

Muçulmano do mesmo modo que seus antecessores, Mansa Muça trouxe consigo arquitetos e pesquisadores de sua peregrinação a Meca; estes construíram mesquitas e universidades que tornaram cidades como Tombuctu famosas internacionalmente. A escala de Mansa Muça no Cairo, em 1324, no entanto, ampliaria ainda mais a fama do Mali, chegando à Europa, onde boatos sobre um rei de fabulosa riqueza começaram a atrair a atenção de mercadores e exploradores.

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O Império do Mali

O Império do Mali (1240-1645), o maior e mais rico império já visto na África Ocidental, foi fundado por Sundiata Keita (também conhecido por Sjunjaata, r. 1230-155). A capital do Mali era Niani, e a mais importante cidade comercial era Tombuctu, próxima do rio Níger e localizada onde importantes vias fluviais e estradas convergiam. Uma riqueza imensa foi acumulada pelo seu papel de entreposto comercial entre o interior e a costa sul da África Ocidental com o Norte da África por meio de rotas de caravanas no deserto do Saara. Sal era a mercadoria mais importante negociada com o norte, enquanto que do sul vinham ouro e marfim. O Império eventualmente incluiu Gana, Ualata, Tadmeca, o Império Songai e, por fim, alcançou a costa do Atlântico. Líderes locais adotaram o islamismo a partir do seu contato com mercadores árabes, e o Império Mali iria ter um papel significativo na disseminação desta religião pela África Ocidental. Os habitantes locais, ao menos os de centros urbanos, foram convertidos, o que criou comunidades que atraíram sacerdotes muçulmanos do norte, intensificando a adesão da religião na região. Líderes locais iram realizar peregrinações aos locais sagrados do islamismo, como Meca, incluindo o maior desses líderes, Mansa Muça.

Mansa Muça aumentou o vasto império do Mali, dobrando seu território e fazendo com que fosse o segundo maior da época, atrás apenas do Império Mongol.

Mansa Muça e o Império

Mansa Kanku Muça assumiu o poder em 1312 e herdou um reino do Mali já bastante próspero; ele iria reinar até 1337. Mansa era o tradicional título maliano para “rei”, e Muça era o sobrinho neto do fundador Sundiata Keita. Mansa Muça recebeu o trono após seu antecessor, Mansa Abu Bakr II, ter partido de navio em direção ao Atlântico com uma grande frota e nunca mais ter sido visto. Enquanto a exploração se perdia, Mali se encontrava: Mansa Muça, nomeado regente enquanto Abu Bakr II satisfazia sua curiosidade sobre o que havia além do horizonte, se tornaria um dos maiores governante de toda a história da África.

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Com um exército com cerca de 100.000 homens, incluindo um corpo de cavalaria com 10.000 cavalos, e com o talentoso general Saran Mandian, Mansa Muça foi capaz de estender e manter o vasto império do Mali, dobrando seu território e fazendo com que fosse o segundo maior da época, atrás apenas do Império Mongol. Mali controlava territórios até Gambia e o baixo Senegal no oeste; no norte, tribos eram subjugadas por toda a extensão da fronteira do Saara Ocidental; no leste, o controle alcançava até Gao, no rio Níger, e, no sul, a região Bure e a floresta que se tornaria conhecida como Costa do Ouro passaram à supervisão de Mali. Esta última região foi deixada semi-independente porque a produção de ouro era sempre muito maior quando se garantia mais autonomia. O Império do Mali jamais controlaria um volume tão grande de território e de recursos naturais sob outro governante.

Map of the Mali Empire, c. 1337 CE
Mapa do Império do Mali, c. 1337
Gabriel Moss (CC BY-SA)

Para melhor governar esta vasta porção de terra contendo uma infinidade de tribos e grupos étnicos, Mansa Muça dividiu seu império em províncias onde cada uma era governada por um governador (farba) escolhido pessoalmente por ele. A administração foi em melhorada com maiores registros mantidos e enviados à sede do governo em Niani. A riqueza do estado aumentou devido às taxas de comércio, às minas de outro e cobre controladas pela administração maliana e a imposição de tributos às tribos conquistadas. Mansa Muça, desse modo, se tornou extremamente rico, talvez a pessoa mais rica da história.

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Mansa Muça I no Cairo

Mansa Muça, como tantos outros governantes malianos devotos antes e depois dele, partiu em peregrinação a Meca em 1324, mas quando chegou ao Cairo, em julho daquele ano, causou uma impressão única. A caravana de camelos do governante do Mali havia cruzado o Saara e quando chegou ao Egito até mesmo o sultão ficou espantado com a riqueza que este rei da África Ocidental trouxe com ele. Em alguns levantamentos, cada um dos 100 camelos carregava 15 quilos de ouro em pó e cada um dos 500 escravos carregava o seu próprio cajado de 2,7 quilos de ouro. Acrescente-se, outras centenas de camelos carregados com gêneros alimentícios e têxteis, cavaleiros balançando os estandartes vermelho e dourado do rei, e uma impressionante massa humana de servos e oficiais que ultrapassava o número de dezenas de milhares. Em um gesto extremo de grandiosidade, Mansa Muça I teria dado tanto ouro e sua comitiva teria comprado de tal maneira nos mercados da cidade que o valor do dinar de ouro no Cairo caiu 20% (em relação ao dirham de prata); levou 12 anos para que o mercado, inundado em ouro, se recuperasse.

O rei do Mali deu 50.000 dinares de ouro ao sultão do Egito apenas como gesto de boa vontade em seu primeiro encontro.

Os mercadores egípcios, em particular, ficaram encantados com estes turistas inocentes que de repente lotaram seus mercados e aproveitaram ao máximo, elevando os preços e aliviando os compradores do peso do ouro em qualquer oportunidade. De fato, Mansa Muça e seu séquito foram de tal modo perdulários que deixaram a cidade em dívida, fator que contribuiu para posteriores investimentos egípcios no Império do Mali para que os mercadores pudessem recuperar algum valor dos bens que eles haviam deixado em crédito.

O rei do Mali deu 50.000 dinares de ouro ao sultão do Egito apenas como gesto de boa vontade em seu primeiro encontro. O sultão foi bastante ignóbil e, em troca, insistiu que Mansa Muça beijasse o chão em sua homenagem. Entre tantas outras reverências, este governante do misterioso interior africano, contudo, foi tratado como a realeza que de fato era, tendo sido dado a ele um palácio para sua estada de três meses, e louvado onde quer que fosse. O historiador árabe Al-Makrizi (1364-1442) dá a seguinte descrição do rei do Mali:

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Era um homem jovem de pele morena, tinha uma feição agradável e bom porte. Suas qualidades maravilhavam aos olhos com beleza e esplendor”(citado de Zerbo, p. 59).

Djinguereber Mosque, Timbuktu
Mesquita Djinquereber, Timbuktu
UN Photo/Marco Dormino (CC BY-NC-ND)

Uma indicação da impressão que Mansa Muça deixou é que as notícias de sua visita ao Cairo chegaram à Europa. Na Espanha, um desenhista de mapas foi inspirado a criar o primeiro mapa europeu detalhando a África Ocidental. Criado por volta de 1375, o mapa, parte do Catalan Atlas, mostrava Mansa Muça sentado em um trono como rei, vestindo uma impressionante coroa de ouro, segurando um cajado de ouro em uma das mãos e, de modo alegremente, uma enorme pepita, ou esfera, de ouro na outra. Havia tantas narrativas sobre ouro que inspirariam exploradores europeus posteriores a enfrentarem doenças, tribos hostis e terrenos inóspitos a fim de encontrar as fabulosas riquezas de Tombuctu, a cidade dourada do deserto que ninguém sabia onde localizar no mapa mesmo no século 18.

Após o Cairo, Mansa Muça I teria viajado pela Arábia, onde comprou terras e abrigos para que os peregrinos vindos do Mali – seguindo o seu exemplo – tivessem um lugar para ficar. O rei foi inspirado pelos lugares santos que viu e, em seu retorno ao Mali, construiu uma deslumbrante sala de audiências em Niani e mesquitas em Gao e Tombuctu. Dentre estas, está a “grande mesquita” em Tombuctu, também conhecida como Djinguereber. Estas construções foram projetadas pelo famoso arquiteto Ishk al-Tuedjin (morto em 1346 e também referenciado como poeta) da Granada andaluz, que foi convencido no Cairo a seguir Mansa Muça quando da sua visita a esta cidade – os argumentos incluíam 200 quilos de ouro, escravos e uma propriedade às margens do rio Níger. A mesquita foi concluída em 1330, e al-Tuedjin viveu o restante da sua vida no Mali. Um palácio real, ou madugu, foi construído na capital e Tombuktu, e também fortificações para proteger esta cidade contra-ataques dos tuaregues, os nômades do sul do Saara. Devido à falta de pedras na região, os prédios no Mali eram tipicamente construídos com terra batida (banco) reforçada com madeira que frequentemente são vistas como vigas externas.

Mansa Musa Illustration
Ilustração de Mansa Muça
M.Hassan.Qureshi (CC BY-SA)

Mansa Muça também foi inspirado por universidades que viu em sua peregrinação, e trouxe para o Mali livros e pesquisadores. O rei encorajou amplamente a educação islâmica, especialmente em Tombuktu, que, com suas mesquitas, universidades e muitas escolas corânicas, não se tornou apenas a cidade mais sagrada na região sudanesa da África Ocidental, mas também um centro de cultura e estudos religiosos famoso internacionalmente. Além disso, Mansa Muça enviou pesquisadores religiosos nativos a Fez, no Marrocos, para aprenderem o máximo que podiam e retornarem ao Mali como professores. Do mesmo modo que estas conexões educacionais, conexões diplomáticas também foram feitas com os estados árabes, assim como o fluxo de investimentos no Mali, uma vez que mercadores egípcios e outros buscavam acesso ao lucrativo movimento de bens pela África Ocidental.

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Morte e Sucessores

Mansa Muça foi sucedido primeiramente pelo seu filho Mansa Maghan I (r. 1337-134), que desempenhou a função de regente enquanto seu pai estava em sua famosa peregrinação, e depois pelo seu irmão, cujo nome era Suleimão (c. 1341-1360). O reinado de Maghan durou apenas quatro anos e sua posição foi tomada por seu tio ao sugerir que o sobrinho – embora sem evidências plausíveis – havia feito jogadas desonestas. Mansa Suleimão continuou a promoção do islamismo iniciada pelo seu irmão, e o Império Mali prosperou por mais um século, até que novas rotas comerciais foram abertas pelos portugueses. A descoberta de novas minas de ouro e acesso à costa sul da África Ocidental significou que, a partir da metade do século 15, Mali não mais monopolizava o comércio na região. Significativamente, os mansa do Mali são culpados de levarem a si mesmos a guerras civis que ruíram o império. Como consequência, primeiramente, os tuarege atacaram cidades do Mali como Tombuctu, e, também, o florescente Reino Songhai, governado pelo rei Sunni Ali (r. 1464-1492), tomou grande parte dos territórios malianos nos anos 1460.

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Sobre o tradutor

Jonas Tenfen
Jonas é professor de ensino médio no Brasil. Ele dedica sua vida profissional à gramática e à literatura, e ele também trabalha como tradutor e redator.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é autor, pesquisador, historiador e editor em tempo integral. Seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações compartilham. Ele possui mestrado em Filosofia Política e é diretor editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2019, Fevereiro 26). Mansa Muça I [Mansa Musa I]. (J. Tenfen, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-13621/mansa-muca-i/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Mansa Muça I." Traduzido por Jonas Tenfen. World History Encyclopedia. Última modificação Fevereiro 26, 2019. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-13621/mansa-muca-i/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Mansa Muça I." Traduzido por Jonas Tenfen. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 26 Fev 2019. Web. 26 Abr 2024.